Pouco depois de nascer, engravidei e não posso abdicar do meu feto em português.
Pronuncio "vez", uma vez, duas e três, persisto em busca da diferença no tom e no som, analiso a tendência dos meus "bb" por "vv", palmeio os miolos, dou voltas e mais voltas ao cérebro estupidamente tal e qual fiel amigo rodando atrás do rabo até interrogar o além indignado por que diacho não se deve escrever "portuguez" e proclamar ao bíblico babelista crónico gritando com as goelas todas de fora: - Apre, ó odre, não me "portugues" mais. Basta-me os gestos para ser deveras um poligolota universal.
Ora então, como deverei eu escrever "gaguez" ou "gaguês"? Vá explica-me como é para que ganhes dificilmente uma bela vidinha e logo que eu aprenda e apreenda, coloca lá mais uma caganita para dares óbvia razão ao ôlho-de-rei do Camões.
Eu, dê o ser ou não ser para onde der, não abdicarei nunca do meu feto. Não posso, não tenho coragem para extirpar o invisível miasma que tenho de parir dia a dia.
E sabes, se ora bebo whisky e cocacola, estou tentando apenas fugir devagarinho do permanente punhal que me apetece cravar nas minhas próprias costas.