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Artigos-->ESBOÇO DE UM ARTIGO SOBRELITERATURA INFANTIL... -- 09/01/2007 - 17:07 (ARY CARLOS MOURA CARDOSO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DA FUNÇÃO DA LITERATURA INFANTIL





Resumo: Este artigo realiza uma reflexão sobre a literatura infantil, focando sua análise na questão da função da mesma. Faz um rápido levantamento diacrônico, após abordar o problema conceitual e conclui que a literatura infantil ideal tem como função específica ajudar no despertamento crítico dos futuros leitores adultos.





Palavras-Chave: Literatura infantil, conceito, função da literatura infantil.





1 – Introdução





De modo geral, a literatura é um espaço todo especial por onde perpassa aquele eterno desejo do homem em ser maior do que tudo, do que ele próprio, do que as circunstâncias. A literatura implanta nos seres abertos a expectativa de um devir sempre melhor. O jogo simbólico inerente ao fenômeno literário (embora possa também ser o contrário), traça percursos de esperanças que as coisas podem ser bem deferentes do que são. Talvez a literatura seja de fato a expressão máxima dos anseios humanos. Nela, sem dúvida, podem desfilar os vários discursos. Daí o olhar que vai ao encontro do literário ser dotado sim de instâncias lacunares instigadas, sobretudo, no “desejo de ser-leitor”.



Neste trabalho, será feita uma rápida análise da literatura conhecida por “infantil” trabalhando especificamente a sua função. Antes de tudo, ao nos lançarmos à história, digamos, deste gênero é perfeitamente observável que normalmente ela tem se apresentado mais pedagogia que literatura propriamente. Deste modo, as estórias tidas como infantis conduzem as crianças por vieses exteriores às palavras inculcando-lhes a verdade social.





2. Que é isto: literatura infantil?





O mundo da criança sempre foi visto pelo adulto como que inferior ao seu. Os signos, portanto, apontam para espécies de modelos, arquétipos a serem seguidos, imitados, introjetados. O grande objetivo é levar a criança a aprender as “verdades” sociais. Daí ser ela premonitória, ao menos parte de sua produção.



A categoria literatura (verossimilhança) toma aqui um lugar todo especial, pois a “realidade” passa a um nível de absolutos, reforçando, é claro, todas as artimanhas e interesses dos que estão sob a perspectiva de dominação. O fenômeno é tão sutil que poucos percebem a manipulação da escola ao arranjar as respostas que o alunado deve apresentar. Nas palavras de Maria José Paolo (1996, p. 9): “passividade e persuasão acompanham a recepção dos modelos da verdade verossímil”.



Pouco, ou quase nada, se sabe a respeito dos interesses velados presentes em todo esse mecanismo. A coisa envolve também as próprias editoras. Por isso, nada deve escapar ao olhar crítico. Não se pode esquecer que a própria classificação de “literatura infantil realista” padece de uma pobreza filosófica tendo-se em vista que normalmente ela apenas expressa, via linguagem, o que anda circulando como ideal. Nos termos de José Paolo (1996, p. 10): “Linguagem carregada de ideologia que permeia cada fala do narrador, cada diálogo dos personagens e tem um destinatário certo: o leitor infantil, cujo pensamento se pretende capturar”.



Não sobra assim, alternativa para a criança. Ela é mero aprendiz e deve se acomodar na voz imperativa do narrador e de sua leitura social. Na base de tudo, pode-se dizer que se encontra um modelo de organização social onde a essência é uma espécie de consumismo tresloucado. Há, sem dúvida, exceções, são incontestáveis as mudanças ocorridas, aqui e ali, nos últimos tempos. Talvez “História Meio ao Contrário”, de Ana Maria Machado, seja o grande marco destas tentativas de transformações.



O imaginário infantil, conforme estudos feitos, exige também, no que diz respeito à sua literatura, imagens que podem ser facilmente desviadas para o terreno das vontades e dos interesses de um grupo, classe ou indivíduo. À guisa de multiplicidade e diversidade, às vezes chega-se às raias, digamos assim, da “lixeratura”. Portanto, é de responsabilidade do professor, desde os primeiros momentos escolares, pôr seu aluno nas “trilhas” de uma leitura que persiga a tão decantada “auto-realização” do sujeito. Já neste nível, com as devidas adequações, devemos lançar hipóteses, experimentar, duvidar, enfim, fazer com que o aluno sinta a vivacidade do texto, dele sendo capaz de extrair sentidos e descobertas. Portanto, a inteligência e a sensibilidade da criança hão de ser trabalhadas tendo como intenção primeira o desabrochar de um verdadeiro leitor, garantindo não só uma ampliação dos significados das coisas, mas também gerando uma visão de mundo mais abrangente e consistente.





3. A função da literatura infantil





Ao se falar em função da literatura infantil, não se quer afirmar um juízo de que exista a função. A verdade é que a formação da criança passa por toda uma aventura repleta de percalços e o pior é que ninguém disso escapa.



A relação tão próxima entre esse gênero da literatura (infantil) e a pedagogia (aqui num sentido menor do termo) acabou significando para alguns uma degenerescência da própria idéia de literatura. O fato de a burguesia se apropriar definitivamente da literatura infantil a fim de servir-se dela como seu instrumento de propagação ideológica, acentuou ainda mais a concepção de que não estamos diante de literatura. Desta forma, como pontua Zilberman (1990, p. 126): “Cabe colocar a questão não apenas a partir de uma sociologia da infância, mas tomar como base a vivência que esta tem do mundo, a nível propriamente existencial”.



