À RTP, o que é da RTP, e a mim, o que é meu: a memória ainda pormenorizadamente acesa após 68 anos de pensamento e "meditação". Até sequer me esqueço do que se passou ontem...
Logo que Salazar concluiu a óbvia meditação (e não era um qualquer "papagaio meditador") sobre a conveniência-inconveniência de um tão revolucionário desiderato comunicacional, decidiu dar luz verde ao seu Governo para que se efectuassem as necessárias diligências no sentido de enfim se proceder à instalação da Televisão em Portugal. Assim, com a parceria do Estado, emissoras de radiodifusão privadas e entidades particulares, constituiu-se uma sociedade anónima que foi designada por "RTP - Radiotelevisão Portuguesa, SARL", cuja escritura teve lugar a 15 de Dezembro de 1955. As emissões experimentais, também destinadas à progressiva divulgação dos meios a utilizar, iniciaram-se quase imediatamente a seguir nos estúdios da Feira Popular de Lisboa. No ano seguinte, exactamente a 7 de Março de 1957, as emissões oficialmente regulares tiveram o seu começo, cobrindo desde logo cerca 65% do território continental..
Em homenagem aos pioneiros-comunicadores televisivos e aos sequentes profissionais que, sedimentando definitivamente a RTP, intervieram - entre jornalistas, apresentadores, actores e técnicos - encetando e alargando a delicada e complexa tarefa de abrir os olhos a um país amordaçado, por ordem alfabética e com o mínimo de omissões possível, tenho muito gosto em citar os principais nomes:
000099>Adriano Cerqueira, Albano da Mata Diniz, Alfredo Tropa, Alexandre Gonçalves, Almerindo Marques, António Lopes Ribeiro, Álvaro Benamor, Ana Zanatti, António Andrade, António Borga, António Santos, Alice Cruz, Artur Agostinho, Artur Anselmo, Artur Ramos, Carlos Cruz, Carlos Miguel de Araújo, Diana Andringa, Eládio Clímaco, Emídio Rangel, Emídio Uva, Fernando Balsinha, Fernando Frazão, Fernanda Mestrinho, Fernando Lopes, Fernando Penalva, Fernando Pessa, Fialho Gouveia, Franco Dias, Gomes Ferreira, Hélder Mendes, Henrique Mendes, Herlânder Peyroteo, Herman José, Horácio Caio, João Grego Esteves, João Vilaret, Joaquim Furtado, Joaquim Letria, Joaquim Vieira, Jorge Alves, Jorge Listopad, José Eduardo Moniz, José Manuel Santana, José Mensurado, José Manuel Marques, José Nuno Martins, Júlio Isidro, Lopes da Silva, Luís Andrade, Manuel Caetano, Manuel Varella, Margarida Gil, Margarida Marante, Maria Elisa Domingues, Maria Leonor, Maria de Lourdes Modesto, Mário Figueiredo, Mário Zambujal, Maurício de Carvalho, Melo Pereira, Neves da Costa, Nuno Fradique, Oliveira Costa, Oliveira Pinto, Pedro Moutinho, Ramiro Valadão, Raul Solnado, Rui Ferrão, Rui Romano, Serafim Marques, Soares Louro, Sousa Veloso, Teresa Olga, Trigo de Sousa, Vasco Hogan Teves, Vítor Manuel e, "se bem se lembram", Vitorino Nemésio.
Então, a percetagem dos lares que dispunham de televisores era reduzidíssima e, as famílias que na circunstância sequer tinham possibilidade de se embrulhar nas famigeradas prestações, reuniam-se nos cafés, sob consumo obrigatório, para fruir a atractiva novidade dos primeiros programas mais a preto do que a branco. Os nomes sonantes e muito populares de figuras que os portugueses apenas conheciam de ouvido através da rádio, começaram a aparecer em sucessão, quer informando noticiosamente o público e apresentando os mais diversos espectáculos, quer, com a intervenção de lídimos actores, actuando em programas gravados e ao vivo.
Dos que hoje têm pelo menos, como a RTP1, mais de 50 anos de idade, quem não se recorda das constantes interrupções que se revestiam com a seguinte legenda: "O programa segue dentro de momentos". Umas vezes por falha técnica, o que justificava tudo, outras vezes por telefonemas-azuis da censura então minuciosa e rigorosamente implantada, os telecpectadores portugueses gramavam pacientemente secas espectantes sem tirarem os olhos do televisor, ansiosos que a "areia" passasse e a programação retomasse a "normalidade". Eu recordo-me nitidamente da grande bronca que o saudoso Francisco José despoletou, quando, aproveitando o ensejo de uma sua actuação ao vivo, abriu o rol de desmandos e remandos que os artistas portugueses na altura suportavam. Desde logo se tomaram erméticas precauções para que "coisas-assim" fossem radicalmente evitadas.
Após o 25 de Abril de 1974, data a partir da qual, por parte de acérrimos "democratas" da parental igualha e índole "dos" que hoje em dia ainda permanecem na tentativa de censurar tudo e todos (por mero acaso aqui no Fórum "não-há-nenhuns-felizmente"), cometeram-se enormes injustiças, gravemente lesantes, sobre pessoas com impecabilidade cívica e política em apreço público, mas que foram a ôlho preconceituoso consideradas colaboracionistas do deposto regime. Entre a remodelação e a expurga a dedo, o estatuto da empresa foi alterado e a RTP foi nacionalizada, transformando-se em entidade pública com o título de Radiotelevisão Portuguesa, EP, segundo Decreto-Lei n.º 674-D/75, de 2 de Dezembro.
Ao correr de peripécias trágico-cómicas que inevitavelmente surgiram mirabolantes (mesmo a pedirem um oportuno advogado do diabo), tal como palhaço no circo a chorar e a rir às cambalhotas entre "atiçantes picadores" (que esplendorosa frase "matutada"!), a segunda-revolução tecnológica teve estreia a 7 de Março de 1980: os portugueses começaram a ver a sua vida e a do mundo a cores. Decorreram pois mais 27 anos ao sabor da ondulação que arrastou o país para a tão propalada crise que nunca mais acaba, assim como nunca mais acaba a espectacular gozação paga com dinheiro que ninguém sabe como é que se ganha. É evidente que a RTP, do bocalhão que recentemente se "cravou" e subiu ao Parlamento, se apresenta satisfatoriamente higienizada.
A terminar, não fugindo ao hábito do afadistado e habitual voto-aniversariante-em-ouro, desejo à RTP que cuide quanto antes, por "meditado", voluntarioso e urgente processo ético, da saudinha mental e psicológica do luso-povo-sempre-fiel à sua tradição histórica e continuamente assaz disponível para seguir sem hesitar os seus líderes, vão eles para a China ou para qualquer "marte"...
A última, nas decorrentes 24 Horas, é deveras interessante e, quanto a mim, constitui uma irónica luzinha para a azada reflexão dos actuais políticos-politiqueiros: a RTP, independemente das douradas-espinhas que fornece aos bichanos, proíbiu os Gatos Fedorentos de brincarem com o Telejornal. Bem, andam tantos a brincar-a-sério com a respeitabilidade das principais instituíçoes e das pessoas que as representam...
Antecipadamente, como já não estarei cá, "meditando" mais um pouquinho, formulo o voto de excelente bodas-de-diamante em 2032!...
Apre... O que é que sucede? Ah... O programa segue dentro de momentos...
António Torre da Guia
Porto - Portugal
DR/SPA 104l153 |