Na manhã do dia 27 de agosto de 2006, por iniciativa das presidências da Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto, tendo como palco a Academia de Letras de São João del-Rei/MG, aconteceu um formidável intercâmbio histórico-cultural entre as cidades de Valença - RJ e São João del-Rei.
Liderados pela senhora Elizabeth Santos Cupello e pelo senhor Mario Pellegrini Cupello, um seleto grupo de intelectuais integrantes das duas entidades esteve nesta cidade. A finalidade maior da visita foi a de promover a reativação dos laços históricos e culturais que uniram, unem e unirão para sempre as duas cidades.
Como preito aos valencianos, vai aqui uma brevíssima introdução à história de Valença: a então Aldeia de Nossa Senhora da Glória de Valença surgiu no final dos anos setecentos e início dos oitocentos; a Freguesia de Valença foi criada em 1813 e a partir de 1817 começaram a ser repartidas sesmarias naquela região. A Aldeia de Valença foi elevada à condição de Vila, em 1823, e alcançou a categoria de cidade, em 29 de setembro de 1857.
A Academia Valenciana de Letras, atualmente presidida pela senhora Elizabeth Santos Cupello, foi criada em 1949. O Instituto Cultural Visconde do Rio Preto, presidido pelo senhor Mário Pellegrini Cupello, foi fundado em 1990. O casal é um dos baluartes na área cultural valenciana e as ações e pesquisas por eles empreendidas muito enriquecem aquela região fluminense e a história mineira, já que mantêm fortes laços históricos, familiares, afetivos e intelectuais com o Estado de Minas Gerais. Devo afirmar que tanto a Academia Valenciana de Letras como o Instituto Cultural Visconde do Rio Preto exercem importantes papéis na cultura daquela região fluminense e cultuam, de modo exemplar, a memória do são-joanense Domingos Custódio Guimarães, figura cuja vida e obra chegam a ser praticamente desconhecidas dos habitantes desta terra “onde os sinos falam”.
Domingos, um descendente da ilhôa Júlia Maria da Caridade (como quase todos nós de Minas Gerais!), nasceu em 23 de agosto de 1802, na localidade conhecida como Fazenda da Rocinha (atual município de Carrancas, naquela época distrito de São João del-Rei). Com 21 anos foi para o Rio de Janeiro e constituiu a empresa “Mesquita & Guimarães” para fornecimento de carnes, em sociedade com João Francisco Mesquita (futuro Marquês de Bomfim). Valendo-se da boa administração e aproveitando a escassez de gêneros alimentícios do Rio de Janeiro, a empresa cresceu e gerou grande fortuna aos empresários. Anos depois, devido à forte concorrência, a sociedade foi desfeita. Financeiramente realizado, Domingos investiu sua fortuna em fazendas no município de Valença, dedicando-se ao plantio do café, à criação de gado e ao plantio de hortifrutigranjeiros. Expandiu seus negócios, adquiriu mais fazendas e tornou-se um dos maiores produtores de café do Brasil.
Juntamente com suas atividades agropecuárias, participou ativamente da vida político-administrativa e cultural de Valença. Era homem generoso. Socorria famílias carentes e ajudava financeiramente a várias entidades. Foi grande mantenedor da Santa Casa da Misericórdia de Valença. Construiu vários prédios e entregou-os à Administração Pública de Valença. Abriu estradas de rodagem, a exemplo da que ligava Valença à cidade de Taboas. Idealizou a construção de uma ferrovia entre Valença e o distrito de Juparanã. Instalou a rede de abastecimento de água potável em Valença. Foi um dos pioneiros da adoção da iluminação a gás, quando até mesmo o Império ainda desconhecia o sistema...
Domingos Custódio Guimarães foi feito tenente-coronel da Guarda Nacional, pelo Imperador Pedro I; em 1829 foi agraciado pelo Imperador com o grau de “Comendador da Ordem Rosa” e depois com o grau de “Gran Cruz da Ordem de São Bento de Avis”. O Imperador Pedro II o condecorou com a “Gran Cruz da Ordem da Torre e Espada”. Através de Decreto Imperial de 18 de dezembro de 1847 ele foi elevado a Comendador da “Ordem de Cristo”; em 06 de dezembro de 1854, D. Pedro II elevou-o à nobreza, entregando-lhe o título de Barão do Rio Preto. Em 1867 recebeu nova homenagem do imperador, desta feita com o título de Visconde do Rio Preto.
É importante ressaltar que “Domingos Custódio Guimarães jamais lançou mão de dinheiro público ou envolveu-se em negociatas que malversassem o bem da nação. Muito pelo contrário, deu o melhor de si em benefício do povo, tirando do próprio bolso para melhorar as condições de vida da cidade e dos habitantes de Valença. Mais do que sua riqueza, construída com labuta, Domingos Custódio notabilizou-se por sua firmeza de caráter, sua probidade, seriedade...”
O Visconde do Rio Preto morreu no dia 7 de setembro de 1868, na sua Fazenda Paraíso, no exercício dos cargos de Presidente da Câmara Municipal e Provedor da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Valença. Naquela ocasião a sua morte foi copiosamente chorada pelos valencianos.
Assim está delineada, ainda que muito brevemente, a grande contribuição do são-joanense Domingos Custódio Guimarães ao povo e ao desenvolvimento da cidade de Valença e àquela região fluminense. Para quem se interessar em conhecer mais profundamente a vida e obra dele, recomendo a leitura do livro “Visconde do Rio Preto – Sua vida, sua obra. O esplendor de Valença”, publicado pelo professor, historiador, escritor e pesquisador Rogério da Silva Tadjer (Gráfica PC Duboc Ltda., 2004, 248 p.), de onde retirei a maioria das informações para escrever este modesto artigo.
A visita dos valencianos a São João del-Rei merece ficar registrada! Além das importantes preleções apresentadas na nossa Academia de Letras, vale também ressaltar a grandeza daquele momento em que fora dado o pontapé inicial para um intercâmbio cada vez mais intenso e duradouro com os valencianos. Que todos nós saibamos interpretar o simbolismo daqueles atos e que doravante cuidemos com carinho destas formidáveis relações intermunicipais e interestaduais, a exemplo do que já aconteceu com as cidades de Vassouras-RJ e Taubaté-SP, quando os confrades Gustavo Lisboa Braga e José Bernardo Ortiz estiveram em memoráveis visitas ao Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, ocasião em que promoveram a reaproximação dos municípios e o estreitamento dos laços históricos e culturais que sempre nos uniram! Oxalá assim também continue acontecendo com o município de Valença!