O programa "Os Grandes Portugueses", que a RTP iniciou em Outubro transacto, acaba de terminar às primeiras horas da madrugada do último domingo de Março para segunda-feira.
Com a Maria Elisa toda de branco, a sugerir-me o negativo de uma foto, viam-se posicionadas em círculo, sentadas em cómodas poltronas, as figuras que foram encarregues de defender historicamente cada um dos dez finalistas, algumas delas muito mais preocupadas com a tenaz acusação sobre o «abrenúncico ditador» Salazar.
Afonso Henriques – Leonor Pinhão (Jornalista)
Álvaro Cunhal – Odete Santos (Deputada)
António de Oliveira Salazar – Jaime Nogueira Pinto (Prof. Universitário)
Aristides de Sousa Mendes – José Miguel Júdice (Advogado)
Fernando Pessoa – Clara Ferreira Alves (Escritora)
Infante Dom Henrique – Gonçalo Cadilhe (Jornalista)
Dom João II – Paulo Portas (Deputado)
Luís de Camões – Helder Macedo (Professor Universitário)
Marquês de Pombal – Rosado Fernandes (Prof. Universitário)
Vasco da Gama – Ana Gomes (Eurodeputada)
Leonor Pinhão, Odete Santos e Ana Gomes, as únicas três mulheres metidas nesta «gostosíssima liça» perderam mais tempo a afundar o defunto de Santa Comba Dão do que a elogiar os méritos dos seus representados. Maria Elisa, repetidamente, ia anunciando que a votação do «venha a nós 60 cts + IVA» continuava e que tudo ainda era possível. - Diacho, o que é que ainda seria possível?...
Em dada altura, Jaime Nogueira Pinto, defensor do "famigerado botas", viu-se obrigado a perguntar a Maria Elisa, em face da hediondez pidesca sugerida, se era ela ou ele que apontava os graves defeitos de Salazar, enquanto a Odete-PCP se contorcia como abóbora aflita entre um imaginado nabal fascista. Clamou mesmo que a Constituíção proibia o elogio ao fascismo.
Chegado o momento crucial, veio um tipo entregar um envelope «lacrado» à apresentadora, a qual, do décimo para o primeiro, começou a anunciar o resultado.
Os milhares de portugueses que votaram, escolhendo o seu «português-maior», e ainda pagaram por cima para o fazer, bom sinal e anúncio inequívoco de que não estão à rasca com 60 cêntimos para comprar um naco de pão, determinaram a seguinte preferência
1º. - António de Oliveira Salazar
2º. - Álvaro Barreirinhas Cunhal
3º. - Aristides Sousa Mendes
Para a maioria do telemóvel em riste, Afonso Henriques, Fernando Pessoa, o Infante, Dom João II, Camões, Marquês de Pombal e Vasco da Gama, sempre que for preciso, podem ser consultados em qualquer dos alfarrábios que por aí andam aos montes sem préstimo algum.
Defronte ao efeito obtido pela RTP, o que pensarão doravante os portugueses sobre «isto»? Presumo que dirão ligeiramente entre um descontraído encolher de ombros que por «isto e tantos istos assim» chegamos ao estado a que chegamos.
Alguém será capaz de dizer-me em que estado estamos? O que deveras significará este "estado" a que toda a gente se refere? Será falta de dignidade, de honestidade, de respeito e de ordem?
António Torre da Guia
Porto - Portugal |