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Artigos-->VOCÊ É O JUIZ -- 08/07/2006 - 20:52 (Antonio Maria Chaom) |
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Dizem que de médico e louco todos temos um pouco. Só de médico
e louco? Nada. Somos um pouco de tudo: psicólogo, pedagogo,
filósofo, advogado, juiz e muito mais. Até de macumbeiro temos
alguma coisa. Pois bem, seleciono neste trabalho meia dúzia de
de historietas retiradas de quase uma centena de casos de que ouvi
falar e convido o leitor a analisar cada um deles e, se desejar, no
final enviar-me um e-mail dando a sua opinião. Não atesto a
veracidade de nenhum dos casos e por esse motivo deixo claro que
os nomes das personagens são fictícios e quaisquer semelhanças
devem ser vistas como simples coincidências. Receber seu e-mail
será um imenso prazer.
Antonio Maria Chaom
chaom@ibest.com.br
IVETE
Fim de tarde de verão. Ivete, uma franzina garota de apenas treze
anos, estava sentada com algumas colegas de vadiagem quando o
caminhão buzinou. Levantou a cabeça e deu com os olhos nos olhos
daquele garotão negro, de lábios carnudos, cabelos lisos... O
caminhão diminuiu a marcha e passou quase parando pelo grupo de
mocinhas. Todas fitaram o rapaz, mas observaram claramente que
seus olhos estavam dirigidos para Ivete.
-Hum, Ivete, namorando, hein?
-Eu!? Eu nem conheço o moço!
-Mas vai conhecê-lo. Vai, sim. Ele olhou pra você com olho de peixe
morto.
-Ora. - desconversou Ivete.
O acontecido ocupou a conversa do grupinho de amigas até que
cada uma fosse para sua casa.
Na tarde seguinte, cuidadosamente Ivete montou planos até que
conseguiu levar as amigas para o mesmo ponto do dia anterior.
Não se sabe se por acaso ou também premeditadamente o
caminhão, quase a mesma hora, passou pelo mesmo trecho. A cena
parecia um "replay". Desta vez Ivete, mesmo se fazendo de rogada,
adorou quando as colegas foram unânimes em afirmar que os
olhares do moço eram para ela. Como na tarde passada, o assunto
foi comentado até à noite.
Tarde do terceiro dia. Matreiramente Ivete inventa mil desculpas
para não acompanhar as amigas no passeio vespertino e, conforme
apostou, as coleguinhas decidem fazer novo itinerário. Assim que o
grupo cobriu-se na esquina oposta à direção do trecho que já
conhecemos, Ivete, coração aos pulos, para lá dirigiu-se quase
correndo. Sentou-se na mesma pedra dos dias anteriores e quando
dispunha-se a esperar... ei-lo. Parecia até que o rapaz a estava
observando de algum ponto.
O caminhão aproximou-se vagarosamente e parou diante da
garota. Quase deitado sobre o assento, o jovem motorista abriu a
porta do "carona" e, sem nenhuma cerimônia, chamou:
-Ei, vem cá. Como é teu nome?
Igualmente sem cerimônia a garota aproximou-se.
-Ivete, por quê?
-O meu é Nino. Sobe. - convidou o garotão de mais ou menos
dezenove anos.
-Subir? Subir pra quê? - arriscou a espevitada.
-Pra gente conversar melhor.
Ivete olhou o tórax do nu do rapaz, desceu os olhos para o pequeno
calção verde e observou-lhe demoradamente as coxas grossas e
peludas.
-Sei não!
-Sobe, ora. Que é que tem de mal? Eu num vou te raptar não. Só
quero conversar. Aliás, tu também tás doida pra conversar comigo.
-Convencido.
-E aí? Vai subir?
-Tá bom, tá bom. - disse a garota subindo de um só impulso -
Pronto, já estou aqui, o que é que você quer?
-Você é muito bonitinha.
-Sou? ´Brigada.
-´Tás me deixando louco. Meu coração vai explodir. Deixa eu te
mostrar.
Tomou a mão da garota e a colocou sobre seu ventre, apertando-o
em volta de pênis rígido.
-O coração não é aí. - balbuciou a menina.
-É parte dele. É um pedacinho do coração. O pedacinho mais doido
e mais importante do coração.
Ainda segurando a mão da garota, Nino levantou a bunda do
assento e com a mão esquerda puxou calção e cueca até às coxas.
