000099>O Diabo - Que leitura faz do timing escolhido pelo presidente Bush para finalmente admitir que a CIA manteve detidos em prisões ilegais elementos suspeitos da prática de terrorismo?
Le Winter - Bush está sob uma imensa pressão e a ser fortemente acossado. Não esqueçamos que a sua popularidade está muito em baixo e, em breve, haverá eleições para o Senado. Mas ele até foi relativamente esperto ao ter revelado isto nesta altura e do modo como o fez. Só disse que tinha conhecimento, mas não adiantou mais nada, sob pena de ameaçar a segurança interna dos Estados Unidos.
O Diabo - O anúncio terá sido articulado entre a Casa Branca e a CIA?
Le Winter - Claro, mas o timing tem a ver também com o facto de muitas das prisões ilegais já terem encerrado e os prisioneiros terem sido transferidos para os Estados Unidos, para a Baía de Guantanamo ou paradeiros desconhecidos.
O Diabo - Tem conhecimento dos locais onde existiam essas prisões?
Le Winter - Algumas localizavam-se nas Caraíbas, nomeadamente nas Bahamas, no Haiti e nas Ilhas Virgens britânicas. Também na América do Sul, nomeadamente na Bolívia e na Argentina, em África, no Egipto.
O Diabo - E na Europa?
Le Winter - Especialmente na Europa de Leste. Na Roménia, Ucrânia, Mecedónia, etc. Existiu também uma prisão ilegal da CIA em Portugal, entre o Porto e a fronteira com a Galiza, mas foi fechada há uns anos atrás. Todas estas acções tiveram a cobertura e o conhecimento dos respectivos governos, incluindo o português. Não é possível montar uma prisão e albergar suspeitos de terrorismo em território europeu sem o conhecimento do país soberano. Um homem, que foi um precioso ajudante na cobertura destas acções da CIA contra o terrorismo, foi Durão Barroso e, por isso, acabou por ser recompensado mais tarde, ascendendo ao cargo de presidente da Comissão Europeia, "apadrinhado" pelos americanos.
O Diabo - Estamos perante uma relação de conveniência em que quem auxilia os americanos é posteriormente recompensado?
Le Winter - Com a América o jogo funciona desse modo. Pura chantagem. Os próprios países que pertenciam à Europa de Leste e colaboraram com a CIA viram a sua pretensão de aceder à União Europeia aceite devido ao papel de pressão desempenhado pela Casa Branca e por Downing Street. Apenas a Turquia se recusou a alinhar com os americanos. Talvez por isso tarda em acontecer a sua adesão à Europa unida.
O Diabo - Os voos secretos da CIA na Europa estão a criar um enorme mal estar no seio das instituições europeias, com alguns sectores a exigir que se investigue até às últimas consequências. Trata-se de uma situação embaraçosa para os líderes europeus?
Le Winter - Essa foi outra acção com o conhecimento dos governos europeus, que fecharam os olhos a essas movimentações. Só agora se começa a conhecer em detalhe o número de voos patrocinados pela CIA, muitos deles "disfarçados" de viagens em aparelhos comerciais.
O Diabo - Guantanamo e Abu Ghraib são exemplos de atrocidades cometidas pelos americanos à margem da lei. Os EUA estão a violar repetidamente os direitos humanos?
Le Winter - Só há duas espécies de direitos humanos nos Estados Unidos: os do governo, que também inclui os da CIA. Os restantes direitos, abrangendo nomeadamente terroristas, são mais próprios de animais do que de homens.
O Diabo - Que técnicas de tortura é que a CIA pratica com mais regularidade?
Le Winter - Os choques eléctricos de alta voltagem, como se utiliza com o gado, são os mais frequentes. Mas existem outros procedimentos mais elaborados, como por exemplo, o recurso a químicos ou à tortura do sono.
O Diabo - Soube-se recentemente que os americanos vigiam através das novas tecnologias e durante 24 horas por dia as operações bancárias consideradas suspeitas um pouco por todo o mundo. Concorda com este big-brother?
