A Leitora e o Leitor intuam-se na perspectiva de que estão a ver (ler) um curto filme em quatro planos sequentes e paralelos. Dei-lhe o título de "Bla-bla e ble-ble".
" - O Rali de Portugal começou da pior maneira. Um carro saiu da estrada e colheu cinco pessoas, ferindo uma delas gravemente". Foi com este enunciado que José Rodrigues dos Santos abriu o telejornal de ontem à noite, sendo de imediato interrompido por um spot publicitário, cuja empresa paga três vezes mais para que a RTP faça estas habilidades. Também através da televisão ouvi há dias que iriam ser tomadas rigorosas medidas de segurança sobre eventuais espectadores de ralis a fim de que este «tão saudável desporto para todos» não continue a fazer vítimas. Bla-bla e ble-ble.
O Governo engana-se no cálculo das despesas, gastando a mais um milhão de euros, mas em contrapartida também se enganou na previsão das receitas e logrou mais dois milhões acima do bruxo. Fantástico e, segundo um especialista da área, tudo corre normal, enquanto prossegue o galope das penhoras sobre contribuintes que já nada têm que se penhore ou estão a ser penhorados por lapso e executados indevidamente. Bla-bla e ble-ble.
Um partido estúpido como uma partida qualquer colocou um cartaz pelas paredes de Lisboa a protestar contra a admissão e acolhimento de emigrantes europeus em face de mais de meio-milhão de portugueses no desemprego e largos milhares atravessando situações de carência extrema.
Daí, Talvez e sobretudo incomodado com o silêncio posto sobre a eleição de Salazar como o maior dos portugueses de todos os tempos, Manuel Alegre, irrompendo da sua benquista caladura, foi ao Parlamento para proclamar que a Constituíção veda atitudes fascistas, ao lado de um outro deputado insinuou que o senhor Le Pen está a invadir a puríssima democracia portuguesa. Decerto, logo após tão suado e inteligentíssimo labor, Manuel Alegre regressou ao caça-e-praia habitual, enquanto o deputadíssimo democrata muito atento, que vive num país de liberdade-fraternidade-e-igualdade, terá corrido para aquecer a sua mais que justíssima panelinha. Bla-bla e ble-ble.
Oh... Como eu gostava que estes simpáticos tribunos explicassem tim-tim por tim-tim como se apanha o eléctrico em andamento para desde logo se arranjar um privilegiado lugarzinho a contar anedotas reabusadas ao povo português com o transporte aos solavancos e ainda por cima intimidando-o de encontro aos encostos da estupefacta tristeza em que milhares de cidadãs e cidadães vivem. Cá para mim, sob o arremessado ismo do fascismo existe um ismo muito pior, o manetismo, algo como presumir que outrem tem as mãos dentro do cérebro e é completamente maneta. Bla-bla e ble-ble...
Pois-pois, lá está: o Manuel Alegre visa um nédio pato bravo a levantar voo e zás... Pum-pum-e-pum!... - Ó Abreu, este é meu!... - Ó Mariaaaaaaaaa!!!...
António Torre da Guia |