(dedicado a um amigo leitor que me contatou através da USINA, questionando-me sobre o que escrevo a respeito das ditaduras)
Entendo como democracia à possibilidade do ser humano viver livre, no seu cotidiano de ir e vir; mas, principalmente, a grande oportunidade de, espiritualmente, ser livre. Isto significa, basicamente, ser livre para pensar, e neste contexto ser livre para colocar pensamentos os mais diversificados para outros seres humanos, os quais na maioria dos casos vivem na iminência de perderem sua liberdade de pensar, imaginando que continuam livres, porque a liberdade de ir e vir prevalece. Esta é a liberdade física que qualquer ditadura tanto do passado, quanto do futuro permite. Em resumo: liberdade física é uma coisa; liberdade de pensar é outra completamente diferente. Esta última é a que as ditaduras não apreciam e reprimem sempre com a violência das torturas e dos assassinatos. Quem tem preguiça e receio de pensar viverá muito bem nas ditaduras. Tais pessoas apreciam as ditaduras, mesmo que seja um exímio profissional graduado.
Se não houvesse o pensamento, que na sua essência sempre foi livre, não haveria o país chamado Brasil. Não haveria nenhuma nação. As nações nascem primordialmente do sentimento de liberdade, que depois se transformam em idéias e ideais, que nada são do que o pensamento livre. O pensamento nasce livre e morre livre, porque ninguém consegue abrir a cabeça de um pensador e retirar de dentro dela o seu pensamento. As ditaduras acham que pode. Logo que o tempo passa, descobre-se o enorme equivoco e o regime autoritário se esfumaça. Ficam as seqüelas por gerações. Nosso país, embora tenha no âmago das células, (que são as famílias), o sentimento grandioso da liberdade de pensar, confiando que somos um país democrático, a nossa história tem demonstrado que não é bem assim. Temos convivido com ditaduras das mais cruéis. Sempre aparecem com a desculpa de salvar o Brasil. Salvar do quê? Se o que norteia o país é o sentimento nativista de homens que têm o costume de viver a liberdade e colherem os frutos que ela dá gentilmente a todos nós!?
A ditadura nasce quase sempre como produto da articulação de homens frustrados. Quando digo que estamos por um fio na travessia da liberdade de pensar para mais uma forma de governo, que vai querer impedir essa liberdade de pensar, não afirmo bobagens. O clima é idêntico, apesar do cenário ser outro. Mas, o cheiro é o mesmo. Refiro-me ao golpe de 1964. Havia corrupção. Muita corrupção. Havia mentiras. Muitas mentiras. Os militares estavam insatisfeitos. Primeiro com os salários. Juntaram essa insatisfação com os perigos da ameaça socialista quando a guerra do Vietnã dava início, e com as acusações falsas de muitos políticos energúmenos, que diziam publicamente ser o presidente da República, o famoso “Jango”, (João Goulart) um comunista convicto. Não era. Mas, a visita dele à China (comunista) foi a gota dágua. Ora, hoje analisamos isso como uma visão muito realista e avançada do Jango. Tanto que todo o mundo agora quer visitar a China. E assim os militares auxiliados pela igreja católica, que aliciou a classe média, através de uma organização católica, (ponta de lança do Vaticano), denominada “TFP – Tradição – Família – Propriedade”, que acabaram por financiar movimentos de rua, dando ótimas oportunidades às Forças Armadas de aplicarem o golpe. O resto nós já estamos carecas de saber. Somente quando os padres e freiras entraram também nas filas dos espancamentos e torturas, bem como o filhinho da mamãe (classe média, cujos filhos não eram tão xucros conforme se imaginava), foi que a igreja e a classe média decidiram pelo fim da ditadura. Mas, já era tarde demais. Os generais gostaram do poder. Eles também usufruíram formas de corrupção das mais avançadas. Esta ditadura foi mais corrupta do que todos os anos até agora de liberdade que este país já viveu. As seqüelas posteriormente foram terríveis e até hoje deparamos com impressionantes depoimentos. Até mesmo os bandidos comuns nos dias que correm, evoluíram para a prática de crimes, usando os mesmos métodos dos guerrilheiros, que quando presos eram misturados aos criminosos comuns. Estratégia errada dos militares. A sociedade hoje está praticamente nas mãos dos criminosos, que usam métodos semelhantes aos jovens que lutaram contra a ditadura. Os seqüestros, os assaltos aos bancos, ataque às delegacias, organização através de organogramas difíceis de entender. O PCC é uma réplica incomum da bandidagem de hoje em confronto com a luta armada contra os governos nos anos sessenta e setenta. Vê-se que os militares eram mesmos burros. E talvez sejam até hoje. Naquela época servi o Exército em Brasília e apesar de jovem notei esses erros crassos. Estratégia errada e que traziam mais benefícios aos guerrilheiros do que derrotas.
Não existem boas ditaduras. Existem sim os cidadãos alienados. Longes, ou ausentes de seus direitos e deveres e por isso acabam por ter sua boa paz preservada, já que é exatamente isto que a ditadura deseja. No entanto, lidar com seres humanos não é o mesmo que lidar com o gado. Sempre vai existir alguém com mentalidade engrandecida o bastante para não aceitar o cabresto imposto pela bota dos militares, enquanto os “bonzinhos” fazem o jogo deles.
