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Artigos-->DESCARTÁVEL? SOU DO TEMPO ... -- 24/07/2006 - 20:10 (Eneida Souza Cintra) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




DESCARTÁVEL?

SOU DO TEMPO...



Nasci no tempo em que o leite era engarrafado, onde o armazém com caderneta era o lugar de comprar arroz, feijão, batata e cebola, acolhidos pelo senhor José que através de um “dedinho de prosa” dávamos e recebíamos notícias das famílias. Atualmente temos os supermercados que nos pergunta com frases memorizadas: “tem o cartão da casa? Faltou algum produto?”



Cresci ouvindo exaltações ao funcionário público que, dedicado ao trabalho, traçava comentários sobre sua jornada, orgulhava-se de nunca haver faltado e de sempre cumprir horário. Atualmente há os “contratados”, o “livro de ponto” sumiu e o melhor estado de humor é calcado no quinto dia útil de cada mês.



Estudei em escola pública vestindo orgulhosamente o blusão com distintivo bordado onde se recebia os professores em pé, estudava-se latim e francês, cantava-se o Hino Nacional, tendo a semana 6 dias úteis; descanso era apenas aos domingos. Atualmente, o ensino passou a ser ministrado por empresas que competem entre si, que seduzem com atrativos, que visam alunos pagantes; o estado esqueceu que a educação acadêmica deve atingir a todos por igual, desprestigiando professores, responsáveis pela base cultural do país.



Vivenciei a disciplina e a responsabilidade: eram nossos guias. As leis eram cumpridas, não se questionava pai, mãe ou professor: acatava-se. A virgindade era sagrada e os ritos de passagem existiam: quando usar batom, meia de seda, sapato de salto ou calça comprida para os garotos. Atualmente: o “tudo pode” impera, o “não” saiu do dicionário, o beijo amoroso deu lugar ao “beijo ficante”; a virgindade saiu da moda e a gravidez prematura é delegada à familia.



Assistir à sessão “zig zag” no cine Metro, nas manhãs de domingo, acompanhada pelos pais, significava investimento afetivo. Atualmente: o “vai assistir televisão” substitui a “chatice” dos filhos por momentos de “sossego”.



Faço paralelos e registro estas mudanças. Melhorou? Piorou? Não sei ... como quase tudo há prós e contras ... não há como ajuizar. Apenas pondero com certa direcionalidade sobre a presença do descartável (canetas, relógios, objetos plásticos) que se por um lado facilitou a aquisição, expandiu mercado de trabalho, por outro lado, fez desaparecer o papel do “objeto transacional” , tão importante para as relações humanas, que tomava esta conotação ao presentearmos alguém.



Infelizmente, constato que o amor, o afeto, a amizade também passaram a ser descartáveis ...











A balança era manual

As contas eram feitas com lápis e papel

Havia o primeiro baile, a caneta tinteiro, o relógio



A tuberculose matava e a pneumonia, temidíssima.

Em que a ausência da televisão propicia visitas entre as famílias

Em que profissões havia: sapateiro, costureira, afiador de facas

O grande evento das primeiras máquinas de escrever elétricas

Ouvindo o rádio da minha tia ouvindo as risadas da minha tia com o humor do rádio.

Sessão zig-zag do cine Metro, às dez horas da manhã do domingo: meu pai, enquanto a mãe preparava o almoço que reunia avós e tios (manhãs de Domingo) os singelos desenhos do Walt Dizney mostrando a luta saudável pela vida através dos personagens gato e rato. Um grande programa!





Mudanças sempre ocorreram...é o processo natural da vida...as transformações acontecem...os pesquisadores se sobressaem às descobertas...





Será que para mudar

Infelizmente, com as mudanças “físicas” também surgiram mudanças de conduta e não só de conduta, como de moral: respeito, honestidade, auxílio ao outro, a delicadeza humana, as “fio do bigode” meu avô.



Descartável:

Caneta Bic

Relógio de curta vida

Discos copiados

Filmes gravados

Pirataria

Vivi intensamente



Antes: conservação; conserto; cultivava-se

Hoje: descarte, joga-se fora, não se preserva.



