O ímpio caso
Quiçá, logo que suficientemente o tempo faça apodrecer as bisagras que se aperraram sobre o náuseo vómito casapiano, haverá alguém que, com sábia e fluente tecla, logre o maior dos êxitos literários em português, o best-seller que porá ao léu, nu e cru, o nome exacto das bestas que deveras se envolveram na sodomizante laceração de centenas de garotos sem eira nem beira.
Estando-se em face de uma enormíssima serpente, cuja dimensão, pelo menos judicialmente nunca se determinará, o monstro arrasta-se pleno de esconsa escamação, afectando inclusive a honra e a dignidade das pessoas que com denodo se bateram pelo esclarecimento.
Ao longo dos anos o processo avolumou-se babélico, produzindo mastodontes que se foram diluindo entre a mestria daqueles que conseguiram demonstrar que os jovenzinhos prostitutos constituíam um dado adquirido que o Estado deveria assumir. E o Estado assumiu. Só que, queira-se ou não se queira, em tão dantesca cena, o Estado não é o dos portugueses e, cedo ou tarde, alguém revelará quem estava por cima e por baixo do bode expiatório, espécie de sanduíche putrefacta que fará milhões de leitores entrar em imediato pesadelo.
Torre da Guia / Porto |