O problema se instala exatamente pelo fato do adulto supor que a criança não passa de um “espaço vazio”. Não resta dúvida que a criança ainda não é portadora daquelas experiências que só o tempo dará; todavia, o que parece estar em jogo mesmo é sua impotência no tocante à ordenação das vivências. Ora, se a criança – não importam as razões -, não consegue realizar leituras do universo a partir do seu “interior”, é provável fazê-las através de caminhos que sugiram ao menos um auxílio. É exatamente aqui onde entra a literatura infantil. Ela, segundo Zilberman (1990, p. 125): “lida com dois elementos que são especialmente adequados para as conquistas desta compreensão do real: a história e a linguagem”.



A história vai criando uma ilusão do real e assim mexe com toda a estrutura da criança. No que diz respeito à linguagem, esta se confunde com o conhecimento propriamente dito, o ler se construindo como uma armadilha sagaz de aquisição do saber.



A verdade é que a literatura infantil oferece, pode-se dizer assim, uma válvula de escape (ou ao contrario) para que a criança “fantasie” suas compreensões e alargue sua percepção. O que não pode estar assegurado é conduzir a mesma sob forte pressão opressiva, ou seja, o que importa é única e exclusivamente a ótica do adulto, onde se faz presente a sua formação, quer de cunho moral, quer de cunho ideológico. Ainda que tudo se evidencie, é claro que o adulto irá sempre se postar na defensiva alegando que não há “doutrinação”.



Apesar das questões levantadas, a literatura infantil pode oferecer à criança não só um apanhado histórico consistente, como contribuir satisfatoriamente para um alargamento de seu universo lingüístico.



Outro dado de muita relevância é ser a literatura infantil avessa a tema único – romance tal – não se apresenta, portanto, apenas uma forma – poema, por exemplo – e transita livremente do real para o imaginário fantasioso, isso sem falarmos nas ilustrações e nas manifestações mais peculiares como as histórias com animais e contos de fada.



Se ao adulto a carência própria da criança é preenchida com as suas experiências acumuladas, nesta (criança) tudo é permitido. Sem dúvida, um escultor infantil leva vantagem na manifestação criativa, pois o seu leque é bem maior. Mas, infelizmente, são poucas tais experiências. Tanto que Zilberman (1990, p. 129) é categórica: “não é o que acontece, uma vez que, de modo geral, eles apenas se apropriam, do ponto de vista técnico e temático, dos resultados alcançados pela literatura para os adultos”.



Desta maneira, não se pode mesmo falar em avanço literário. A fantasia se ajeita naquela dimensão compensatória, pois desfila um vasto contingente de “miseráveis”. Não que este fenômeno seja radicalmente prejudicial. Haja vista a necessidade que a criança tem de preencher o espaço surgido como incapacidade de encontrar respostas para a dura realidade. Mas na verdade, tudo parece conspirar contra a criança. Ora, dada a parafernália “maravilhosa” inculca na mesma um típico comportamento de submissão. A personagem central – representante, é óbvio da criança, só se salvará mediante uma intervenção do outro – lógico que, na esfera real – corresponde ao adulto. Já se enfatizou que muitos trabalhos infantis nadam na contramão disso. Certos autores assumem um compromisso de reação ao instituído como ideal e desconstróem o estabelecido numa tentativa salutar de fazer da literatura infantil um rico e poderoso instrumento do despertar do senso crítico. Portanto, a classificação de literatura realista corresponde, no plano artístico, o que é próprio ao humano no plano da realidade. Ser ou não ser literatura, assim, depende do jogo de coerência interna e coincidência com uma visão qualquer de humano, ou seja, de “humanidade”.



Se o real é muito duro, fere a dignidade humana, então, mascara-se, embeleza-se o que for necessário, modificam-se as circunstâncias e obscurece-se aquela área que não interessar.



A literatura infantil, apesar de tudo o que se exarou acima, não poderá jamais ser atacada como dispensável, desde que toda a fantasia que lhe é peculiar, não seja uma grotesca e arrogante manipulação ideológica. Ademais, os verdadeiros problemas desta modalidade, nas palavras de Zilberman (1990, p. 131): “São conflitos vividos entre ser ou não ser literatura, o que não significa necessariamente uma diluição na generalidade da arte literária, devido à constituição específica de seu recebedor.”



Deste modo, apesar da literatura infantil ter uma função histórica – preencher um vazio existencial -, hoje, ela precisa ousar romper os grilhões ideológicos e ajudar não só nos aspectos de despertamento da leitura, mas, sobretudo, conter aquele grau de consciência tão fundamental para que construamos uma existência mais digna. Há de ser o lugar privilegiado onde o espírito crítico flua e avança sem qualquer laivo de hesitação.









4. Conclusão





Espera-se que este artigo tenha servido para “incomodar”, sobretudo os educadores envolvidos com educação infantil. O seu intento é este mesmo. Estudar a fundo área tão complexa é mesmo um grande desafio. Mas, se quisermos educar nossas crianças, não para serem tartarugas, como advertia Nietzsche, mas, sim, para exercerem uma cidadania ativa, crítica e inteligente, então, haveremos de considerar a leitura e, portanto, o papel da literatura infantil. O compromisso maior dela é atacar essa maneira de ver as coisas sempre sob a ótica obediente, servil, pacífica e nunca sujeitos da ação. A função, destarte da literatura infantil de valor é empurrar a criança para que alce vôos como a águia.



Prof. Ms. Ary Carlos Moura Cardoso.





Referências Bibliográficas



CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: teoria e prática. São Paulo: Ática, 2000.



PAOLO, Maria José. Literatura Infantil. São Paulo: Ática, 1996.



ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil e Ensino. São Paulo: Cortez, 1990

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