Sou dos que estão ao lado da realidade sem subterfúrgios e me bato quanto posso pela benquista e sádia ilusão que alivia as vicissitudes da vida.



Cada indivíduo nasce como nasce, integral herdeiro genético de quem o produz. Daí, remédios há que podem ser usados por uns e rigorosamente evitados por outros.



Como os Leitores decerto já aquilataram pela imagem que acima insiro, estou a verter texto sobre os benefícios e os malefícios do tabaco, cinjindo-me tão-só à experiência pessoal em que milito sem falhas há 60 anos.



Não me movendo em critica elogiosa ou censora, desde já reconheço que os 5,80 euros que dispendo diariamente em tabaco me fariam muito melhor proveito gastos noutras flagrantes falhas que noto na minha vida.



Dos 7 aos 14 anos sofri enormidades por causa do vício do fumo, até que, em dado e inesquecível momento, a minha tia Balbina voltou-se para a sua irmã Maria, minha mãe, e disse-lhe: "- Ó Maria, dá ao teu filho dez tostões por dia para ele comprar cigarros". Dito e feito.



Hoje, que quase tudo-tudo passou, coloco-me isento a fazer o balanço do cigarro ao longo da minha existência: é o melhor dos amigos que tive e ainda tenho na minha vida, fruindo com ele gostosas passagens tranquílas sobre agrestes precalços e dissabores.



Eis pois o meu testemunho - repito - o meu exclusivo testemunho sobre mim. Peço humildemente à famigerada engrenagem, que em nome do meu "bem" se entretece, que me deixe em paz. Pago 4 euros por dia ao Estado para fumar.



Ah... Deixem-me em paz!...



Pior do que o fumo, muito pior, são milhares e milhares de indivíduos que não fumam, autênticos monstros humanos indignos da existência. Quiçá se fumassem não seriam insuportavelmente horríveis como são.