Ao cabo de umas quantas e quase suadas diligências para contornar os escolhos da voraz predação implantada, neste caso sobre o suor miolar de outrem, e que quanto a mim mais longínqua colocam a auspiciosa visão do gajeiro de Pedro Álvares Cabral - façam-se as contas que se fizerem não se percebe que ouro ou proveito se logra com as independências lusa e brasileira em relação ao mundo global do bondosíssimo senhor Bush - tenho entre minhas mãos e bem defronte a meus olhos o primeiro livro com poemas " ENFIM, RENASCI ! " de Lílian Maial, médica carioca e usinal pioneira desta tribuna literária onde eu milito em gostoso e permanente beMal.
Ora, tal como da clássica frase se extrai, Lílian, para consumar a sua terrena existência, plantou pois uma árvore, fez filhos e escreveu pelo menos um livro. Assim, segundo o reduzidíssimo parecer de um reduzido arauto do pensamento, a poetisa poderia desde logo morrer tranquíla porque haveria cumprido o seu lídimo dever em face da vida.
O que emana do conceito descrito dá-me uma enorme vontade de rir e, sem hesitar um segundo, obriga-me a alinhar sem mais ao lado do pensador que afirmou que durante a vida o indivíduo permanece em contínua aprendizagem, quiçá até chegar ao ponto de cortar a árvore, matar os filhos e queimar o livro. É exactamente defronte ao profuso espólio lengalengante da humanidade que em mim se impulsiona a vontade de escrever, de escrever até à exaustão, de escrever até de todo me finar. À lupa do meu modesto raciocínio, chafurdando no meio da monstruosa lixeira do mistério que os sistemáticos predadores do espírito me legaram, o ser humano, porque não se reconhece no vulgar animal que de facto é, enquanto assim persistir, não terá a mínima hipótese de franquear a porta da felicidade plena aos vindouros.
Como atrás ia escrevendo, antes de ter derivado para o mundo perdido da grotesca predação dos seres inteligentes, tenho, sim, aqui e ainda oculto na embalagem postal, aqui no Porto e em Portugal, o primeiro livro de Lílian Maial, que é deveras uma poetisa em língua portuguesa que apenas e felizmente conheço através de foto - e que linda mulher é - e dos seus magníficos versos, ora romanticamente excelsos, ora de produzir aos leitores - bem expresso à moda da minha terra - um tesão do caraças. Logo que me encarreire na direcção do próximo sono, vou começar a lê-lo assim que me deitar, recostando-me à cabeceira de meu leito e ao mesmo tempo a fumar deliciado o último cigarrinho, ou dois, da jornada enquanto saboreio a leitura.
Após ter reunido meus neurónios no tribunal do tempo, local absolutamente ermo que é só meu, os estranhíssimos e doutos magistrados decidiram, em louvor de Lílian Maial, apresentar a juízo público dois efectivos réus acusados de gravíssimos crimes poéticos, um, por delito cometido a 16.1.2002, e outro nove dias adiante, a 25.1.2002. Aprecie-se pois a causa, porque, em minha modesta opinião, há no desiderato muita-muita empolgante poesia, essa exemplar fada racional que é sobretudo o mais eficaz dos balsamos. espirituais