Perguntei a alguém certa vez para que servia uma janela; espantada, esta pessoa respondeu: “Ora, para entrar ar e luz”. Concordei mas esta resposta não me satisfez. Queria ouvir algo a mais. Discutimos um pouco e não consegui meu intento. Insistí mais um pouco: além do ar e da luz, o que vê numa janela? Nova frustração.
Pensei comigo: como é difícil explicar aquilo que não se vê ... apenas se sente ...
Percebi naquele momento que haviam duas janelas: a da pessoa que conversava comigo que estava fechada, arrolhada e a minha que naquele momento, por estar aberta, via muito além do horizonte: percebia a limitação da vida, o enxergar através de, a relação entre o interno e o externo e, por que não, a citada luz que vem ao nosso encontro?
Percebi também que as janelas se abrem e se fecham em consonância com “ver a vida”. Caminhei um pouco mais nas minhas divagações e retrocedi ao passado: quantas e quantas vezes tive minha janela fechada?
Relembrei-me também da antiga função que este aparato deve ter tido ao perceber que minha memória me reportava a um passado recolhido em museus: a presença das conversadeiras. Tentei fazer a conexão com o hoje. A imperiosa necessidade do ser humano em comunicar-se me pareceu ser o elo. Eis o porque cá estou.