No ranking mundial da corrupção, pesquisado e divulgado pela ONG – Transparência Internacional, o nosso país figura como um dos mais corruptos do mundo. Pegou o septuagésimo lugar, pulando do sexagésimo segundo lugar em 2005. Isto é, crescendo a olhos vistos a nossa imagem de corruptos. A ONG diz apenas que tivemos uma “piora significativa” o que para nós é a vergonha das vergonhas máximas. Mas, ainda existe o consolo de dividirmos o septuagésimo lugar com oito países: China, Egito, Gana, Índia, México, Peru, Arábia Saudita e Senegal. Será que o mundo está se corrompendo rapidamente? Pelo visto não vai sobrar muita coisa honesta no mundo todo e isto é ruim para os negócios. Mas, não acreditamos que o Brasil pegou o septuagésimo lugar apenas com determinada quantidade de informações sobre a corrupção de nossos “patriotas” brasileiros. Existe uma forma de corrupção que não é catalogada nos anais da História, nem é levada em conta pela ONG – Transparência Internacional: o nepotismo. Excetuando-se o Judiciário que de forma franca e ousada aboliu o nepotismo em seus quadros funcionais, dando um exemplo notável de atitude e patriotismo, o resto dos poderes estão impregnados vergonhosamente pela corrupção nepotista, a qual, também – vergonhosamente – é permitida pela nossa problemática Constituição de 1988. Assaltar os cofres públicos juntamente com toda a família, mascarando os valores auferidos como salários é, infelizmente, permitido pela Constituição brasileira. O que nos causa repugnância, não à problemática Constituição brasileira, mas aos indivíduos que a redigiram e aos atuais políticos que fazem uso dessa forma “oficial” de se apoderarem do dinheiro público. Atualmente, protegido pela Constituição, o político ao atingir o poder – por mais puritano que seja – vai encontrar uma maneira de enganar todo o eleitorado ao colocar parcial, ou totalmente, sua família em empregos públicos sem nenhum concurso, alegando sempre que ninguém tem mais competência do que os membros de sua família. Porém, qualquer inteligência de mediana para baixo pode identificar o emprego de parentes em órgãos públicos como uma escandalosa forma de corrupção. Isto porque somente os mandatários de cargos eletivos e seus subordinados diretos se acham no direito de exercer o nepotismo em toda sua magnitude.
Assim os poderes executivos e legislativos continuam podres, enquanto não chegarem a um consenso sobre o fim dessa flagrante forma de corrupção. Mas, além do nepotismo existe também o cabide de emprego, que são os empregos gerados sem concursos para os “amigos do rei”, dando – também flagrantemente – o aviso a todos nós de que concurso público não gera estabilidade no emprego, desestimulando a juventude que estuda e luta com muito esforço para se conquistar uma vaga de forma correta e justa. Além disso, a Emenda Constitucional nº 19/98, efetuada no governo FHC, que versa sobre a Reforma Administrativa, em seu artigo 41, altera o estágio probatório de dois anos para três anos, no propósito de deturpar os sonhos de alguém que passou no concurso e começou a trabalhar. Isto porque até o candidato aprovado ser chamado para trabalhar já se foi um ou dois anos. Quando começa a trabalhar, muda-se o mandatário e aí o bicho pega. Se for conveniente ao novo mandatário o destino do pobre funcionário público concursado – ainda em interminável estágio probatório – è a rua da amargura. Será trocado por um parente que poderá ser a esposa, concubina, concunhado, primo do primo e até as amantes, que nada fazem, além de arrumar as flores em vasos sujos. Por isso, até que me provem o contrário, o nepotismo é uma flagrante forma de corrupção e até aquadrilhamento de uma família, ou de várias famílias de políticos quando assumem os cargos eletivos. Diante desse quadro de governabilidade não parece que vivemos numa séria República, mas sim numa velha e velhaca monarquia.
Infelizmente é isto aí, amigos leitores...
Jeovah de Moura Nunes
Jornalista e escritor
(publicado no jornal “Comércio do Jahu” nº 26790, de quarta-feira, 29 de novembro de 2006 – página 2 – Opinião)