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Artigos-->Dedilhando nos miolos... -- 25/03/2007 - 01:32 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Já disse e escreveu tanta-tanta coisa sobre a origem do Fado. Diz-se que veio dali, escreve-se que nasceu acolá, algo de parecido como a mão-cheia de incertezas que pairam sobre a verídica data de nascimento do nosso vate-mor. Ora, escrevendo-se mais uma singela hipótese, não será por isso que a polémica confrontante mais se adensará.



Quem ignora que a hidra abordada pela Bíblia - o mostrengo de sete cabeças ao qual Hércules por mais cabeças que cortasse mais cabeças apareciam - somos nós, o conjunto que constitui a humanidade?



Quem ignora que o portuguesíssimo Fado, desabafante lamento cantado, advem da intensa luta que os portugueses, há cerca de dois séculos, travavam com esse "é a vida", expressão-súmula que considera todas as inevitáveis vicissitudes que as pessoas, queiram ou não queiram, têm de atravessar no decurso da sua existência?



Coloco-me a matutar sobre a origem da exígua cena fadista que percorreu o tempo, a guitarra portuguesa de um lado, viola do outro e ao meio de ambas a cantadeira, a Severa, e o cantador, o Chico do Cachiné, espécie de descoberta espiritual que constatou que a tristeza cantada conforta e consola a alma a ponto de até dar prazer.



Recuo meio-século na memória e recordo-me dos momentos em que festejava eventos pessoais com os meus amigos. Comíamos, bebíamos e discursávamos. Dado que entre os convivas não havia pelo menos um músico e um instrumento, uns cantavam, outros imitivam a música com a boca e outros ainda batiam com os talheres e as mãos sobre a mesa.



Interrogo-me então: não teria porventura o primeiro pendor fadista surgido em canto-lamento acompanhado por tamborilação sobre uma mesa? Implantado o hábito, logo que os trabalhadores suados regressavam à noitinha das fainas e se reuniam nas tascas para bebericar, conviver e cantar, terá surgido alguém a irmanar-se com um instrumento de cordas - guitarra portuguesa - que começou a dedilhar a contento. Em seguida ao bis-a-bis que se espalhou entre as gentes vizinhas, não tardou que acorresse um tocador de viola a completar o trângulo ideal que estabeleceu e fundamentou enfim o Fado.



Fico-me por aqui neste breve apontamento cogitante, pequeníssima coisinha que verte em raciocínio simples, do tipo das naturais evidências que iluminaram Colombo perante o ovo e Newton em face da maçã.



Deixo entretanto mais um Fado. Venha a música, a cantadeira ou o cantador:



MEU PRINCÍPIO e MEU FIM



Glosa sobre quadra decassílaba

Em quatro estrofes duodécimas



Nasci, foi registado que nasci

Na cidade do Porto, em Portugal,

E se pois pra nascer nada pedi

Para morrer só quero tal e qual!...



Ainda lembro a luzinha divinal

Que me cobria plena de candura

Entre o abraço quente da ternura

No aconchego de um amor total,

Mas também recordo o brusco mal

Que inocente sofri de quem na vida

Lutava em amargura padecida,

Quiçá para surgir agora aqui

A descrever o que então senti,

Poeta florescente de chão raso

E só talvez por este mero acaso

Nasci, foi registado que nasci.



De prazer e de dor adolesci

Como intenso agora vou vivendo,

Mau-grado pelo tempo já descendo

Da imposta montanha que subi,

De regresso ao sonho e por ti,

Ó lídima Musa, intentarei

Esquecer as mágoas que passei

Em vão no inóspito estendal

Do mundo, enegrecido lodaçal,

Que me traiu e obrigou a recolher

Ao berço da origem do meu ser

Na cidade do Porto, em Portugal.



Se de novo nascesse e colossal

O que desejaria eu alcançar,

Que modelo deveria adoptar

Para em êxtase feliz viver real ?...

Não lobrigo que haja algum sinal

Que me inspire lograr algum desejo,

Porque à vida sequer o céu invejo

Ou até os prazeres que já vivi

Que de sobra mil vezes repeti ;

Almejo e com fervor pretendo sim

Nada pedir até chegar meu fim

E se pois pra nascer nada pedi.



Do futuro que terei e venha aí

Meu desígnio passa pelo sonho

De superar o Inverno medonho

Que desconheço mas já preveni

Sob o esplendor de minha Musa

Na Poesia, deusa inclusa

Ao meu dilecto deus, o Movimento,

Trindade onde colho o alimento

Da paz dos dias em ponto final,

E como prá vida tive passaporte

Sem temer enfim a lei da morte

Para morrer só quero tal e qual.



António Torre da Guia

Porto - Portugal
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