O conteúdo da página 4 do JN de hoje dilacera-me o pensamento, atira-me de boca aberta não sei para onde, com almejos de me diluir no espaço para não pensar mais.
Um bebé com apenas um-mês-e-vinte-dias de existência foi martirizado e seviciado sexualmente pelo seu próprio pai, um dantesco indivíduo de 23 anos que, olhando-o na foto, me nauseia e inspira ímpetos assassinos.
A justiça, entre as habituais formalidades adjacentes, aplicou-lhe 10 anos de prisão. Se cumprir a pena na totalidade, o seu hediondo crime é dado como expiado e será posto em liberdade em 2017, podendo voltar a exercer de novo o poder paternal.
A mãe, cúmplice inactiva nos abrenúncicos actos, vítima do "poder" da fera com quem escolheu partilhar a sua vida, penará atrás das grades quatro-anos-e-meio, talvez a desfazer-se toda por dentro sem saber donde terá vindo semelhante e tão dolorido destino.
Quem se admira pois que haja pessoas sob lei e com poder instituído que determinam a execução de estafermos desta envergadura ou muito pior ainda?
Ah... Cientistas, investigadores, políticos, pensadores, estóicos queima-miolos que de si dão o melhor em busca de extirpar de uma vez por todas o avantesmo busílis, avante, derrubem religiosidades estúpidas, extingam os deuses, logrem obstar a saída à imundice que o humano inopinadamente não cessa de brotar. Tumo começa no princípio e o nosso implantado princípio está profundamente errado e diverge dia a dia para um alucinante leque assustador.
Indignado, pergunto: como é que o monstro em apreço poderá reassumir o poder paternal? Deixem-no desde já livre, mas nunca mais lhe devolvam tão sublime faculdade.
António Torre da Guia |