Peguei esta imagem, da flor branca - tão linda! - e ia compor, hoje, qualquer coisa sobre ser o "último dia de outubro", de como o tempo passou tão rápido...
Mas, um e-mail me chamou a atenção, pelo conteúdo. Por isso, resolvi repassá-lo.
... não é porque estamos na guerra politica, que devemos nos esquecer das
dificuldades que enfrentamos e das tragédias que vivemos, eis uma carta aberta
que deve ser lida até o final:
Prezado jornalista Joe Sharkey:
Tenho lido o que você fala e escreve desde que se envolveu no triste
desastre aéreo amplamente noticiado. Tenho lido e não tenho gostado.
Resumo dos fatos: o avião em que você viajava colidiu com um Boeing 737, que
caiu na selva, interrompendo a vida de 154 seres humanos produtivos e inocentes
- em sua maioria, gente de alta qualificação técnica e humana, o
que agrava a perda e a estende a toda a sociedade brasileira.
O seu avião, produzido no Brasil, resistiu ao impacto e pousou numa base da
Força Aérea Brasileira, na qual - até onde se sabe - você e os demais
sobreviventes foram acolhidos, assistidos, bem tratados e respeitados.
Tiveram que depor perante a polícia e a aeronáutica, talvez mais de uma vez.
Nada mais natural. Não há notícias de que você tenha sido ofendido, pressionado
ou desrespeitado.
Sua primeira preocupação após ser liberado foi voltar aos Estados Unidos. Você
sabia que, em casa, poderia desempenhar o seu papel: contar aos conterrâneos
sua aventura na selva. Dar a sua versão dos fatos - precipitada, supérflua e
desprovida de fundamento técnico. Compartilhar o cinismo simplista do cidadão
ignaro, sugerindo que os pobres pilotos do primeiro mundo estariam nas mãos
sujas da polícia cucaracha.
Construiu uma imagem dos pilotos como se eles fossem presos políticos numa
republiqueta da América do Sul, sujeitos a prisões fétidas e dependentes de um
expresso da meia-noite que os salvasse da selvageria.
Gostaria de imaginar que você não está faturando com o episódio. Gostaria de
saber que você não está cobrando para dar entrevistas, não pôs a venda a sua
história e não pretende publicar um livro.
Como você mesmo disse, você está tendo seus quinze minutos de fama. Vende uma
história facilmente digerível ao americano comum, cheia de insinuações de
tortura, atos de bravura à lá Indiana Jones e suspense policial. Tratou
rapidamente de inocentar os pilotos e acusar a ineficiência dos radares
brasileiros.
Temos nossos graves defeitos, Joe. Nossas cadeias são fétidas, nossa polícia é
ineficiente e nossa distribuição de renda é inumana. Nossa sociedade é quase
tão injusta quanto a sua. Nosso presidente, quase tão ruim quanto o
seu. Mas entre nossos defeitos, não está o de maltratar os estrangeiros.
Seria mais útil e honrado de sua parte contar um pouco das vidas que se perderam
na tragédia. Contar que, no vôo 1907, estavam cientistas e voluntários
brasileiros que defendiam a preservação da Amazônia. Gente que lutava contra a
prostituição infantil, professores, estudantes de medicina, crianças. Contar
sobre o antropólogo estrangeiro, casado com uma brasileira, que trabalhava com
comunidades indígenas. Poderia até contar a história do cidadão norte-americano
que viajava sobre a selva.
Poderia ter ficado aqui e narrado ao seu público o tratamento que a empresa Gol
está dando à tragédia, um exemplo de postura que eu nunca tinha visto em
situações semelhantes, aqui ou no "primeiro mundo".
Poderia ter descrito o trabalho sobre-humano dos valentes "marines" brasileiros,
que até hoje estão enfrentando corajosamente a violenta mata amazônica na busca
de sobreviventes e, na sua inexistência, na remoção dos
corpos, enfrentando um inferno que nunca será suficientemente descrito.
Poderia ter se contido no julgamento dos culpados. Nem você, Joe, sabe quem são
eles. E não estou condenando os pilotos. Não incorrerei no seu erro. Pelo
contrário: eles têm a minha solidariedade pois, ainda que tenham tido a maior
fatia de culpa, certamente não tiveram a intenção. Eles também são vítimas
desse desastre, como o cidadão honesto e trabalhador que, distraído, cruza um
sinal vermelho e causa a morte de inocentes.
Os fatos têm que ser apurados. Pilotos, fabricantes das aeronaves, companhias
aéreas, fabricante do transponder, controle de tráfego aéreo. Temos que
aprender com a tragédia e evitar que outras semelhantes ocorram.
Em respeito às vítimas do 1907.
Os culpados têm que ser punidos, independentemente de sua intenção. Deus queira
que não sejam os pilotos, porque nenhum cidadão da Terra merece carregar esse
peso para o resto da vida.
Quanto a você, Joe, perdeu uma grande oportunidade de ser útil à humanidade. De
fazer valer a vontade divina de salvar a sua vida. De escrever seu nome na
história do jornalismo. De ter um pouco mais do que seus quinze minutos de