Ivete arregalou os olhos diante daquele pedaço de carne negra que
pulara para fora. Pregou os olhos naquela extremidade arroxeada
que mostrava algumas gotas de um líquido brilhante e não teve
qualquer reação quando sua mão foi colocada em volta daquele
mastro. Sentiu-o quente, pulsante e... sua mão, comandada pela
de Nino, subia e descia carregando a pele que já não cobria aquela
cabeça que parecia querer explodir.
De repente o rapaz a puxou com força por sobre seu corpo e a
beijou com violência. Ato contínuo empurrou-lhe a cabeça para
baixo fazendo com seu rosto fosse de encontro ao membro duro.
Ivete estava assustada, mas não conseguia reagir. Sentiu a carne
quente do membro tocar-lhe a face e aspirou-lhe o cheiro do
macho. Estava meio hipnotizada e permitiu que a mão de Nino
guiasse aquele instrumento pecaminoso para sua boca. Sentiu a
cabeçorra resvalar sobre seus lábios umedecendo-o com aquele
líquido morno e pegajoso.
- Abre a boca - ordenou o rapaz ofegante.
Foi como se de repente ela acordasse.
- Não. Por favor, não.
Nino não insistiu, apenas soltou sua cabeça e a olhou nos olhos.
Sorria. Um sorriso diferente, como de alguém alucinado. Sempre
sorrindo, aproximou a mão da alavanca de câmbio do caminhão,
engatou uma marcha e arrancou pela pista.
- Ei, o que você ´tá fazendo!? - gritou a menina.
- Vamos passear um pouco.
- Passear? Passear por onde!? Eu não. quero passear
- Besteira, menina, vamos tomar um banho logo ali na frente.
- Tomar banho!? Não! Pare, pare! Por favor, pare!
- No rio eu paro.
- Se você não parar eu pulo - gritou Ivete, escancarando a porta do
seu lado.
- Você ´tá doida? Quer morrer? Deixe pra morrer depois que eu
gozar.
- Por favor, pare.
- Calma, eu paro logo ali. Você vai adorar, vai morrer de gozar, vai
se desmanchar debaixo de mim...
- Para, moço, pelo amor de Deus! - desesperou-se a garota.
- Calma, porra. Deixa de grito. ´Tá chamando a atenção daquele
pessoal ali.
Ivete notou um pequeno aglomerado de pessoas à beira do asfalto e
viu ali sua salvação.
- Eu vou... vou...
Não completou a frase e seu corpo precipitou-se pela porta do
veículo, indo de encontro ao piso asfáltico por onde rolou vários
metros, antes de silenciar.
Nino sentiu o tamanho da tragédia e aumentou a velocidade do
caminhão, ultrapassando o grupo de pessoas que agora corria para
o local onde a mocinha agonizava.
Seis meses depois Nino retornou à cidade devidamente
acompanhado por um advogado. Não sei, ninguém sabe o que ficou
resolvido. Sabe-se, porém, que todas as tardes o caminhão passa
pelo mesmo local, quem sabe, a procura de uma nova Ivete.
E Vossa Excelência, Meritíssimo Juiz, o que tem a dizer?
Opine: chaom@ibest.com.br
O EXTERMINADOR DE ALCOÓLATRAS
1º Caso
- Vá, seu minino, bote uma bícola pra eu. - insistiu o bêbado.
- Vai te deitar num canto, ô Goiaba.
- Aí, sô goiaba, mas num sô da tua horta, eh, eh.
Todos riram do gracejo do bêbado que acabou ganhando o direito a
uma pinga.
- Bota aí, seu Nico, bota uma lapada pro Goiaba. É a primeira do
dia, Goiaba.
- É o café da manhã - respondeu o bêbado espalhando seu mau
hálito pelo salão.
Seu Nico, o dono da venda começou a atender o pedido quando Zé
Roberto, filho de um comerciante de porte médio (grande para o
lugarejo) entrou na conversa.
- Deixa aí, seu Nico. A pinga do Goiaba quem sabe botar sou eu.
Com a ousadia que sempre portou, Zé Roberto passou para o lado
do vendedor e de posse do maior copo da casa começou a preparar
a tal dose. De todas as bebidas alcoólicas existentes no bar colocou
uma pequena porção até deixar o copo meio, completando-o com
álcool etílico, usado para limpar os vidros do balcão. Com um
sorriso diabólico chamou o pobre bêbado e o induziu:
- Toma aí, Goiaba. Num ´tás com sede. Bebe tudo. Num pode tirar
da boca... é um gole só... e se cuspir apanha.
