De repente, ao cair comigo no fundo das minhas saudades, impulsionando meu raciocínio à procura de algo que não sei o que seja, de repente, repito eu, surge-me também de rompante no cérebro a interrogação: há quanto tempo não vejo eu realmente uma formiga?... A existência dos bichinhos pequeninos, se eu bem souber conviver com eles, dão-me sinal de que não estou a viver por obra e graça de algum mistério...
Uma mosca, oh, vejo ali e acolá, uma, por mero acaso, ( vão morrendo todas por causa dos fumadores!) mas já não vejo moscas, indiferentes à matéria inteligente, a fazer amor, a faire l´amour, tal como a expressão do benquisto poeta francês que não quis dizer "foker" em inglês.
Já tive a dita de duas moscas pousarem na minha mão a foder.
O poeta português, ao ver o "foker", como o "k" em português não está ainda "oficialmente" admitido, pois, tomou obviamente o "d" de deus e escreveu: foder. Está errado?!...
Eu, meus caros Leitores, tenho a certeza absoluta que fui feito sob um torturado cristo, em polídíssima prata, pendente da cruz, em pau preto, em lastimante pose, enquanto meu pai e minha mãe se derretiam de prazer nesse céu aonde já estive tantas vezes, mas não sei onde é, onde fica, como é ou como se arranja.
Interrogo-me: será uma coisa muito boa não ver há tanto tempo formigas?
De forma alguma quero criticar o poeta que considerou a formiga uma operária a sério e a cigarra uma cantadeira a brincar. A imagem é tão bela, com as quatro estações rodando em cima, que, francamente, não me atrevo a estragar tão belo quadro, quiçá real, naquele tempo em que o inspirado autor já estava farto de seres humanos.
Os seres humanos são uma delícia, pois então não são? Gostam de fingir que brincam com a morte e, logo após, triunfantes, proclamam ao mundo que não morreram.
Ora, esta excelente pedagogia aonde vai dar? Vai dar aqui: salvo os que porventura têm a sorte de sequer saber que morrem, há os que morrem torturados, os ricos, e há os que morrem felizes, os pobres, os tais que Deus acolhe no reino dos céus.
Ai, estimados Leitores, há já algum tempo que não vejo uma formiguinha a sério ou mesmo poeticamente. Cigarras?! Vejo, vejo muitíssimas, cuidando que o ser humano é que é a seara e as formigas aparecem por milagre do "eu-sou-eu"...
Aguenta amigo, tal e qual o figo, sozinho que, se não for colhido, só cai de podre e, mesmo assim, aproveita-se, é docinho e sabe bem.
PS = Desabafo: ai, Zeca, palavra, a formiga é um bichinho "tão-lindo-feio" e está quase a extinguir-se. Zeca?... Caze!... Os pulmões foderam-te.