Agora... medita-se, encosta-se a alma mais ao corpo, suaviza-se com a imaginação a dor e a mazela, revive-se cerebralmente em câmara lenta e de fio a pavio as imagens que ficaram registadas na consciência.
Tem graça que, após o pior, quando se está melhorando e se vai logrando a ascensão ao estado ideal, fica-se muito pior e mais desumanizado. As sucessivas situações desagradáveis avolumam-se num monstruoso todo que faz quanto pode para disfarçar o que deveras é. Os semelhantes começam por transformar-se em sombras uniformes, todas a mesma coisa. Reolham-se as excepções, que restam sentadas à mesa da memória, com medo que elas se levantem e transformem em sombras também. Afaga-se mais consoladora e tenazmente os gatos e os cães. Sobretudo, teme-se cada vez menos a morte e impera a vontade de matar.
Palavra, sem qualquer espécie de anodinismo ou conveniente salvaguarda social, não posso ser mais sincero ao revelar sem delongas o sentimento que me fica da óbvia ocorrência.
Tem uma vez mais graça que o desejo de matar não cegue, desviando-se dos efectivos algozes para colocar-se face a face com a propositada sistematização que explora a justiça e subverte a dignidade humana.
E agora, António?!...
Agora, vejo ali uma criança que rodopia e volteia feliz. Não tem bola, cavalo de pau, qualquer brinquedo ou pomba que a atraiam. Abre simplesmente os bracitos, gesticula, mexe, remexe e sorri. Eu, tal e qual ela, tenho a vida!... |