Le Winter - É a guerra virtual promovida pelos americanos. Veja o caso da captura de Bin Laden. Com os meios que dispõem, eles sabem há anos onde ele se encontra. Em 10 minutos apanhavam-no, só que têm medo do que ele pode dizer da família Bush. Bin Laden sabe os "podres" e os negócios obscuros de todo o clã Bush e a forma como conseguiram o poder.
O Diabo - Um canal americano de televisão lançou um debate intitulado "Bush é um idiota?". Alinha nesta discussão?
Le Winter - Bush é um crente indefectível de várias coisas, entre as quais, uma é que o mundo foi criado em seis dias e Cristo ressuscitou ao sétimo. Ele tem dois problemas: teve uma educação muito pobre e está rodeado por homens que o usam como símbolo do "american way".
O Diabo - Está a falar, nomeadamente, de Donald Rumsfeld e Dick Cheney?
Le Winter - Rumsfeld já teria saído da administração republicana, se não soubesse as coisas que sabe de Bush e da sua família. Quanto a Cheney, ele foi imposto por Bush pai. Ele acumula negócios que, na minha opinião, são incompatíveis com o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos. Não percebo como é que a sua posição não tem sido enfraquecida, mesmo depois de se saber que foi dele a decisão no "11 de Setembro" de proibir que os "caças" americanos abatessem os aviões interceptados pelos terroristas.
O Diabo - Condolezza Rice está a ganhar poder no seio da administração americana?
Le Winter - Não me parece. Falta-lhe inteligência. O seu maior protagonismo actual é estratégico e só serve para contrabalançar uma eventual candidatura da senadora democrata Hilary Cliton. Na verdade, o clã Bush quer perpetuar-se na Casa Branca e vai fazer tudo por tudo para lançar o irmão de Bush, Jeb, actual governador da Florida, como candidato republicano às próximas presidenciais. Mas tudo vai depender dos republicanos perderem muitos ou poucos lugares nas próximas eleições para o Senado. Se a derrota for grande, a estratégia terá de mudar.
O Diabo - Vislumbra outro candidato democrata ou republicano que possa surgir na corrida para a Casa Branca?
Le Winter - Colin Powell deseja ardentemente ser presidente, até porque é, aos olhos da opinião pública, das pessoas mais populares e credíveis do país, provavelmente porque os americanos não sabem os muitos "rabos de palha" que tem, especialmente na guerra do Vietname.
Diabo - Cumpriram-se cinco anos sobre os acontecimentos do "11 de Setembro". Que balanço faz da guerra ao terrorismo desencadeada na sequência dessa tragédia?
Le Winter - Os americanos estão a perder todas as guerras em que se envolveram: no Iraque e no Afeganistão. São guerras impossíveis de ser vencidas. Na verdade, não existe uma guerra contra o terrorismo. O que há no Iraque é uma guerra civil que só vai piorar.
O Diabo - Segundo um relatório aprovado recentemente no Senado dos EUA, Saddam Hussein não teve qualquer relação com a Al-Qaeda, o que deita por terra o pretexto invocado pela administração Bush para a invasão do Iraque...
Le Winter - Saddam sempre odiou Bin Laden e a Al-Qaeda. O ditador iraquiano manteve laços com um sector particular dos muçulmanos, sempre do lado oposto a Bin Laden. Os americanos dificilmente sairão do atoleiro em que caíram no Iraque e também no Afeganistão. Mas há um pormenor sobre o qual importa meditar e que explica muita coisa: quando os taliban governaram o Afeganistão, aboliram as plantações de ópio. Depois, com a governação do presidente Ahmid Karzai, um grande amigo de Bush e dos seus pares, o cultivo do ópio disparou e este ano será o de maior produção de ópio da história daquele país. - Os americanos estão a perder todas as guerras em que se envolveram: no Iraque e no Afeganistão. São guerras impossíveis de ser vencidas. Na verdade, não existe uma guerra contra o terrorismo. O que há no Iraque é uma guerra civil que só vai piorar.
O Diabo - Quem está envolvido no comércio do ópio?
Le Winter - Um dos cabecilhas foi um dos "senhores da guerra" no conflito com os taliban, tendo sido libertado da prisão pelo presidente Karzai, quando este assumiu o poder.
