Ao mesmo tempo que te escrevo, Milazul, escrevo também para o jornal 24 Horas, a pérola quotidiana do Tadeu e o mais perolífero-letrinhas do meu país, esta quilhazinha de Europa que há quinhentos anos não se atreve, além do mar, partir para o céu, rumo à promissão dos planetas suspensos no Universo do pensamento.
O 24 Horas, querida Amiga, espécie de The Sun, tem em Portugal dois arrebóis: sabe bem lê-lo ao levantar, sabe bem lê-lo ao deitar. De manhã, num rápido ápice, abarca-se quanto o dia anterior trouxe à vidinha portuguesa prazer ou dor. À noitinha, entre a penumbra e a luz calma de candeeiro, saboreiam-se os anúncios da felicidade ou os abrenúncios do povinho do Zé.
O Vasco Polido Valente, consagrado arauto viperino da atmosfera em vigor, há tempos, considerou o 24 Horas um pasquim, consideração esta idêntica à do Almada Negreiros quando, por lícita inveja pulhante, decidiu rebaixar o Albino Forjaz de Sampaio, outorgando-lhe a divisa de "raquitico com presumido talento", uma farpa que ainda mais projectou para a ribalta dos olhares o autor das "Palavras Cínicas".
Todavia, quer um quer outro, em épocas tão diferentes, não o fizeram por prévia e bem alicerçada inteligência, mas tão-só porque os génios são todos mauzinhos e assaz embaraçantes.
Um beijinho com 24 horas de duração, todos os dias. |