Resumo: O fato de alguém ser presumido inocente nos tribunais até que se prove o contrário, não significa que aqueles de nós que não estamos no tribunal temos de assumir a mesma presunção.
Apesar de anos de constante dieta de atitudes de "não reprovação" a que estamos submetidos pelo sistema educacional e pela mídia, ainda não perdemos todo o senso do certo e do errado.
Pode até ser este o caso de nossas elites, o que pode explicar como alguém pôde pensar que o livro de O. J. Simpson sobre o assassinato de sua ex-mulher e seu amigo seria aceito pelo público. Aparentemente, os gênios que bolaram a coisa pensaram que algumas palavras bonitas afastariam qualquer objeção séria e que algumas vozes iradas cairiam muito bem como publicidade de graça para o livro.
Somos submetidos a tais imposições tão freqüentemente que é compreensível que alguns pensem que atingimos um estado em que aceitaremos qualquer coisa.
Afinal, os pais chegam a aceitar a idéia de que as escolas se incumbam da tarefa de introduzir seus filhos ao sexo – na idade e da forma (freqüentemente grosseira) que a moda em voga nos círculos educacionais ditar.
Como contribuintes, temos aceitado calmamente o fato de que nossos impostos sejam gastos em dispendiosas, retorcidas e feias peças de metal expostas em frente ou no interior de edifícios governamentais, em nome da "arte" – arte que nunca objetiva dar ao público qualquer prazer e que, não raramente, representa o escárnio e desprezo do artista pelo público.
Temos nos curvado a totalitários minúsculos como a ACLU [*] que tenta, todo ano, eliminar mais e mais símbolos natalinos. Eles têm até intimidado muitas escolas e estabelecimentos comerciais para que se mude o termo "recesso natalino" para "recesso de inverno". Algumas lojas têm sido intimidadas para não usarem o termo "Feliz Natal".
Mesmo assim, aqui e ali as ovelhas se rebelam. A questão pode ser importante ou insignificante mas, de qualquer forma, nós mandamos um recado aos "inteligentes" de que não aceitaremos sempre sua "inteligência".
Por anos, os "sofisticados" militantes da "não reprovação", têm defendido que Pete Rose deveria estar no Hall da Fama do Baseball. Quaisquer que tenham sido as normas que ele tenha violado, seu desempenho em campo é tudo o que importa – ou assim eles dizem.
Por esse raciocínio, Shoeless Joe Jackson deveria também estar no Hall da Fama do Baseball, apesar de seu papel no World Series de 1919. Afinal, Shoeless Joe teve um índice de rebatidas de .408 no ápice de sua carreira e um índice médio geral de .356. Estes são números para o Hall da Fama.
Mark McGwire, com seus 70 home runs em 1998, teve um ano muito melhor do que qualquer um de Pete Rose. Então, você pensaria que os comentaristas de baseball que votam em tais enquetes estariam todos a favor de colocá-lo no Hall da Fama, apesar do escândalo dos esteróides e do depoimento de McGwire no Congresso, onde ele se refugiou por trás da Quinta Emenda quando questionado se usava esteróides.
Mas, aproximadamente três quartos dos comentaristas consultados dizem que não votarão nele, mesmo que nada tenha sido provado contra ele. Nada foi provado nos tribunais contra os jogadores envolvidos no escândalo da World Series de 1919, mas todos eles foram banidos do baseball mesmo assim.
O fato de alguém ser presumido inocente nos tribunais até que se prove o contrário, não significa que aqueles de nós que não estamos no tribunal temos de assumir a mesma presunção. Constitui parte da irrefletida repetição de palavras, tão comum em nossos dias, o fato de tantas pessoas não conseguirem fazer tão básica distinção.
O parlamentar Alcee L. Hastings não foi condenado nos tribunais por alegados subornos que ele aceitou quando era juiz federal nos anos 1980. Mas, os juizes seus pares levantaram tal suspeita, seus colegas democratas na Câmara dos Deputados votaram sua cassação e os democratas que controlavam o Senado removeram-no do cargo de juiz.
O que os parlamentares estavam votando não era se deviam mandar Alcee L. Hastings para a cadeia, mas se não era muito arriscado deixá-lo com todos os seus poderes como juiz federal.
Aparentemente, a futura presidente da Câmara, deputada Nancy Pelosi, estava disposta a arriscar colocando este homem de passado suspeito como responsável pela Comissão de Inteligência da Câmara. Mas, protestos do público, incluindo também alguns da mídia esquerdista, mostraram que a atitude de "não reprovação" não eliminou ainda o senso e a decência comuns.
Há, ainda, débeis sinais de esperança.
Publicado por Townhall.com
Tradução de Antônio Emílio Angueth de Araújo.
[*] American Civil Liberties Union – Associação americana das liberdades civis. (N. do T.)
Thomas Sowell é doutor em Economia pela Universidade de Chicago e autor de mais de uma dezena de livros e inúmeros artigos, abordando tópicos como teoria econômica clássica e ativismo judicial. Atualmente é colaborador do Hoover Institute.