- Oxe, Zé Roberto, assim é pra se lascar que nem pé cabra. Aqui dá
cinco lapada.
- Lapada você vai levar se num beber tudo duma vez.
- Ah, assim num dá - retrucou o miserável de copo em punho.
- O quê!? Depois d´eu ter o trabalho de fazer a dose!? Vai, porra,
bebe - gritou o desordeiro, enquanto torcia a pele da barriga do
pobre Goiaba.
- Tá bom, tá bom: eu bebo - e levou o copo à boca, solvendo até a
última gota.
Foi realmente a última gota. Depois de ingerir a terrível mistura,
Goiaba saiu do bar cambaleante, olhos esbugalhados e boca
escancarada em busca de ar. Atravessou a rua vacilando e desabou
no ponto de ônibus em frente ao bar.
Zé Roberto bebia uma cerveja com um policial e outros amigos
quando o enterro do indigente Goiaba passou. Eram quatro horas
da tarde.
2º Caso
Domingo de carnaval. Na calçada do bar, sob um sol de quase 40°,
Muchinga, um pacato beberrão da cidade, dormia a cachaça da
manhã de baderna.
Pela rua os foliões brincavam o "mela-mela", sujando uns aos
outros com os mais variados produtos, quase sempre
completamente inofensivos à saúde. Foi quando Zé Roberto deu
com os olhos em Muchinga e não teve dúvida: afastou-se dos
amigos e voltou minutos depois carregando uma lata com uma boa
quantidade de betume, usado no recapeamento das ruas.
Aproximou-se de Muchinga e virou-lhe o corpo na calçada quente.
Um filete de baba escorria do condenado e ela balbuciou algo
desconexo num misto de desagrado e resignação.
Com um sorriso perverso nos lábios Zé Roberto segurou o bêbado
pelo cabelo, de forma que o mesmo não virasse o rosto, e despejou
sobre ele o conteúdo da lata. Em pouquíssimo tempo o rosto do
beberrão era uma máscara preta onde olhos, nariz e boca
tornaram-se quase imperceptíveis.
Indiferente às contorções do bêbado sobre a calçada, Zé Roberto
caiu na folia de onde só voltou ao anoitecer, bêbado, mas solidário:
ajudou a colocar o corpo de Muchinga na caçamba do caminhão da
prefeitura.
3º Caso
- Quer tomar uma, Malagueta?
- Tem aí, seu izé?
- Tem. Trouxe pra você mesmo.. com direito a tiragosto.
O bêbado riu e encheu a boca d´água com a visão do copo na mão
direita de Zé Roberto.
- Se é minha, passe pra cá. - apressou-se o viciado.
Zé Roberto, como num ritual satânico, aproximou rapidamente um
peixe frito do nariz de Malagueta.
- Hum... tá no ponto: cherosim, cherosim.
- Toma, dá uma mordida no peixe e depois eu dou a pinga.
- Oxe, seu izé, primêro a pinga móde abrir as vontade...
- Não. Primeiro o peixe... é pra forrar o estômago.
Na ânsia de engolir a bebida, Malagueta quase arrancou o peixe da
mão de Zé Roberto. Levou o "petisco" à boca e deu-lhe uma
mordida voraz. Deu um berro, abriu a boca pastosa e exibiu a
língua branca e imunda.
- Orra, pimenta da peste, seu izé.
- Toma, toma... engole que passa - apressou-se Zé Roberto em
entregar-lhe o copo com a bebida.
Completamente fora de si pelo terrível ardor da pimenta, Malagueta
esvaziou o copo sem dar-se conta de que bebia querosene.
Sem fôlego, bateu na frente de um carro parado, deslizou pelo capô
do veículo e estatelou-se no calçamento. Zé Roberto, animado pela
hedionda cena, atravessou a rua aos berros de que "Malagueta foi
atropelado por um carro parado". Entrou numa bodega de onde
voltou trazendo uma vela e uma caixa de fósforo. Ajoelhou-se ao
lado do infeliz, acendeu a vela e cinicamente declarou: "não se
pode deixar um cristão morrer sem luz"
Conclusão
Zé Roberto, o exterminador de alcóolatras, continua vivo, leve e
solto. Sempre "pronto a ´matar a sede` de quem deseja beber".
