Fiquei a pensar sobre o que escrever. Parece que penso mais rápido do que escrevo. Se não registro no momento em que as idéias me invadem, elas se esvaem...
De repente, me dou conta de que há muito a escrever. O problema tornou-se outro: qual o assunto que pode ser escolhido para refletir?
- Fim de Copa que diminuiu a alegria do povo que se agarra a este esporte como um Tarzan ao cipó?
- Início de campanha eleitoral que mantém como objetivo principal a sedução para atrair eleitores?
- Comentar sobre a guerra Líbano/Israel, e a dor que ela proporciona?
Ligar a televisão basta para que todos tenhamos noções destes temas.
Penso, escolho:
- falar sobre os que se foram esta semana e deixaram rastros dignos, de arte verdadeira,
- falar sobre aqueles que fizeram do teatro um lugar de alquimia,
- falar sobre o provável sentimento que os levava a desnudarem-se da própria identidade incorporando outra,
- falar daqueles que fizeram do palco um território de real beleza, de transparência,
- falar daqueles que foram transmissores do saber artístico,
- falar daqueles que usando metáforas nos passaram sábias mensagens,
é o que gostaria de falar; mas me inibo diante destas personalidades que atuaram, que denunciaram, que serviram de modelos, que se debateram muitas vezes mediante a hipócrita sociedade.
Como faço parte do mundo que usa preto apenas no enterro da esperança, da igualdade, da honestidade, da lealdade, consigo distanciar-me e perceber o quão atual está a denúncia de 1958 – “Eles Não Usam Black-Tie” pois continuamos a comer o “Pão que o Diabo Amassou” de 1957 onde a riqueza ilícita desmorona não só a família como todo o país.
Atenho-me portanto, somente a reverenciar Raul Cortez e Gianfrancesco Guarnieri, transcrevendo que o povo brasileiro que veio
“... de tanta desgraça muito pode (posso) ensinar
que valentia pode (posso) emprestar
mas liberdade só pode (posso) esperar ... “ (Upa Neguinho, Guarnieri)
Reverencio Guarnieri que ao abordar a “liberdade” nos faz pensar que continuamos a esperá-la ... continuamos aprisionados pelo analfabetismo, pela fome, pelas estratégias políticas, pela enorme desigualdade ...