Entre o bem e o mal, quem optar por uma ou outra situação, colocando-se em permanente curto-circuito, o que é que obtém? Logrará tão-só brevíssimos fogachos de ordem física ou espiritual em relação aos seus semelhantes e não alcancará nunca a almejada luz para todos. Óbvio é que cada indivíduo faça quanto possível para se tornar em filamento harmonizante, seja qual for o grau de luminosidade que produza, desiderato que terá de bem acautelar para não desintegrar-se. Daí, à Vossa consideração equaciono dois singelos polos: polícia e ladrão !...
BREVE BIOGRAFIA DE SALAZAR
António de Oliveira Salazar nasceu em Vimieiro, Santa Comba Dão, a 28 de Abril de 1889 e faleceu em Lisboa a 27 de Julho de 1970. Foi excepcional professor universitário e exímio estadista, considerado à época um moderado ditador político por haver conglomerado o povo português sob a égide de um único partido
Nomeado Ministro das Finanças entre 1928 e 1932, o seu exemplar rigor fê-lo ascender a Primeiro-Ministro, tendo dirigido o destino de Portugal, ao longo de 36 sucessivos anos, até 1968. Em substituíção da ditadura militar, fundou e liderou a União Nacional, organização na base do qual estabeleceu o regime do Estado Novo.
Iniciou-se como estudante seminarista em Viseu e, depois de ter sido excelente na actividade em que se envolvia, em 1910 mudou-se para Coimbra para estudar Direito. Em 1914 tornou-se bacharel e, dois anos adiante, assistente de Ciências Económicas. A convite do professor José Alberto dos Reis, em 1917, um pouco antes de se doutorar, assumiu a regência da cadeira de Economia Política e Finanças, exercício onde revelou uma qualidade nunca antes vista.
Durante o período que permaneceu em Coimbra, materializou o seu pendor para a política no Centro Académico da Democracia Cristã, onde cultivou sólida amizade com Mário de Figueiredo Barbosa, José Nosolini Barbosa, os irmãos Dinis da Fonseca Barbosa, Manuel Gonçalves Cerejeira e o seu irmão Júlio Barbosa, filho de Bissaia Barreto Barbosa, alguns dos quais haveriam de colaborar nos seus governos. Combateu o anticlericalismo da 1ª República através de artigos de opinião em jornais católicos. Acompanhou o futuro cardeal Cerejeira em palestras e debates, enquanto estudava Maurras, Le Play e as encíclicas do Papa Leão XIII, consolidando assim seu pensamento, que foi explicitando nos artigos que frequentemente escrevia.
Suas opiniões e ligações ao Centro Académico da Democracia Cristã levaram-no, em 1921, a concorrer por Guimarães a deputado ao Parlamento, para onde foi eleito, mas, não encontrando aí motivação, regressou à Universidade passado três dias, aí permanecendo até 1926.
Com a crise económica, a desorientação e a agitação política da 1ª República, ocorrências que se prolongaram inclusive após o 28 de Maio, a Ditadura Militar chamou Salazar, em Junho de 1926, para assumir a delicada pasta das Finanças. Passados treze dias renunciou ao cargo e regressou a Coimbra por não lhe terem sido satisfeitas as condições que achava indispensáveis ao seu exercício.
Em 1928, após a eleição do general Carmona e na sequência do fracasso do seu antecessor em conseguir um avultado empréstimo externo com vista ao equilíbrio das contas públicas, reassumiu a respectiva pasta. Desta feita, exigindo controlo absoluto sobre as despesas e receitas de todos ministérios. Satisfeita a exigência, impôs forte austeridade e rigoroso domínio sobre as operações, conseguindo um superavit logo no seu primeiro exercício.
" - Sei muito bem o que quero e para onde vou", afirmaria então, denunciando o seu propósito na tomada de posse.
Na imprensa, especialmente naquela que lhe era favorável, Salazar seria muitas vezes exibido como salvador da pátria. O prestígio ganho, a propaganda, a habilidade política na manipulação das correntes da direita republicana, dos monárquicos e dos católicos, consolidaram pouco a pouco o seu poder. A ditadura dificilmente o podia dispensar e o Presidente da República passou a consultá-lo em cada remodelação ministerial. Enquanto a oposição democrática se desvanecia em sucessivas revoltas sem êxito, procurou dar rumo à Revolução Nacional que se seguiu. Salazar, recusando o regresso ao parlamentarismo da 1ª República, dá e impõe a solução: cria a União Nacional em 1931, movimento nacional, na prática partido único, aglutinador de todos quantos quisessem servir com devoção a pátria.
