Após a abrupta cambalhota de Durão Barroso bem em face dos "tangueados" portugueses - servindo os secretos desígnios de Bush, ascende à presidência da União Europeia - Santana Lopes sucede-lhe no cargo a cair de podre. Este, malbaratado e traído - imbecilmente até fragilizado pelos próprios amigos - soçobra politicamente através do que muita gente designou por golpe constitucional.
Dissolvida a Assembleia da República, as eleições legislativas que se seguiram colocaram no alvo das opções o cordial adversário televisivo de Santana: José Sócrates - e não o PS - sob um programa que prometia um belo ramalhete de cravos na lapela dos mais carentes, foi designado por maioria primeiro-ministro.
Eis então que, num repentino volta-face, porque o saco estava muito mais roto do que o previsto e a tanga herdada já nem ao cinto estava presa, José Sócrates passou de imediato a executar medidas muito mais severas e gravosas do que a anterior governação.
Nas eleições autárquicas e presidenciais que se sucederam, o Povo português sequer hesitou na eliminação pura e simples dos devaneios políticos do PS. Resultou até que, se Manuel Alegre decidisse deveras seguir avante e cobrar as humilhações que o aparelho lhe fez, o PS, reduzido a 15%, estava na iminência de desmorenar-se.
Perante a evidência exposta, o panorama em decurso apresenta Cavaco Silva em Belém, personalidade vertical, digna, honesta, responsável e sobretudo oportunamente providencial para suster a nefanda desmotivação que pairava.
Outrossim e em São Bento, José Sócrates, pela frente e por trás, move-se de encontro a duas montanhas: as diversas oposições (tacho, só tacho e blá-blá) que, como a nu e cru se constata, proclamam o melhor produzindo o pior, e o aparelho do seu próprio partido, onde num só golpe de vista, mostrando e demonstrando o que não se vê, aparece Almeida Santos a dar-lhe palmadinhas nas costas, figura que o Povo nunca elegeu deveras fosse para o que fosse.
Em suma, se as duas naus dobrarem a tormenta que agora atravessam, os portugueses bem poderão reclamar a Camões que acrescente ao seu primeiro verso mais dois barões assinalados e saudá-los efusivamente logo que porventura aportem à praia da tranquílidade.
Entretanto, Cavaco Silva, apesar de "nada poder fazer" como tanto insistiu e proclamou o seu mais acicatante adversário político, é de facto o que sobre o timão tem as mãos mais livres.