Há-meio século, quando já bem interpretava algo sobre os meandros da vida, ouvi respeitáveis anciães exprimirem-se com séria convicção: " - De religião e política não falo ou sequer gosto de ouvir falar". Perplexo, entusiasmadíssimo com o futuro que se me deparava, não os entendia e até lhes atribuía alguma ignorante leviandade nas suas ousadas tiradas tertuliantes.
Hoje, após os ingénuos sonhos de pluma se terem entrelaçado com a dureza da realidade vivencial e percorrido em grande parte a experiente linha da existência, eis-me bem defronte ao cerne da questão que os antigos homens da minha terra então colocavam prudentemente em pertinaz evidência, sentindo-lhes, agora, com profunda sensibilidade tudo quanto lhes ia na alma e no corpo para assim opinarem. E sim, enquanto intimamente lhes louvo a memória, não tenho dúvida alguma: salvo as raríssimas excepções que felizmente constato, e ai-de-nós se não as houvesse, padres e políticos, numa confrangedora maioria, são uns grandessíssimos intrujões e sobretudo revelam-se uns aberrantes pulhas, autênticos parasitas da humanidade, algo que os vindouros terão de eliminar para que a vida se cumpra com pleno merecimento.
É inadmissível que milhões de gerenciadores do comportamento humano, ao longo dos séculos, ainda não tenham logrado tranquílidade quanto baste entre os seus concidadães. O processo locupletante continua mais e mais avassalador conspurcando por completo e reduzindo à miséria a vida dos mais frágeis e menos capazes. A lei deve fazer-se para que se extinga por si mesma e não para que se ramifique mais ainda, funcionando tão-só como impositiva arma de extorsão e indignidade.
Vivo há 67 anos, 35 sob a designada ditadura salazarista e 32 sob um subreptício regime democrático, que se evoca de orientação socialista em teoria, mas é deveras uma acerada tenaz capitalista que sem pejo algum, na prática, esmirra os portugueses de boa fé e os sepulta em permanente endividamento, empurrando-os para o futuro de bandeira nacional em punho atrás de uma bola de futebol, um desiderato confrangedoramente sério que toca as raias do ridículo absoluto.
Em Portugal, o resultado da criminosa negligência política, ou quiçá propósito intimidativo, verifica-se num exemplo assaz simples sobre a actualidade decorrente nas principais cidades do país: em Lisboa e no Porto, a partir das 22 horas, quem se deslocar a pé tem fortes possibilidades de ser assaltado e espancado. Como há largos meses a maioria das pessoas opta por ficar quanto possível em casa, os energúmenos que volteiam impunemente não têm óbice algum em empreender assaltos a casas habitadas enquanto os residentes dormem. As queixas à polícia não produzem qualquer efectividade e apenas ocasionam perdas de tempo, onerando mais ainda o prejuízo. A polícia guarda e protege sim, e muitíssimo bem, os responsáveis por um tal absurdo clima social, que gozam e fruem em descarado fausto a vida como lhes apetece. |