Nota de 29 de março de 2007: este artigo foi escrito em 4 de julho de 2002, após visita à galeria situada à Rua Nova, Centro, em Pirenóplis (GO), onde estão expostas, em caráter permanente, obras de Elim Dutra diplomata e escultor que trabalha com madeira, pedra e metal.
ARTIGO
Quando entrei pela primeira vez na galeria com obras de Elim Dutra não imaginava o contraste entre a fachada colonial do prédio e o que encontraria em seu interior. Tive a impressão que interrompia uma reunião de sábios, tal a postura esbelta e imponente das esculturas enfileiradas em ambos os lados da sala.
O teto alto e o enorme vazio da sala, elemento permanente de acolhedor envolvimento, entrelaça de uma só vez cada uma e todas as figuras que lá estão, inclusive a do visitante.
Fiquei em silêncio, caminhei devagar e, frente a frente, olhei para cada uma delas, não só para admirá-las como um curioso qualquer mas, principalmente, para conhecê-las.
Procurei até mesmo tentar ouvir o que diziam. Fui levado a creditar que falavam não uma linguagem de palavras, com encadeamentos convencionais, mas, logo notei que a frágil estrutura dos meus ouvidos se fazia inútil. Entretanto, algo me era dado a perceber, até mesmo com certa facilidade. Só que agora, longe de Pirenópolis e perplexo, não tenho condições de lembrar ou repetir o que me teria sido dito. É pena.
Curioso, interessado que sempre fui por minúcias, percebi que na maneira de ser de cada uma delas, nas suas monumentalidades, havia equilibrada compensação dos elementos de que são formadas. Um, o corpo mais visível, a madeira, na intimidade dos seus veios em curvas infinitas que se emendam e se seguem nelas mesmas, como uma fita-sem-fim. Por ali escorregaram meus olhos e meus pensamentos. O outro, o espaço cheio de um vazio intrigante porque parceiro daquilo que era mais evidente, o corpo lenhoso.
Vi nos espaços que vazam de lado a lado e onde não está a madeira o contraponto às formas materializadas. Aqueles valem tanto quanto estas, pois, ao fugir do esperado, delas fazem parte e lá permanecem para serem vistos.
A medida em que me entregava a esta contemplação involuntária, fui levado a fazer um paralelo e a acreditar que os espaços vazios das esculturas ali expostas são como silêncios propositadamente presentes em minhas músicas, silêncios que fazem parte das estruturas criadas e que nelas estão para serem ouvidos. Nos espaços vazios daquelas esculturas nada está faltando como nada falta nos silêncios dos encadeamentos das notas que escrevo. Neles estão os elementos condutores e aglutinantes que ajudam a perceber as formas e que levam ao apreciador de um lado para outro, de fora para dentro e vice-versa, fazem-no girar em torno do objeto apreciado, seja ele material ou imaterial, como numa viagem sem parâmetros, onde os silêncios e os espaços se confundem e o viajante é levado para fora das perspectivas limitantes a que está acostumado.