O que faria Vossa Excelência, se os casos relatados chegassem a
sua Vara, Meritíssimo Juiz?
Opine: chaom@ibest.com.br
PELO MENOS A FARINHA NÃO QUEIMOU
Nove e da manhã dona Madal, uma anciã deficiente de uma perna,
entrou na casa de farinha e avisou a Isidoro:
- Cumpade, cumade precisa de ajuda. O minino num vai esperar,
não. O sinhô tira essa fornada de farinha e vai chamar Sinhá
Dasdô...
- Ainda tem ôta fornada, nun tá vendo?
- Tô, cumpade, eu tô veno qui inda tem massa no cocho, mas cumo
tô dizeno: o sinhô tira essa fornada qui já tá seca e vai buscá Sinhá
Dasdô.
- E deixá o forno "pejar"... depois quem é qui vai buscar lenha pra
cumeçar tudo de novo. Tô ficano véio, cumade, mas besta não.
- Mas, cumpade...
- Num ten cumpade, nem meio cumpade! Quem sabe da casa é o
rato... se eu num terminar a merda dessa farinha quem é qui vai
butá cumê incasa?
- Cumpade, é o seu fio qui tá panacer...
- Fio... merda de fio... purmim tanto fai nascer cumo ficá
inganchado...
- Vixe. Cumpade, diguisso não!
- A senhora tá se metendo muito, cumade. Vá arrastá seus quarto
pra lá...
Dona Madal engoliu em seco e lá se foi de volta ao casebre...
realmente quase arrastando a bunda pela estrada. Foi, mas meia
hora depois estava de volta.
- Cumpade, pelamódedeus, a cumade vai se acabá.
- Cumade qui peste eu posso fazê? - berrou o brutamontes - Essa
aqui é a darradêra prensa de massa, a farinha inda tá mole, a
senhora vai mexê preu ir chamar a partêra ou dêxo queimar tudo?
Mi responda!
- Vá, home, vá buscá Sinha Dasdô. A vida di minha cumade num se
compara com uma prensa de massa... mexê eu num posso, mas
Deus há de lhe dá em dobro a farinha qui vai si queimar.
- É cada uma! Eu vô buscar peste de partêra e despoi fico
isperando qui Deus mande farinha pra mim... Vai, Zidoro, vai...
Dona Madal mais uma vez retornou a casa onde a pobre mulher
acabava de morrer de parto. Não demorou-se lá e novamente
Izidoro a avistou vindo em direção à casa de farinha. Preparou-se
para dizer-lhe poucas e boas, mas a anciã passou direto, pegando
em seguida a pequena estrada que levava à cidade.
Na cidade foi direto à delegacia e relatou todo o ocorrido. Depois de
ouví-la, um policial gordo interrompeu o jogo de dominó onde
estivera entretido, levantou a cabeça medonha e perguntou-lhe:
- E a farinha? A farinha queimou?
Atônita, Dona Madal respondeu negativamente.
- Ainda bem. Diga o Zidoro que amanhã deixe uma cuia e meia de
farinha aqui na delegacia. Vou cumê um pirão de buchada essa
semana.
Como não dissesse mais nada, Dona Madal entendeu o que não
podia compreender e saiu se arrastando de volta ao sítio.
Meritíssimo, como agiria Vossa Excelência com Izidoro e o
famigerado policial?
Opine: chaom@interala.com chaom@ibest.com.br
A ISCA
Logo da porta escutou o choro abafado do filho.
- Qui foi qui ôve, Toim?
- Nada, não, pai. Nada, não.
- E móde o quê ´tais chorano? ´Tais cum fome?
O rapazinho de somente quinze anos abafou os soluços e continuou
no seu canto.
- Ô Mélha... - gritou em direção a cozinha - Qué quesse minino
tem?
Dona Amélia continuou assoprando o fogo de lenha.
- Ficasse môca mulé? Móde o quê Toim tá chorano?
A mulher ia continuar calada, de repente virou-se e desembuchou:
- Escuta aqui, Bastião: esse minino é teimoso quinem mula... tu
sabe... quem mexe cum fogo si queima.
- Ah, tu desse umas lamborada no rabo dele... coisa boa.
Ia saindo da cozinha quando cismou:
- Ou num foi isso? Vai, mulé, fala duma veis!
