Deus é uma hipótese, e a demonstração cabe ao teísta; mas até hoje não foi feita.
“Deus é uma hipótese, e, como tal, depende de prova: o ônus da prova cabe ao teísta.” (Percy Bysshe Shelley [1792–1822]). O homem primitivo criou deuses, supondo sua existência, tendo como prova os fenômenos naturais em seu tempo inexplicáveis. Hoje, que muito do que eram vozes dos deuses, atos dos deuses, etc. é fisicamente explicado, o homem que defendo o pensamento primitivo lança mão de muitos meios como tentativa de provar que o objeto de sua crença é uma realidade. Entretanto, nenhum indício convincente o teísta conseguiu apresentar até hoje.
A tentativa de Santo Tomás de Aquino trouxe mais dúvida do que indício (João de Freitas, “”). Se as coisas simples ou complexas da natureza não pudessem ser produto do acaso, muito menos o deus que se supõe tê-las criado poderia existir sem um criador; cada criador teria que ter o seu, numa seqüência infindável. Tudo caiu no vazio.
As características divinas, onipotência, onisciência, perfeição, são desmentidas pela própria Bíblia, que se considera a palavra de Deus. Os escritores ditos divinamente inspirados tinham uma visão do universo tão primitiva quanto à dos antigos caldeus, que adoravam os astros.
Poderíamos considerar bom (Salmos, 34:8), perfeito (Mateus, 5: 48) e justo (Salmos, 145: 17) um deus que “vinga a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e a quarta geração” (Deuteronômio, 5: 9)?
Poderíamos hoje aceitar como vinda de um todo-poderoso e onisciente criador do universo a informação de que o sol “principia numa extremidade dos céus, e até a outra vai o seu percurso” (Salmos, 19: 4-6)? Por que o criador não teria inspirado seus emissários a explicarem que o Sol não circula em torno da Terra, e esta é que orbita em volta do Sol?
Se o próprio Cristo disse que próximo de seu retorno “as estrelas cairão do firmamento” (Mateus, 24:29), estava confirmando a visão humana da época, como se vivêssemos no centro do universo, e os bilhões de estrelas que enfeitam o céu, minúsculas como parecem aos nossos olhos, pudessem cair “pela terra como a figueira, quando abalada por vento forte, lança seus figos verdes” (Apocalipse, 6:13). Isso está totalmente divorciado da propagada onisciência de um criador de todas as coisas.
Os mensageiros divinos deviam imaginar, como qualquer homem pré-histórico, um mundo quadrado; pois, se tivessem conhecimento da forma do planeta, certamente não falariam de “quatro cantos da terra” (Apocalipse, 7:1; 20:8). Como poderíamos determinar quatro cantos em uma bola?
Se, além de tudo isso, a cronologia profética dava este mundo por extinto em tempo muito anterior ao nosso, em que eu poderia firmar minha fé? Onde buscar evidências de uma verdade divina, se a descobertas humanas puseram por terra as afirmações dos chamados mensageiros de Deus?
Ante os dados arqueológicos atuais, como continuar acreditando que todo esse universo tenha sido feito em um período literal de sete dias (tardes e manhãs - Gênesis, 1: 1-31; 2:1) há aproximadamente seis mil anos?
Demonstrado o primitivismo cultural dos emissários divinos; não tendo esse deus conhecimento exato do próprio universo que teria criado, a hipótese divina resta-nos desprovida de qualquer fundamento.
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