Claro que numa ditadura nem tudo é ruim. Existem obras, iniciativas, que marcam definitivamente como boas e necessárias. Vamos citar apenas um exemplo marcante a nível mundial: se não fosse por Adolf Hitler, um dos mais sanguinários ditadores do mundo, não haveria em toda parte deste mesmo mundo, o carro mais conhecido entre nós: o fusca. Foi ele Hitler que determinou a criação deste carro até hoje útil para o cidadão comum e até mesmo para quem possui grandes propriedades rurais. Tais criações não impedem as tragédias que uma ditadura impõe aos concidadãos do país vítima dela.
E para finalizar copiei de um jornal aqui de Jaú, a matéria abaixo. É interessante notar que o assunto ganho foco. Este artigo foi publicado ontem dia 04 de setembro, domingo, de 2005. Não é estranho que o país começa a pensar coletivamente o assunto. O artigo abaixo é de André Diniz, advogado e membro da OAB. Naturalmente que ele não fala em ditaduras, o foco de nosso assunto aqui. Mas, é algo que se percebe sua contínua mesmice. Eis que o nosso país com tantas e tantas ditaduras, injustiças exorbitantes, ainda capenga no que chamamos de instituições. Decididamente nunca funcionaram a contento.
(Jeovah de Moura Nunes)
"Reforma política e democrática ", de André Diniz
A política brasileira é hipócrita, antidemocrática e vergonhosa. Hipócrita por se dizer um sistema democrático de governo simplesmente por possuir eleições diretas e secretas, enquanto que o comércio de voto é estimulado pelo voto obrigatório. Obriga-se uma massa ignorante a eleger os mais populistas com campanhas milionárias, que só quem está no meio pobre tem acesso ao dinheiro para campanha.
É vergonhoso ver nossos parlamentares votarem secretamente as leis do nosso país. O discurso é um, o interesse e a norma que é votada passam a ser outros. A infidelidade partidária vem a contribuir para a hipocrisia da nossa "democracia", dando mais importância ao interesse pessoal que à própria ideologia discursada pelo partido.
Para atuar em uma profissão, temos antes que fazer uma faculdade. Os políticos também deveriam cursar uma faculdade específica para quem quer se eleger, a fim de obterem noções básicas de cidadania e ética, entre outras coisas, antes de ingressar no poder. É curioso. Para fazer parte do Executivo ou do Legislativo, é necessário o voto do cidadão e, para fazer parte do Judiciário, não. Na nossa comarca, por sorte, temos magistrados íntegros e justos, mas todos nós sabemos que não é assim pelo Brasil afora.
O que dizer então da nossa polícia? Com toda sua eficiência no combate ao narcotráfico, gastam-se milhões para encontrar cocaína engomada na roupa, ou encontrar uma moita de maconha na caatinga, mas, por outro lado, não se vêem as grandes falhas nas nossas matas, ou as gigantescas máquinas de 200 toneladas que derrubam e carregam toras e que ainda são transportadas e embarcadas em portos. Não é preciso dizer que se toda as drogas fossem vendidas nas drogarias muitas pessoas tidas como cidadãs do bem ficariam pobres do dia para noite.
Envergonho-me, às vezes, como advogado e membro do sistema judiciário, quando alguém diz que rico não vai para a cadeia, mesmo roubando dinheiro da saúde e outros tantos programas sociais do quais depende a vida de milhões de pessoas, enquanto o ladrão de supermercado, motivado pela necessidade, furta algo para sua sobrevivência e, com isso, é humilhado e preso.
A mídia é a pior das tiranias. Com seu status de reveladora das verdades, ganha muito dinheiro transmitindo notícias padronizadas. Engana as pessoas e favorece os interesses de poderosos. Por exemplo, as notícias sobre o conflito no Iraque e no Afeganistão. De um lado estão, segundo os noticiários, os rebeldes ou os terroristas, que, na verdade, morrem corajosamente como homens-bomba por não possuírem armamento para lutar, defendendo, assim, seu país contra os invasores. Do outro lado, os terroristas de verdade, que não precisam de homens com coragem, já que seu armamento é capaz de matar à distância. A mídia chama-os de força aliada ou "democratas" salvadores da justiça mundial.
Por isso, muita atenção na hora de votar o referendo do desarmamento. O desarmamento do cidadão de bem só é bom para o governo autoritário, impedindo assim uma possível revolução popular. E também para o bandido, que, estando livre de tomar um tiro, tem facilidades na hora de entrar em sua casa. Lembre-se: mais vale um revólver à mão que a polícia ao telefone.
A culpa de toda essa sujeira é nossa: pessoas aptas a reivindicar, mas que preferem não arriscar a sua reputação de homem "correto" a passar a fazer parte de um grupo revolucionário e revoltado com a hipocrisia institucionalizada.
Vamos nos unir para acabar com essa pseudodemocracia e implantar uma verdadeira. Monte o seu grupo ou envie sugestões para
andredinizdagama@ibest.com.br.
André Diniz é advogado e membro da Comissão do Meio Ambiente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).