“No dina vit do de Abinu d doni come kicna do no ba Basinu terã mlazsa.”
Não se espantem mas esse é o novo idioma ensinado nas nossas escolas. Isso mesmo! A partir da quarta série os alunos lotados nas escolas estaduais passaram a ter mais esse recurso. A tal idioma denomina-se “Iguinorantês”! Sim e é desta forma que se escreve, com circunflexo no último “e” e sem o “g” mudo no início. O afortunado aluno que está tirando nota dez nesta nova matéria do ensino público é Welton, 11 anos, aluno da quarta série de uma escola municipal da zona leste de São Paulo. E a perfeição chega ao máximo pois, após a professora sugerir o simples ditado, “No dia 22 de abril, comemoramos os 500 anos do nosso Brasil, que é uma terra maravilhosa.” , simultâneamente Welton o traduziu para o tal idioma....
Deixemos o sarcasmo de um pouco de lado e vamos aos fatos: Enorme vergonha! Um aluno de quarta série, que não tem a mínima culpa devemos salientar, não saber ler e quanto mais escrever. Não vou fazer mais qualquer citação, ou observação. Sem mais palavras tamanha é a minha indignação. Recorto da página da Revista “Isto é”, nsº 1597 e 1598 de 10 e 18 de maio de 2000, respectivamente, da seção Educação – Brasil Real as duas sensacionais reportagens do jornalista Gilberto Nascimento. Nada mais a acrescentar pois elas falam por si:
“Nos rabiscos de Welton há algo que lembre – ainda que de longe – uma palavra acabada. Para outros de seus colegas, nem isso é possível. Numa outra área da zona leste paulistana, o Jardim Santo Elias, a cerca de 20 quilômetros do Centro, a reportagem de ISTOÉ presenciou outra cena: o esforço de quatro irmãos para tentar repetir a mesma façanha de Welton. Sem sucesso. Roberto, 15 anos, Marcelo, 14, Diego, 12, e Rodrigo, 11, contorceram-se de um lado para outro, tentaram “colar” e depois olharam para o vazio. Seguiram-se dez minutos de um silêncio. Uma vizinha que os acompanhava saiu do quarto com os olhos marejados.
Ao final, os garotos exibiram garranchos e sinais ininteligíveis. O mais velho, em vez do ditado, colocou no papel três das raríssimas palavras que conhece: amei, come e boi. Órfãos de pai e mãe, os quatro conseguem escrever apenas o nome e não lêem nada, nem fazem contas. Roberto está matriculado na quinta série, numa escola municipal. Rodrigo e Marcelo, alunos da quarta série, e Diego, da segunda, estudam em outra, estadual. Frequentam as aulas regularmente. Segundo Roberto, nunca fazem exercícios na sala de aula porque não entendem o que a professora pede. Ao ser perguntado como os professores reagem diante do fato de ele não saber ler, o menino não soube responder. Lágrimas começaram a descer de seu rosto. “O que mais eu queria na vida era ler”, lamenta. Ao ver o que nove estudantes do ensino fundamental escreveram, o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, teve uma reação de espanto. “É o fracasso da escola. Ela tem de fazer o aluno aprender. Temos de cobrar e exigir dedicação dos professores. Precisamos trocar essa
Cultura de reprovação mas com avaliação”.
Na edição da “Isto é” de 18 de maio de 2000, o Jornalista Gilberto Nascimento continua a narrar o drama:
“A reportagem da edição anterior de ISTOÉ sobre alunos até da sexta série que não sabem ler nem escrever causou emoção e indignação em dezenas de leitores. Uma professora de Português havia sugerido a nove estudantes, com idades entre 11 e 15 anos, a produção de um singelo ditado: “No dia 22 de abril, comemoramos os 500 anos do nosso Brasil, que é uma terra maravilhosa.” Um dos alunos, o garoto Welton, produziu o seguinte: No dina vit do de Abinu d doni come kicna do no ba Basinu terã mlazsa. Dezenas de cartas e e-mails chegaram à redação, protestando contra a situação da escola pública. “Juro que pensei que fosse romeno”, espantou-se o leitor João Manuel Maio, de São José dos Campos (SP), referindo-se aos sinais incompreensíveis feitos por Welton, matriculado numa escola municipal na periferia de São Paulo. “Quando soube que era um menino de 11 anos, da quarta série primária, tentando escrever em Português, tive uma crise de choro. E só me perguntava: meu Deus, que País é este?”, questiona João. O próprio ministro da Educação, Paulo Renato Souza, passou a citar a denúncia de ISTOÉ como exemplo de situação que “não pode mais ser mantida”. Até do Japão vieram manifestações. “A impressão que fica é que o governo preferiu abolir a repetência nas escolas públicas para passar para os estrangeiros a impressão de que o sistema educacional em terras tupiniquins melhorou”, critica o dekassegui Fernando Miazaki.