- Bastião, pelamórdedeus, num vai fazer nada não, véio.
- O que foi, mulé? Fala.
- Toim foi tirá umas goiabas no sítio do sô Tibuço e o fio do véi deu
in Toim.
- Cuma foi? Tu num tem veigonha não, Toim, apanhar dum cabrito
cumo o fio de sô Tibuço?
- Cabrito nada, Bastião. Num foi o Dudé, foi o fio grande dele, o sô
Elói.
- O que!? O Elói!? Isso é verdade, Toim?
- É, pai. Mai dêxe pra lá, eu tava errado mermo.
- Errado ou certo o Elói vai se acertá cumigo agora. Vai, talavanta
daí e vamo lá. Quero vê se ele dá intu de novo.
- Não, pai.
- Tais cumedo, fio duma puta. Ele ti pariu pra dá intu? ´Bora lá.
- Não, Bastião. Toim num vai. Tu qué brigá vai sozinho.
- E tu vai mimpatá de levá Toim lá, vai?
- Vou. O fio é meu.
- Ah é? E quem sustenta esse priguiçoso? Cumeu do meu pirão
prova do meu cinturão.
- Pois ele num vai
- Lavanta, Toim.
- Dêxa o minino, Bastião. Ele sabe o qui passou.
- Purisso mermo. ´Tá certo qui isso num é meu fio, mai eu criei e
cria minha tem honra, num vai ficar apanhado feito cachorro sem
dono.
- Mai eu num quero quele vá.
12
- Tu lá tem querê.
Sebastião reuniu toda sua brutalidade e arrancou o pobre menino
do catre. Aos safanões conduziu o coitado ao terreiro de onde
voltou, deu garra da espingarda e os dois se foram em direção ao
sítio do vizinho. Da porta, impotente, dona Amélia rogava aos
santos proteção para o filho e o inconseqüente marido.
Pelo caminho Sebastião foi instruindo o garoto que, roxo de medo,
rezava baixinho para que o desafeto não estivesse em casa.
Já no terreiro da casa do tal Elói, Sebastião , aproveitando-se das
primeiras sombras da noite, escondeu-se atrás de uma touceira de
papoulas, enquanto o menino aproximou-se da porta casa e gritou
com voz trêmula:
- Sô Elói, eu tô aqui, venha dá nimim de novo.
Nenhuma resposta veio da morada e o menino ia suspirando
aliviado quando viu a figura de Elói desenhar-se na porta. O resto
das forças do garoto não foi suficiente para retroceder e correr em
busca de proteção. Com os olhos arregalados viu Elói estirar a mão
em sua direção. Nela um revólver. Toínho apenas ouviu o
estampido e sentiu que algo rasgava-lhe o peito, enquanto uma
força o jogava de costas no chão. Não sentiu nenhuma dor, apenas
lembrou-se da mãe e uma lágrima escorreu-lhe do olho direito.
Puxou o ar pela última vez e o exalou antes que chegasse ao
pulmão.
Elói, com a frieza dos insanos, abriu a parte inferior da porta,
desceu os dois degraus que separava a casa do terreiro e caminhou
lentamente para o moleque no chão. Queria conferir a pontaria.
Não chegou a fazê-lo: uma descarga de chumbo quente o derrubou
a alguns passos do corpo de sua vítima.
Sebastião saiu do esconderijo e em passos largos pegou a estrada
que o levaria à Fazenda do Major Pepe. Diante do major relatou o
ocorrido e recebeu o apoio do velho fazendeiro:
- Muito bem, Bastião, você lavou com sangue a honra do seu
enteado.
Ao saber do acontecido Dona Amélia teve uma parada cardíaca,
morreu e foi sepultada numa rede azul doada por um vizinho.
Sebastião até hoje é "homem de confiança" do Major. Dizem que
ganha bem e que é muito feliz.
O que o Meritíssimo tem a nos dizer sobre a vingança de Sebastião?
Opine:
chaom@ibest.com.br
SOBRE O AUTOR E SUA OBRA
Antonio Maria Chaom é alagoano, de Joaquim Gomes, nasceu
em 25/07/58, filho de Antonio Marques de Omena e Maria Chagas
de Omena, ex-agricultores, e tem como meta de vida a defesa das
minorias, porém sem participação na política partidária.
Seu nome verdadeiro é Joaquim Chagas de Omena e tem 48 anos (1958).
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