Os restos mortais do professor-doutor ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR repousam no singelo cemitério de Santa Comba Dão, sua terra natal, tal qual como cidadão comum, português dos quotidianos que lutou naturalmente pela vida, indiferente a ilusórios acenos, sem tempo sequer para se lembrar de si. Não tenho dúvida alguma que o seu íntimo desejo em vida, em relação à morte, cumpriu-se.
Às vezes, sempre que pugno pela sua elevação à memória dignificada, logo de seguida interrogo-me se não estarei remando contra a harmoniosa maré do silêncio que ele terá almejado. Salazar intui-me no papel do pai que se zangou com os filhos antes da morte para não lhes causar dor com o seu desaparecimento.
No actual decurso, em relação ao salutar espírito do grande estadista, homem que soube ser e estar impecavelmente digno em face do mundo, eu sei em que temido fundo se motiva a persistente tentativa do seu impossível branqueamento: a Portugal, que os GRANDES PORTUGUESES edificaram com cabeça, tronco e membros, e Salazar conservou estóica e heroicamente, resta-lhe apenas a cabeça e os braços. Deceparam-lhe estupidamente o corpo.
ISTO vai demorar muitíssimos anos a diluir-se da memória física que continua, e será na morte desse decurso que SALAZAR subirá justo ao trono da História Portuguesa.