Profissões recicladas: sapateiro, amolador de faca, comprador de roupa. Morte !!!!



Informática, Web, Internet, computadores: Viva!!!!



Será impossível a convivência? Temos que “arrasar” para construir? Não se soma?

Autores desprestigiados= xerox, copia de gravação; respeitado; onde o respeito era a palavra de ordem

Afeto aos objetos?











































































DESCARTÁVEL



* Eneida Souza Cintra





Nos idos anos cinqüenta foi estabelecida a expressão “objeto transacional”, para o cobertorzinho, o “paninho”, o ursinho, que a criança gosta de carregar de lá para cá, principalmente na ausência materna ou quando depara-se com um ambiente estranho. Este objeto para as crianças, é a representação de afeto, dando-lhe segurança, representando aquilo que para ela, é conhecido; é como se “carregasse” sua mãe junto. Mesmo considerando que, paulatinamente esse objeto é deixado de lado, serviu como amparo em determinadas situações.



O que foi um retrato reproduzido por grandes pintores, ou o que é, uma fotografia nos tempos de hoje? É o registro de momentos felizes, engraçados, importantes, imponentes ou até carregados de dor, e que passam a ter mais valor com o passar do tempo. Folhear um álbum de algumas décadas, significa uma das formas de voltar ao passado, tendo-o vivido ou tomar conhecimento daquilo que não participou. São histórias familiares, indicativos de uma construção. Pergunto-me: não serão nossos objetos transacionais, com outra roupagem?



Anos sessenta, dentro da extinta classe média, a então famosa caneta Parker , presenteada por nossos pais ou avós, vinha contaminada de sentimento caloroso, com significado de perpetuação para nossas lembranças. Hoje, temos a “Bic” e similares que troca de mão a todo instante: ou a perdemos ou pegamos de outrem sem sequer darmos conta. Temos a presença do descartável, excluindo a transação amorosa entre pessoas, que acontecia através de objetos.



Um relógio, comprado a prestação, buscando a melhor marca da época “Omega”, é atualmente comprado em camelôs, desprezando-o tão logo não corresponda às horas corretamente. Temos a presença do descartável. Evidentemente, não me refiro aos mais abonados que mantém seu padrão até em ouro mas, que denota na maior parte das vezes, uma honraria superficial, por algum posto conquistado, nessa sociedade que preza cada vez mais o sucesso profissional como sinônimo de felicidade.



São inúmeros os exemplos de historias construídas através de objetos, que trazem recordações carregados de afeto, de residências que foram lares, onde se criaram filhos, com a presença da avó ou avô que faziam parte da família, como arquivos vivos.



Vejo que o descartável, surgido para dar maior praticidade na vida moderna, influenciou as conquistas rápidas substituindo as construções, impôs a ausência







dos rituais, colocou o imediatismo em lugar de destaque, a solução ligeira como característica honrosa.



Há algo contra o maquinário moderno? Contra o retrato que virou fotografia e que acabou sendo reduzido a foto, que na hora, é imediatamente deletada para se tirar outra, pois a primeira não ficou perfeita? Não ... conviver com o atual é acompanhar o progresso.



A minha pontuação, um tanto pesarosa, é quando percebo que o ser humano também passou a ser descartável, junto com os objetos que não são mais transacionais de afeto. Quando ouço: “vamos enxugar a empresa; o investimento que fizemos na tecnologia, vai reduzir nossos custos, dispensando funcionários”. Quando escuto de empresários: “não está agradando ... mande embora e contrate outro ... “. Quando percebo que há lugares que hospedam nossos velhos; quando percebo crianças sendo literalmente divididas entre os pais que se separam,( “este é o domingo de você ficar com eles ou podemos trocar este fim de semana pelo outro pois tenho um compromisso?). Quando ouço em consultório: a gente vai morar junto porque se não der certo fica mais fácil separar ... entrando numa relação já com esta predisposição.



Não só o ser humano passou a ser descartável, mas o afeto também ...



















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