Fala-se em CPI, escreve-se sobre educação, pondera-se acerca das relações homem/mulher, comenta-se sobre lazeres, bens de consumo, moda feminina/masculina, culinária, notícias nacionais e internacionais através dos inúmeros meios de comunicação. O universo é de tal monta que seria impossível enumerar temas, assuntos, reportagens, tópicos abordados. Parabenizo toda a imprensa, sustentáculo deste conhecimento disponível à população. Além disso, atualmente podemos grifar a função que, embora já estivesse configurada há tempos, enfatizou-se mais: o trabalho investigativo.
Por não ter domínio quanto à nomenclatura acerca da estratificação social, chamarei de “classe média” às pessoas possuidoras dos instrumentos necessários para contatar o meio jornalístico ou seja, uma camada privilegiada que constitui um reduzidíssimo número de brasileiros. Embora sem grandes novidades, (assunto que veicula com freqüência), de acordo com http://klickeducacao.com.br que fornece dados de fontes oficiais, em 2002, de 174 milhões de brasileiros, 54 milhões tem renda familiar entre zero e R$ 400,00 por mês, portanto ouso afirmar que um terço está afastada do campo noticiário. Alargando um pouco mais este número, 110 milhões tem renda familiar até R$ 1.000,00; diria que dificilmente estas pessoas, portanto, mais da metade deste país (que encanta visitantes pelo primor da natureza) , tem acesso aos meios de comunicação. E, caso tenham, será que a bagagem cultural que os acompanha permite inferências, comparações, interpretação do que estão ouvindo ou lendo?
Em cima disto, faço conjecturas: a quem os jornalistas e/ou comunicadores se dirigem? Para quem relatam? A quem atingem? À quem se predispõe a ilustrar? Creio ser uma resposta óbvia ...
Porque ainda não surgiu uma estratégia jornalística para atender a maioria, que “fale” a linguagem destas pessoas, que forneça cultura, que se disponibilize a usar recursos diferenciados, com abordagens relevantes a esta imensa maioria, aproximando-os da sociedade minoritária? Por que a ausência de publicações ilustrativas a partir do conhecimento que possuem, trocando Daslu pela valorização de outros hábitos, substituindo Fasano para introduzir idéias possíveis de serem aproveitadas na cozinha doméstica, historiando em quadrinhos personagens que compõe a realidade em que vivem, traduzindo as notícias nacionais/internacionais para um linguajar possível de ser entendido? Porque a ausência total da mídia que poderia estar atendendo interesses desta população? Ressalto que não estou traçando comentários acerca da classe de jornalistas e sim, enfatizando a total displicência de investimento da minoria empresarial e do campo político.
Eu perguntei e creio que saiba responder, sem me achar pretensiosa: porque não interessa oferecer conhecimento, porque não há volta financeira, porque é bom ficar do jeito que está, porque a capacidade de manipulação aumenta, porque manter a ignorância sobre o que faz um deputado, qual a função de um senador, como se estrutura a política ... é vantajoso.
Das inúmeras situações de humor que surgem, expondo mais uma vez a já incorporada brincadeira brasileira, agora voltada para o momento político que atravessamos, o autor maior desta tragédia, conseguiu a proeza de brincar com a verdade; referiu-se no último dia 26, em discurso aberto: “ porque vocês não lêem jornais, eu tou aqui pra dizer pra vocês ...”