O aforismo de Karl Marx, A história, primeiro, acontece como tragédia, depois como farsa, volta e meia, é usado pelos articulistas de nossa mídia. Embora o descaso, por parte de alguns formadores de opinião, com os históricos comunistas, é interessante salientar que o legado do velho Marx ainda é lembrado para embasar textos. Em se tratando de tragédia, essa frase é contundente.
A tragédia está presente no nosso cotidiano e nem sempre se repete como farsa e, sim, como a mais cruel realidade.
O mundo vive com medo e apreensivo. Ir ao trabalho e encontrar a esposa e filhos no fim de tarde tornou-se uma incógnita. Em algumas metrópoles uma aventura. Em outras uma epopéia. No Rio de janeiro um suspense.
As emoções urbanas são intensas. Sirenes. Correrias de policiais e delinqüentes. E bala zunindo.
Não dá mais para ficar alheio a tudo, mesmo que o gaiteiro toque um xote clinudo. Como diria o saudoso Jayme Caetano Braun.
Nesses últimos anos, após os atentados às torres gêmeas em Nova York, os noticiários tornaram-se mais desumanos. Contamos, aterrorizados, as vítimas nos trens de Madri, inocentes em Beslan e insensatez em Bagdá. No ano passado São Paulo parou por conta da violência e ainda choramos pelas crianças do Líbano. No Rio de Janeiro a barbárie tomou forma na saga do menino João Hélio. Continuamos contabilizando nomes de crianças e inocentes atingidos por balas-perdidas.
Nos Estados Unidos um maluco saiu dando tiro na Universidade Virginia Tech. A conseqüência do massacre foi de 32 pessoas mortas e sensacionalismo na televisão com a foto do assassino. E psicólogos vomitando teses acerca da mente do demente.
Quando vamos dar um basta nisso tudo? Quantas mães, ainda, precisarão chorar a morte dos filhos? Quantas passeatas de famílias enlutadas serão necessárias na praia de Copacabana? Quantas praias serão necessárias para depositarmos 1300 rosas vermelhas?
Se o velho Marx estivesse vivo, certamente, reformularia sua assertiva.
A versão atualizada de Marx poderia ser assim: A história, primeiro, acontece como tragédia, depois se repete como tragédia, se repete como tragédia, se repete como tragédia...