Num país em que a imaginação tem substituído a ação, ao longo de sua história, não é difícil dizer o que é arte, o que é literatura. É quase tudo, como nos tempos primitivos quando até tratados de medicina eram escritos em versos, como se fossem poemas. Literatura é quase tudo, dissemos, a começar pelo jornalismo, a oratória, o cinema, os quadrinhos, a anedota, o folclore, as memórias, as cartas, as biografias e autobiografias, os diários, tudo isto é literatura, menos a propriamente dita literatura.
Da poesia, do conto, da novela (não a de televisão), do romance, da crônica - onde está a verdadeira literatura, o brasileiro não quer saber. Estou dizendo que ele não lê mesmo uma leitura ligeira: – apenas se informa e quando é obrigado pela escola, mais precisamente pelo vestibular. E quando procura alguma é de best-sellers americanos dos piores, é livros de Paulo Coelho ou os milhões de exemplares que se publicam de auto-ajuda. Claro, ninguém pode condenar o livro de auto-ajuda, mas não é literatura.
– Você já leu o romance “O Coronel e o Lobisomem”, de José Cândido de Carvalho?
- Não, mas eu assisti o filme.
Não diz nem ao menos correto: “eu assisti ao filme”. Como se assistir a um filme baseado num romance, num conto, fosse o mesmo que fazer sua leitura e ver uma novela de televisão baseada numa peça de teatro fosse o mesmo que ler a referida ou ir vê-la no palco.
Não obstante, há uma literatura forte e diversificada no Brasil como não existe em nenhum outro país latino-americano. Argentina, México, Colômbia, Peru, por exemplo, possuem um ou outro autor famoso e só, porque foram morar na Europa. Os brasileiros, não. Fazem-na aqui e agora, com garra, com suor e sangue. O escritores que buscam a ficção (a poesia também é inclusa, de outra feita tentarei explicar isto) não estão só à busca de ganhar dinheiro, querem trabalhar a língua, o pensamento, o sentir dos homens, o pulsar da sociedade; querem, é verdade, que seus nomes se perpetuem na história; porém, mais do que o nome, a obra, suas lições de liberdade e humanidade. É o que é literatura: - sofrimento. Os que vivem apenas o seu dia debocham do poeta. Literatura é poesia e dor; e luz que extrai da matéria viva para vivificar o espírito. Senão, por que escrever, sacrificar a vida, os outros prazeres, por esse ideal tão pouco compensador?
É preciso diversificar, no pensamento e na vida, tudo que é diverso é rico. Não se suporta a exclusão de todos os escritores por um ou dois que são eleitos para os vestibulares. Os Estados são ricos em literatura. O Brasil é imenso. O Piauí possui seus grandes escritores, não somente Assis Brasil, O.G. Rego de Carvalho, H. Dobal e Da Costa e Silva. Onde estão Hardi Filho, Francisco Miguel de Moura, Paulo Machado, Cinéas Santos, Rubervam du Nascimento, João Pinto, Magalhães da Costa, Fontes Ibiapina, Oton Lustosa, José Ribamar Garcia e tantos outros mais novos e mais velhos, vivos e mortos, cujos nomes não me ocorrem nem seria possível citá-los neste pequeno artigo?
Gostaria muito de aprofundar este bate-papo. Literatura é isto, diversidade e singularidade, riqueza de linguagem e riqueza de vida. Vamos ler boas leituras, minha gente.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora no Piauí, em Teresina, escreve para o “Diário do Povo” das sextas-feiras. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br