O Diabo - Cinco anos depois do "11 de Setembro" o mundo está menos seguro, ao contrário do que Bush prometeu. Onde, quando e como será o próximo mega-atentado?
Le Winter - O próximo atentado mega-terrorista será onde a CIA decidir. O atentado em Londres foi uma treta, foi tudo orquestrado pelos serviços secretos americanos. Bid Laden e a Al-Qaeda nada têm a ver com os actos terroristas, a não ser por via indirecta, por fornecerem dinheiro para diferentes grupos espalhados pelo mundo. A Al-Qaeda é, hoje em dia, um banco internacional.
O Diabo - Os Estados Unidos podem voltar a ser alvo de um mega-ataque terrorista?
Le Winter - Os Estados Unidos podem ser alvo de terrorismo se a CIA quiser e achar que isso vai beneficiar em popularidade ou em votos a actual administração.
O Diabo - E Londres?
Le Winter - É natural que continue na mira dos terroristas. Bush e Blair são aliados há muito.
O Diabo - Blair anunciou que se retirará em 2007. O seu "amigo" americano vai ficar mais isolado?
Le Winter - Não acredite em tudo que o primeiro-ministro britânico diz. Não me parece que sejam a França e a Alemanha a apoiar a guerra contra o terrorismo da Casa Branca, ainda para mais agora quando Ângela Merkl soube que uma das prisões ilegais se localizava na Alemanha de Leste. Hoje em dia, não é popular nem cómodo para qualquer governo do mundo ser amigo de Bush. Quem o for arrisca-se a sofrer na pele os efeitos do terrorismo.
O Diabo - A dialéctica entre Teerão e Washington tem subido de tom nos últimos meses. Acredita que o Irão será o próximo objectivo de Washington?
Le Winter - Asseguro-lhe antes uma coisa que pode ajudar a responder à sua dúvida: dentro de poucos anos o Irão será a maior superpotência do Médio Oriente. São um povo muito arguto e têm um presidente que trabalhou para a CIA e colaborou, em 1979, no ataque à embaixada americana em Teerão. Mahmoud Ahmadinejad sabe como ninguém como é que os serviços secretos americanos funcionam. Para mais, na recente guerra do Líbano, o Hezzbolah derrotou o poderoso exército israelita, quebrando a mítica invencibilidade dos militares judaicos, o que fortaleceu a posição de Teerão.
O Diabo - Um recente artigo no prestigiado "New Yorker" revela que Israel e os Estados Unidos forçaram de forma concertada a guerra no Líbano. O que é que nos pode dizer?
Le Winter - Essateoria tem fundamento. Os Estados Unidosd queriam testar a força do Hezzbolah, mas os planos saíram furados, especialmente para os israelitas. Mas os americanos também não saem bem na fotiografia.
O Diabo - É sabido que tem investigado a fundo as reuniões do grupo de Bilderberg. Há novidades?
Le Winter - Por motivos de saúde tenho estado um pouco afastado dos meandros de Bilderberg, mas soube de fonte bem colocada que num dos últimos encontros foi determinado que Cavaco Silva seria o próximo Presidente da República português. Também tive conhecimento que os senhores que controlam o mundo querem substituir o incómodo secretário-geral da ONU, Koffi Annan, talvez por um português...
O Diabo - O ex-primeiro ministro Guterres é uma hipótese?
Le Winter - Provavelmente Guterres ou então o eterno "homem forte" da CIA em Portugal, Mário Soares.
O Diabo - Mas ele tem 80 anos...
Le Winter - E depois? Serviria perfeitamente para liderar as Nações Unidas durante dois anos, o que daria muito jeito aos que querem paralisar esta organização, como é o caso dos Estados Unidos. E amigo como é dos americanos, Mário Soares não os iria desiludir.
O Diabo - A última fase de Soares tem sido muito crítica para os EUA e para a sua política anti-terrorista no Médio Oriente. Como podiam os americanos querer "este" Soares na ONU?
Le Winter - Soares, mesmo criticando pontualmente os americanos, iria fazer-lhes a vontade. Dormiria o tempo todo enquanto os problemas aconteciam, indo ao encontro dos interesses dos EUA. = Fim |