Desde o princípio do ano de 1400, o comércio entre a Europa e o Oriente era intenso e tinha como rota o Mar Mediterrâneo,
No ano de 1435 os turcos tomaram Constantinopla (Capital do Império Romano do Oriente) e bloquearam o Mar Mediterrâneo, impedindo assim a passagem dos europeus para o continente asiático.
Portugal e Espanha foram os mais prejudicados. Todavia como gozavam da supremacia na indústria náutica diante dos demais países europeus, procuraram logo novas rotas. Os portugueses, utilizando a costa leste do Oceano Atlântico, conseguiram contornar o continente africano e logo chegaram às Índias.
Os espanhóis, através de seus bons navegadores, achavam que a rota via Ocidente era bem mais vantajosa, e assim no mês de maio de 1499, saía a primeira flotilha guiada por Alonso de Hojeda e conduzindo os cartógrafos Juan de la Cosa e Américo Vespúcio. Nesta viagem chegaram até o Cabo Orange ( ao norte do território do Amapá), sem contudo tocar o solo brasileiro.
Em dezembro do mesmo ano zarpava do porto de Palos uma outra flotilha, composta de quatro caravelas, sob a responsabilidade de Vicente Yanês Pinzon. O primeiro contato que mantiveram com a costa americana foi o Cabo denominado Santa Maria de La Consolacion- posteriormente identificado como Ponta Grossa, também denominado Jabarana, ou Retiro Grande, no município de
Aracati onde desembarcaram e abasteceram os navios de água e lenha. Como o litoral se apresentasse muito árido, zarpou Pinzon para o norte, apontando desta feita na Ponta do Rostro Hermoso ( hoje ponta do Mucuripe), fincando aí uma grande cruz.
Velejou Pinzon e seus companheiros mais para o Norte, atingiram o Amazonas voltando ao Porto de Palos, em, 30 de dezembro de 1500.
Um mês depois da saída de Vicente Pizon, do Porto de Palos, partiu do mesmo ancoradouro e com idêntica finalidade uma outra expedição composta de duas caravelas, sob o comando de Diogo de Lepe. Este lançou ferro nas águas do Rio Grande do Norte e, posteriormente, com a Ponta do Rostro Hermoso onde encontrou a cruz fincada por Pinzon.
Não sabemos se os navegadores espanhóis deixaram de registrar os feitos de suas viagens por questões de tratados, ou porque sua finalidade era chegar às Índias. Sabe-se, mo entanto, que a mesma sensação que Armstrong e Aldrin sentiram quando pisaram o solo lunar, sentiram também Pinzon e seus companheiros quando pisaram o nosso solo.
Posteriormente, a 9 de março de 1.500, partia do tejo uma esquadra composta de 13 navios, tendo em seu comando o fidalgo português Pedro Álvares Cabral que tendo de seguir a mesma rota de Vasco da Gama, afastou-se da costa africana, e no dia 22 de abril do mesmo ano, o Brasil era oficialmente descoberto.
A terra descoberta recebeu o nome de Monte Pascoal, dado pelo Capitão-Mor. Pensando tratar-se de uma ilha e não um continente., deram-lhe posteriormente o nome de Ilha de Vera Cruz e mais tarde, quando convicto
de que se tratava de um continente e não ilha, passaram a chamá-la Terra de Santa Cruz, e devido a abundância de uma madeira já conhecida da Ásia, o Pau-Brasil, batizaram-na de Brasil.
Após sua descoberta, aproximadamente 30 anos permaneceu no anonimato.
Quando o comércio com as Índias entra em declínio, os portugueses se voltam para o Brasil. E quando D. João III resolve dividi-lo em Capitanias Hereditárias, em número de 15, doadas a 12 donatários, cabendo a do Ceará a Antonio Cardoso de Barros ( 1534). Este, porém, não deu importância a colonização de sua capitania, razão pela qual somente em 1603, o açoreano Pero Coelho de Sousa, comandando um regimento composto de três caravelas, conduzindo mantimentos, munições e recomendando que aguardassem na foz do Rio Jaguaribe a sua chegada, segue por terra com o restante de seu contingente até o combinado ponto de encontro.
Aí demoraram o tempo suficiente para as providências da expedição. Construiu na foz do Jaguaribe um Forte denominado Fortim de São Lourenço, construção essa iniciada em 10 de agosto de 1603, com a finalidade de protegerem-se contra os índios hostis na região. Sua construção, apesar de mourões de pau-a-pique, resistiu até 1640, permanecendo o nome Fortim até nossos dias, dado a uma povoação que se desenvolveu no referido local.
Descoberta a foz do Jaguaribe, povoá-la era agora questão de tempo, como fizeram as civilizações mesopotâmicas, que aproximadamente 4.000 a..C, numa região similar ao Vale do Jaguaribe, desenvolveram-se numa planície formada também por terrenos de aluvião, atraídas pela fertilidade do solo.
Agora descoberto outro Vale, o Vale do Jaguaribe, senão o maior, porém um dos mais ricos do mundo em matéria de fertilidade. Esse soberbo Vale muito merece a propaganda que se faz de sua superioridade, quer no aspecto físico, quer no aspecto político, econômico e administrativo. Não é possível enumerar os vários fatores que fazem do Vale do Jaguaribe, uma fonte perene de riqueza infindas.
Citaremos os principais: Em primeiro plano, é o Vale possuidor da maior produção de cera de carnaúba do Estado do Ceará, já foi o maior possuidor de rebanho bovinos e também de produção algodoeira, e possui um dos maiores reservatórios do mundo.
Eusébio de Sousa, assim o considerava: "algum dia, quando se traduzirem em fatos as falazes intenções dos governos, insistentemente apregoadas em seus relatórios, manifestos e programas pomposos, quando houver mais acção do que palavras, será enfim reconhecido o valor desta riquíssima zona, com privilégios tamanhos, o Ceará então não pedirá a migalha da fome, que até os nossos dias tanto tem aviltado perante os povos". ( Russas - 1921 )
O Vale do Jaguaribe, além de suas imensas riquezas, possui uma extensão e largura consideráveis, medindo aproximadamente 760 km de extensão por 10 km de largura e divide-se em três regiões: Baixo, Médio e Alto Jaguaribe.
Referências feitas em relatório dirigido a D. Pedro II, em 1881, as planícies aluviais do Vale compreendem 80.000 hectares das mais férteis do Brasil. E no mesmo ano, o Imperador envia uma comissão a Região, chefiada por J.J. Révy, engenheiro, com a finalidade de estudar a possibilidade de irrigação no Ceará. O relatório do Sr. Révy, traduz particularmente a extrema fertilidade do Vale do Jaguaribe, recomendando ao mesmo tempo a construção de um grande reservatório na altura do Boqueirão do Orós, sendo o bastante para represar água suficiente para irrigar todo o Vale.
E ademais, segundo o engenheiro João Thomé de Saboya e Silva, no próprio Vale existem não um só, como vários boqueirões admiravelmente apropriados à construção de barragens.
O citado engenheiro encaminha à Assembléia, em 19 de julho de 1917, uma mensagem propondo a construção de uma barragem nos Orós, no próprio Vale do Jaguaribe.
Extraído do Livro inédito "RENDIÇAO DO TEMPO" de autoria do jornalista Horácio Matoso (Associação Cearense de Jornalistas ( A.C.I )