Numa altura em que o Homem, esse pedaço de merda que se presume dono da existência de todas as coisas, ao cabo de tantos milénios de inteligência, ainda se encima no vocábulo que, além da individualidade, pretende acobertar o todo pensante e, quando falha, este estupor, atribui a responsabilidade aos desígnios de um Deus que ninguém sabe quem é. A história do emanante imbróglio, apesar de sistematicamente coberta de sangue e miserável desumanidade, tem um trono no Vaticano.
Nos mesmos exactos moldes, também a FIFA, entidade unificadora do Futebol, cujo regulamento ultrapassa as leis constitucionais de cada país, gere, pode e manda no Futebol, cuja deusa, a bola, por mais que a façam e refaçam, ninguém exclusivamente domina. Curioso é, quando o bambúrrio resulta, até se benzem, revelação inequívoca de ignorância, de impotência e de hipocrisia propositadamente exibida.
Mas, bem, imponentemente, com meio planeta a morrer de fome, os países, ditos do mundo civilizado, comungando no melhor dos esforços e em nome da pátria de cada qual, juntaram uma montanha de dinheiro para divertir legiões de otários a ver jogar à bola, atirando-a para ali e para acolá, uma estúpida chuchadeira que, francamente, logo que sob ideia séria se matuta, dá para perguntar aos astros como é possível tal postura em face do permanente desastre em que vivem milhões e milhões de pessoas.
Amanhã, pois, começa o Mundial na Alemanha, um próspero e avançado país que está arrependidíssimo dos males que produziu à humanidade sob a batuta de Hitler, cuja versão actualizada, sem bigode e através de genes espaciais, se mudou para o outro lado do Atântico e continua a matar sem se fartar.
MUNDIALUSINA
António Torre da Guia |