Em 1932 era publicado o projecto de uma nova Constituição, que foi aprovada em 1933. Sob esta, Salazar cria, desenvolve e estabelece o Estado Novo, uma espécie de moderada ditadura civil, impondo-se autoritário, corporativista, colonialista, anti-liberal, anti-parlamentar, anti-democrático, anti-comunista e repressivo sobre os que lhe ambicionavam a queda, atribuindo aos Presidentes da República meras funções cerimoniais. O detentor real do poder era o plenipotenciário Presidente do Conselho de Ministros.
A questão da indemnização da Igreja Católica pela nacionalização dos seus bens durante a 1ª República é desconsiderada por Salazar. Apesar da sua acção no Centro Católico e de ser ele mesmo profundamente católico, a separação de poderes entre o Estado e a Igreja é uma afirmação clara da sua personalidade política, embora Salazar procurasse dar privilegiada garantia à Igreja, buscando-lhe o apoio. A definição das relações entre o Estado português e a Igreja Católica viria a oficializar-se em 1940 através da Concordata.
Entretanto, Salazar que acumulara a pasta dos Negócios Estrangeiros desde a guerra civil espanhola, com o eclodir da Segunda-Guerra Mundial, tomou imperativamente uma posição de neutralidade. Próximo ideologicamente dos países que constituíam o Eixo, o regime português escuda-se nessa condição e também na antiga aliança com a Inglaterra para manter uma política de não intervenção no conflito, a qual assentava num esforço de não afrontamento a qualquer dos lados beligerantes.
Primeiramente, em intensa actividade diplomática junto do caudilho Franco, tenta evitar que a Espanha se alie à Alemanha e à Itália, evitando assim que os países do Eixo, com a Espanha, considerassem a eventual ocupação de Portugal como meio de controlar o Atlântico e fechar o Mediterrâneo, o que desviaria o teatro da guerra para a Península Ibérica.
Uma vez a Espanha fora da guerra, a estratégia de neutralidade torna-se em formalismo diplomático com vista a não provocar a hostilidade nos beligerantes, não tolerando Salazar desvios aos diplomatas que colocassem em risco a sua política externa. Quando o cônsul português em Bordéus, Aristides Sousa Mendes, concedeu vistos em grande quantidade a judeus em fuga aos nazis, ignorando instruções do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Salazar foi implacável e demitiu-o.
Em 1943 os Aliados procuram utilizar os Açores como base estratégica de apoio. O governo de Portugal, não conseguindo contornar a pressão, vê-se obrigado a ceder, mas contudo Salazar negoceia como contrapartida o fornecimento de armamento e a garantia da restituição da soberania portuguesa a Timor no fim da Guerra.
Com os canais diplomáticos e comerciais abertos com as partes beligerantes, a balança comercial portuguesa manteve saldo positivo durante boa parte do conflito devido às medidas preventivas que Salazar sabiamente implantou.
A posição de neutralidade permitiu a Portugal, nos anos de 1941, 1942 e 1943, que as exportações ultrapassassem as importações, facto que não se verificava há dezenas anos e até à actualidade ainda não se verificou. Esta hábil gestão proporcionou-lhe, no final da guerra, os benefícios da paz sem ter de pagar qualquer preço advindo do conflito. Portugal foi uma das poucas zonas de paz num mundo, então a "ferro e fogo", servindo de refúgio a pessoas de várias proveniências. Um desses refugiados foi o ilustre arménio Calouste Gulbenkian, que adoptou e permaneceu no país, legando-lhe uma das mais importantes instituições ao serviço da cultura em Portugal.
Então, embora se reconhecesse o mérito da obra de Salazar no que respeita à reorganização financeira, à restauração económica e à defesa da paz, muitos entenderam que tinha chegado a oportunidade de forçar uma mudança politica.
Profundamente irritado com a invasão e perda de Goa, Damão e Diu, defensor de uma política colonialista, Salazar não hesita em alimentar as fileiras da guerra colonial que eclodiu a partir de 1961, com o exclusivo propósito da manutenção da unidade territorial nos territórios ultramarinos sob bandeira portuguesa, praticando e impondo sistematicamente uma política de isolacionismo internacional sob o lema "orgulhosamente sós", enquanto a comunidade internacional promovia a agenda da descolonização em África, levando Portugal a um menor avanço cultural e económico.
Aos 79 anos, vitimado por inopinado acidente doméstico que o incapacitou em definitivo - Salazar tombou acidentalmente de uma cadeira - Marcello Caetano substituiu-o na governação em 1968. Salazar morre em 1970, convencido, pelos que o rodearam nos derradeiros dias, que continuava a governar o país. Os seus poucos familiares, além do honrado prestígio, herdaram apenas o que também Salazar recebera e zelara de seus pais. No que a plena hombridade concerne, Salazar constituiu-se numa personalidade rigorosamente sóbria e sobretudo impoluta, algo que causava intenso medo aos que militavam na esconsidade e se conjuraram em vão para o derrubar. |