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Artigos-->Que falta-de-respeito! -- 31/10/2006 - 23:24 (•¸.♥♥ Céu Arder .•`♥♥¸.•¸.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos





Peguei esta imagem, da flor branca - tão linda! - e ia compor, hoje, qualquer coisa sobre ser o "último dia de outubro", de como o tempo passou tão rápido...

Mas, um e-mail me chamou a atenção, pelo conteúdo. Por isso, resolvi repassá-lo.





... não é porque estamos na guerra politica, que devemos nos esquecer das

dificuldades que enfrentamos e das tragédias que vivemos, eis uma carta aberta

que deve ser lida até o final:





Prezado jornalista Joe Sharkey:



Tenho lido o que você fala e escreve desde que se envolveu no triste

desastre aéreo amplamente noticiado. Tenho lido e não tenho gostado.



Resumo dos fatos: o avião em que você viajava colidiu com um Boeing 737, que

caiu na selva, interrompendo a vida de 154 seres humanos produtivos e inocentes

- em sua maioria, gente de alta qualificação técnica e humana, o

que agrava a perda e a estende a toda a sociedade brasileira.



O seu avião, produzido no Brasil, resistiu ao impacto e pousou numa base da

Força Aérea Brasileira, na qual - até onde se sabe - você e os demais

sobreviventes foram acolhidos, assistidos, bem tratados e respeitados.



Tiveram que depor perante a polícia e a aeronáutica, talvez mais de uma vez.

Nada mais natural. Não há notícias de que você tenha sido ofendido, pressionado

ou desrespeitado.



Sua primeira preocupação após ser liberado foi voltar aos Estados Unidos. Você

sabia que, em casa, poderia desempenhar o seu papel: contar aos conterrâneos

sua aventura na selva. Dar a sua versão dos fatos - precipitada, supérflua e

desprovida de fundamento técnico. Compartilhar o cinismo simplista do cidadão

ignaro, sugerindo que os pobres pilotos do primeiro mundo estariam nas mãos

sujas da polícia cucaracha.



Construiu uma imagem dos pilotos como se eles fossem presos políticos numa

republiqueta da América do Sul, sujeitos a prisões fétidas e dependentes de um

expresso da meia-noite que os salvasse da selvageria.



Gostaria de imaginar que você não está faturando com o episódio. Gostaria de

saber que você não está cobrando para dar entrevistas, não pôs a venda a sua

história e não pretende publicar um livro.



Como você mesmo disse, você está tendo seus quinze minutos de fama. Vende uma

história facilmente digerível ao americano comum, cheia de insinuações de

tortura, atos de bravura à lá Indiana Jones e suspense policial. Tratou

rapidamente de inocentar os pilotos e acusar a ineficiência dos radares

brasileiros.



Temos nossos graves defeitos, Joe. Nossas cadeias são fétidas, nossa polícia é

ineficiente e nossa distribuição de renda é inumana. Nossa sociedade é quase

tão injusta quanto a sua. Nosso presidente, quase tão ruim quanto o

seu. Mas entre nossos defeitos, não está o de maltratar os estrangeiros.



Seria mais útil e honrado de sua parte contar um pouco das vidas que se perderam

na tragédia. Contar que, no vôo 1907, estavam cientistas e voluntários

brasileiros que defendiam a preservação da Amazônia. Gente que lutava contra a

prostituição infantil, professores, estudantes de medicina, crianças. Contar

sobre o antropólogo estrangeiro, casado com uma brasileira, que trabalhava com

comunidades indígenas. Poderia até contar a história do cidadão norte-americano

que viajava sobre a selva.



Poderia ter ficado aqui e narrado ao seu público o tratamento que a empresa Gol

está dando à tragédia, um exemplo de postura que eu nunca tinha visto em

situações semelhantes, aqui ou no "primeiro mundo".



Poderia ter descrito o trabalho sobre-humano dos valentes "marines" brasileiros,

que até hoje estão enfrentando corajosamente a violenta mata amazônica na busca

de sobreviventes e, na sua inexistência, na remoção dos

corpos, enfrentando um inferno que nunca será suficientemente descrito.



Poderia ter se contido no julgamento dos culpados. Nem você, Joe, sabe quem são

eles. E não estou condenando os pilotos. Não incorrerei no seu erro. Pelo

contrário: eles têm a minha solidariedade pois, ainda que tenham tido a maior

fatia de culpa, certamente não tiveram a intenção. Eles também são vítimas

desse desastre, como o cidadão honesto e trabalhador que, distraído, cruza um

sinal vermelho e causa a morte de inocentes.



Os fatos têm que ser apurados. Pilotos, fabricantes das aeronaves, companhias

aéreas, fabricante do transponder, controle de tráfego aéreo. Temos que

aprender com a tragédia e evitar que outras semelhantes ocorram.

Em respeito às vítimas do 1907.



Os culpados têm que ser punidos, independentemente de sua intenção. Deus queira

que não sejam os pilotos, porque nenhum cidadão da Terra merece carregar esse

peso para o resto da vida.



Quanto a você, Joe, perdeu uma grande oportunidade de ser útil à humanidade. De

fazer valer a vontade divina de salvar a sua vida. De escrever seu nome na

história do jornalismo. De ter um pouco mais do que seus quinze minutos de

fama.



Gustavo Lessa Neto



Advogado brasileiro









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