Há um século a ambiência portuguesa estaria-não-estaria no mesmo grau sofismático em que está agora? Que ar é este que sobre os portugueses paira carregado de dúvida permanente? Os honestos saúdam efusivamente os ladrões, felicitam-se, cumprimentam-se e persistem afrontar com pompa um povo perplexo e desmotivado.
De Palavras Cínicas
Por Albino de Forjaz Sampaio
Pratica sempre o crime, consciente, reflectido, dissimulado. Sê sempre mau e faz sugerir aos outros que és bom, sê sempre torpe dizendo-te honesto. Nada de violências. Hipócrita, cauteloso e subtil, conseguirás tudo, serás tudo, terás tudo. Uma hora de amor de uma casada, uma condecoração, um emprego, a confidência de um segredo que compromete, de um vício que aviltece. Para isso é necessário saberes insinuar-te, que a questão está em ter manha. Dissimula rindo, ri ferindo. As tuas ambições, os teus egoísmos, os teus vícios e as tuas qualidades, tudos isso se mascara. Chama-se fidalguia à ambição, ao egoísmo desinteresse e ao vício honradez. É só trocar os rótulos ao sentimento.
Palavras afectuosas
De António Torre da Guia
Insiste, persiste, participa empenhadamente no clima que gera a azada sementeira donde fruirás o produto do teu empenhado esforço. Coloca-te ousadamente defronte de tudo e de todos que não se congreguem em direcção ao rumo para onde o teu almejado ideal aponta. Sê subtilmente pragmático e não te deixes sobretudo distrair entre os interstícios que acoitam a adversidade tácita que desmotiva a existência e obstrói as promissoras nesgas do alento. Não permitas que o sorriso-feito te seduza e o discurso impregnado de falência milenar se insinue no teu destino. Destrona quem se senta onde te queres sentar e marginaliza todos os inúteis. Nunca renuncies ao direito de lograres para ti, de facto, o modelo que te apaixona e definirá o ser. Vá, impressiona, eleva a modéstia e a humildade por forma a que a óbvia submissão que contêm enfim se extinga de uma vez por todas.