Um pouco tarde, mas suficientemente ainda a tempo de experimentar a aprazível sensação da tranquílidade consciente, de uma vez por todas, tive de reconhecer que os meus inimigos e as pessoas de quem à primeira vista, por isto ou por aquilo, não gosto, têm méritos e qualidades notáveis.
Sabe-se que, tal como vai o fenómeno futebolístico, o doutor Pacheco Pereira acha que a modalidade é um engulho social, espécie de fogo fátuo, algo de supérfluo que se expande e fomenta o miserabilismo. Isto de forma alguma quer dizer que o nosso crítico não aprecie as emoções do jogo enquanto desporto.
Ora, dada a legião lusófona que em abrupta cegueira seguiu as peripécias das selecções de Angola, Brasil e Portugal no Mundial 2006, o doutor Pacheco Pereira considera estarmos perante um Titanic que a pouco e pouco mais se afunda perante uma orquestra televisiva que vai tocando para entreter e iludir os estúpidos passageiros.
Claro, outro tanto relacionando, não posso negar que o paradigma tem cabimento. Mais: no caso, a maioria dos passageiros sequer imagina que vai andando pelo seu pé para o fundo do mar.
Quantos biliões de marcianos estarão dispostos a pagar para verem os habitantes da terra a jogar futebol?!...
António Torre da Guia
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