Na mesma linha, foi dura a reação dos educadores ao comentário do ministro Paulo Renato de que isso demonstra o “fracasso da escola” e, consequentemente, deve ser exigida maior dedicação dos professores. “Nenhuma categoria no Brasil é mais dedicada que a dos professores, que vive com uma jornada triplicada e os baixos salários”, rebate a presidente do Sindicato dos Professores no Ensino Oficial de São Paulo, Maria Isabel Noronha. “Como dar atendimento individualizado em uma sala de aula com 45, 50 alunos e com menos de um metro quadrado por aluno? Como garantir a recuperação contínua com apenas 50 minutos de aulas e, às vezes, apenas uma aula por semana, sem recursos didáticos apropriados?”, indaga uma carta de protesto, com quatro páginas, assinada por 14 professores da rede estadual da zona sul de São Paulo.
Na quarta-feira 10, o ministro Paulo Renato não questionou essas reclamações. “Eles têm razão. É tudo verdade. Não tenho dúvidas das dificuldades que os professores enfrentam. Os salários são baixos, mas estamos aumentando. Computadores estão sendo comprados. Não quero acusá-los, mas quando digo que o problema é da escola, as dificuldades não diminuem a responsabilidade deles.” A aprovação automática – através da chamada progressão continuada – forma hoje subcidadãos despreparados, com diploma, porque a iniciativa não foi implantada adequadamente. “Em São Paulo, a proposta foi imposta. Não se procurou obter a adesão do professorado”, acredita Marília Spósito, professora da Faculdade de Educação da USP e presidente da ONG Ação Educativa. “Essas idéias implicam mudanças muito profundas. O governo aumentou o número de alunos na escola, mas não ampliou os recursos. Assim, ninguém vai fazer milagre e não se pode responsabilizar o professor pelo insucesso.” Segundo ela, houve experiências bem-sucedidas no combate à repetência em Belo Horizonte e Blumenau (SC). Espera-se, agora, que a polêmica ajude a mudar a realidade de crianças que vivem o mesmo drama de Welton. “
E enquanto o ministro planeja “trocar essa Cultura de reprovação mas com avaliação” e os educadores rebatem com frases como, “Nenhuma categoria no Brasil é mais dedicada que a dos professores, que vive com uma jornada triplicada e os baixos salários”, ou ainda, “Como dar atendimento individualizado em uma sala de aula com 45, 50 alunos e com menos de um metro quadrado por aluno? Como garantir a recuperação contínua com apenas 50 minutos de aulas e, às vezes, apenas uma aula por semana, sem recursos didáticos apropriados?” o tempo corre depressa para essas e tantas milhões de outras crianças. Muito em breve elas estarão em idade para ingressar no mercado de trabalho e é ai que começa o grave problema. Sem condições, sequer de saber o básico da leitura e escrita, serão barradas e irão “engordar” a enorme massa de desempregados do país. Centenas de milhares dessas crianças, daqui a alguns anos rumarão para o crime, tráfico de drogas, prostituição etc, etc.
E a cada ano, novas crianças se engajarão nas escolas... essas mesmas escolas que hoje não ensinam nem direcionam. E o pais continua a caminhar para o caos, sem rumo, sem solução.
O que o citado ministro e os tais teóricos educadores ainda não pensaram é que muito em breve, essas mesmas infelizes crianças estarão em contato com seus filhos e netos. A cada dia a segurança diminui até se extinguir de vez. Infelizmente nosso amado país se encaminha para “o não tem mais solução” e em breve, muito breve, nossos códigos de leis e Constituições serão substituídos pelo antigo, mas notório código de Hamurabí: “OLHO POR OLHO e DENTE POR DENTE”.