Mais uma vez ainda, em futebol, através de uma arbitrária grande penalidade que de novo favoreceu a França, as legítimas aspirações portuguesas estão onde devem estar. Quer o "famigerado ladrão", quer o codicioso sistema, continuam sendo os principais decisores na consumação dos resultados.
De ambos os lados, o jogo foi de uma monotonia assaz apagada. Apenas os lampejos individuais de Cristiano conseguiram fazer tremular a chama sobre o exíguo pavio que a França controlou quanto quis e como quis. Os jogadores portugueses, surpreendentemente, deixaram-se bloquear na ardilosa toada que os adversários impuseram.
Viu-se que Pauleta e Deco não deram uma para a luz. Figo não foi luminoso como é seu hábito. Até Ricardo, o milagroso porteiro da pátria, ficou a um centímetro do chuto mortal do carrasco Zidane. Viu-se que no momento crucial a Nossa Senhora de Caravaggio não quis ser influente. Se alguém não viu o que eu vi, pois, seguir-se-à doravante a mesma coisa e o mundo continuará a rodar.
Para ficarmos aonde já tínhamos chegado há quarenta anos, depende da vitória que lograrmos ou não sobre os alemães. Não admira: há pelo menos três décadas que, felizes e satifeitos, não nos fartamos de correr para trás em busca do alarido supérfluo. Todavia, o nosso primeiro ministro congratula-se, os responsáveis técnicos rejubilam, os que bem se abotoam sorriem ironicamente e nós felicitámo-nos todos uns aos outros. Somos deveras uma maioritária e ridícula cambada de mendigos imbecis que nem por isso dá.
António Torre da Guia |