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Artigos-->APOSTAR EM DEUS -- 11/09/2006 - 10:33 (Délcio Vieira Salomon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
APOSTAR EM DEUS

Délcio Vieira Salomon



Até hoje estamos perplexos e abalados diante da carnificina de mais de três mil mortos, provocada pela explosão de Boeings lotados de passageiros de encontro às torres do WTC e ao Pentágono, no dia 11 de setembro.



Não menos angustiados ficamos diante do espetáculo que nos vem assolando o pensamento diante da reação descomunal do governo dos EUA. Contra um ato terrorista uma guerra não convencional. Por isso mesmo igualmente terrorista.



Terrorismo tornou-se o verbo satânico, a hipostasiar o Mal contra todos que, por almejarem o Bem, julgam-se suas vítimas preferenciais. Sempre quando se evoca tal tipo de maniqueísmo, surge no meio desse contraponto ideológico do Bem contra o Mal, a idéia de Deus, ou, como muito bem situou Saramago, em magistral artigo sobre os últimos acontecimentos, o “fator Deus”.



Em nome de Deus os fundamentalistas, convictos, mas fanáticos, justificam até o suicídio como sacrifício das próprias vidas ao próprio Deus. Em nome de Deus, sintomaticamente a mesma invocação “In God we trust” do dólar, Bush, nem convicto, nem fanático, convoca o patriotismo americano para a retaliação através de nova “cruzada”, ou seja, nova carnificina maior ainda.



Ao invés de aproveitar o mais oportuno dos momentos, para rever a condução da política internacional dos EUA, responsável, nos últimos tempos, não só pela referida tragédia, como por grandes calamidades, genocídios, guerras fratricidas, aumento assustador da miséria no planeta, conclama o país, a OTAN e a ONU, para apoiarem os EUA em seu intento de vingança.



No fundo todos apostam no próprio Deus. Confiando no poderio ancorado no dólar, e este em Deus, os EUA declaram a guerra da vingança ou da “justiça infinita” (até o atributo “infinito” que é propriedade divina, passa a ser da pretensa justiça americana).



Por outro lado, os fundamentalistas julgam-se mensageiros de Deus e escoram-se no Alcorão para exercerem seu papel de justiceiros. Ele – Deus – fará justiça, porque nós somos vítimas da injustiça, se apregoa aos quatro cantos. Para ambos os lados, “Deus está e sempre estará conosco”.



Nós, de nossa vez, não conseguimos ser espectadores de fora dos acontecimentos. Por vocação ou por destino de pertencermos à Humanidade, somos envolvidos. Somos levados, queiramos ou não, a assumir nosso lugar como participantes.



Por isso, mais uma vez, diante do apelo dos poderosos ou dos fanáticos, a Deus, para justificar suas próprias intenções e atos, por certo, nos atormenta a acachapante indagação: - Deus realmente existe? Vale apostar, como pretendia Pascal, na existência tão contraditória de Deus? Se a aposta resultar em fracasso, dizia, nada teríamos perdido em fazê-la. Se, exitosa, ganhamos tudo. Vale a pena?

Mas esse apelo não é o mesmo à Razão “irracional” do Jogador de Dados? No fundo, a mesma aposta no Racionalismo clássico, sempre empenhado em demonstrar a base de toda demonstração: quando se esbarra diante do indefensável, propõe que ao menos se aposte nele.



Trágico destino da defesa de um argumento, pois também a Razão é o fundamento da aposta. O pior é que nesses momentos, o apelo à Razão, acaba sendo apelo à Razão Cínica.



É esta Razão que nos leva a uma pirueta perigosa: postular como fundamento o que constitui a condição de possibilidade de qualquer postulado. É o mesmo que dizer que para sermos razoáveis é preciso adotar uma decisão irracional.

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