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Artigos-->DA ALEGRIA DO ENCONTRO AO FASCÍNIO DO -- 26/12/1999 - 20:32 (Simão de Miranda) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Paira uma urgência de se repensar a educação

na perspectiva da alegria do encontro com o

conhecimento, palmilhando as trilhas que

conduzem ao miraculoso fascínio do aprender,

desenvolvendo neste trâmite os aspectos

biopsicossociais de alunos e professores e

resgatando o prazer de aprender. Hernández

(1998:11-12), ao debater a organização do

currículo escolar e propor projetos de trabalho,

como uma forma de se repensar a escola, revela

ser uma idéia transgressora. Todavia, falar em

uma educação partilhada com a ternura, é

igualmente transgressão. A ternura parece não

ter lugar no frio e metálico mundo pós-moderno.



Para que se dê o que quero denominar de alegria

do encontro, a escola precisa apresentar como

requisito, concomitantemente à difusão do saber,

a difusão da fraternidade verdadeira e

epidêmica. Tomando as palavras de Assmann

(1998:23), a escola deve ser um lugar gostoso. A

alegria do encontro é, inapelavelmente, a

credencial mais segura que se pode adquirir no

ponto de partida do caminho da educação

escolar. Eu gostaria de uma escola onde a

criança não tivesse que saltar as alegrias da

infância, apressando-se, em fatos e pensamentos,

rumo à idade adulta, mas onde pudesse apreciar

em sua especificidade os diferentes momentos de

suas idades (Snyders, 1996).



O FASCÍNIO DO APRENDER



Ao pensar no encontro e no aprender situados em

uma sociedade de chips e softs, percebo, por vezes

um fenômeno preocupante. Causa-me certa

sensação nociva reconhecer a avalanche

inevitável desta revolução. Ao mesmo tempo em

que falamos de sentimentos, vemo-nos também

elementos integrantes do que conceituaram como

ERA DAS REDES, ou, como prefere Assmann

(1998:122), um aprendente na era das redes. Da

mesma forma, defronte a um escancarado mundo

da informação globalizada, com assustadores

volumes indigeríveis de dados, posto que,

conforme Hernández (1998:64-65), o hoje não é

como o ontem, e o amanhã é incerto. Entretanto,

repouso minha ansiedade na “profecia” de Gates

(1995) ao dar pistas de que, neste contexto, é

ainda mais convencedora a aliança entre o

prazer, a alegria e a educação. O gigante da

informática antecipa que o futuro do magistério

será promissor tão somente aos educadores que

injetarem energia, criatividade e fortes laços de

amizade com os alunos na sala de aula.



Voltando às nossas plagas, também Moreira

(1995) comenta que não se pode negligenciar o

sentimento, o afeto, o corpo, o prazer. Fatores

essenciais para a construção dos saberes e

conhecimentos. Para este autor, o aspecto

cognitivo é indispensável, mas não suficiente.

Coadunando-se com esta premissa, Assmann

(1998:30) acrescenta que



o cérebro/mente está feito para a fruição do

pensar. Por isso a ênfase no “pensar próprio” – não

apenas como pensamento que consegue tomar

forma e articular-se, mas também como uma

experiência humanamente gostosa – é um tema

pedagógico fundamental. O conhecimento só

emerge em sua dimensão vitalizadora quando

tem algum tipo de ligação com o prazer.



O fascínio do aprender não é, senão, atribuir

valor imensurável às vivências das experiências

de aprendizagem cotidianas, partilhadas

socialmente enquanto a vida for generosa. Assim

tenho repensado a educação. Assim, e com

fascínio, tenho aprendido a educação e tenho

crido ser este um percurso legitimamente possível.

A via que origina-se na alegria do encontro e

conduz ao fascínio do aprender não constitui-se

num trajeto cartesiano que vai de “A” a “Z”, mas

num itinerário híbrido e ininterrupto.



Com o intuito de reforçar meus argumentos,

recorro a Assmann (1998:29), com grifo meu:



precisamos reintroduzir na escola o princípio de

que toda a morfogênese do conhecimento tem algo

a ver com a experiência do prazer. Quando esta

dimensão está ausente, a aprendizagem vira um

processo meramente instrucional. (...) Mas a

experiência da aprendizagem implica, além da

instrução informativa, a reinvenção e construção

personalizada do conhecimento. E nisso o prazer

representa uma dimensão-chave.



O PERCURSO POSSÍVEL



No transcurso da nossa história da educação,

infelizmente, não foram muitos os autores que

buscaram fazer a ponte entre a aprendizagem e o

prazer. Gadotti (1993) destaca os nomes de Rubem

Alves e de Lauro de Oliveira Lima. O primeiro, diz

Gadotti,



refletiu sobre o valor progressista da alegria,

sobre a necessidade de o educador se descobrir

como um ser vivo, amoroso, criativo. As categorias

principais de sua teoria pedagógica são o prazer,

a fala, o corpo, a linguagem, o despertar e o agir.

(Op. cit. p.236)



O segundo,



na década de 60, difundiu as práticas da

dinâmica de grupos nas escolas e posteriormente

desenvolveu numa escola experimental as teorias

piagetianas da socialização e da inteligência da

criança. (Idem, ibidem, p. 236)



É, ainda, Assmann (1998:34) que, citando Rubem

Alves, advoga que educar é seduzir para o

saber/sabor. Quero extrair desta máxima a

compreensão de que um saber insípido será

provado uma única vez e logo abandonado.



É premente a necessidade de levarmos em

consideração aspectos importantes, e tão

desprezados hoje, na organização do trabalho

pedagógico a fim de que se propicie um ambiente

favorável a alegria do encontro e ao fascínio do

aprender. Entre eles, posso afirmar, sem receio de

errar, que a presença da ludicidade torna o

trabalho mais estimulante. Ortega (1990:05)

vaticina que



la fuerza motivadora que los niños imprimen a

sus actividades ludicas está intimamente

relacionada com la curiosidad epistemológica

natural del ser humano; por eso, juego y

aprendizage necessariamente deben estar

relacionados.



Acrescento, ainda, que o educador pode fazer uso

das atividades lúdicas como estratégias

incentivadoras e/ou metodológicas no decorrer

do trabalho pedagógico. O lúdico sensibiliza,

conscientiza e predispõe os envolvidos a uma

participação mais efetiva nas etapas do trabalho

pedagógico. Este também é o pensamento de Silva

(Cf. Miranda, Simão de, 1996:13), com o qual

naturalmente compartilho. O exercício do

potencial criativo dos alunos e a vivência de

experiências que tragam valor aos

relacionamentos humanos são, igualmente,

aspectos que merecem especial atenção por parte

do educador. Por meio da socialização, das

vivências coletivas, do paiol de emoções que

potencialmente é a sala de aula, das relações de

respeito, solidariedade e compreensão entre

alunos e professores, pode-se fazer o ambiente

pedagógico rico em alegria e fascínio. Se a escola

não se fundamenta sobre o atrativo dos

conteúdos, corre o risco de especular o temor,

temor de sanções imediatas e principalmente

temor de grandes fracassos tão freqüentemente

profetizados (Snyders, 1988). Devemos desejar o

pouco, porque essencial: amor ao labor,

fraternidade e ternura, ou, como tão belo ficou

no neologismo de Assmann (1998:14), fraternura.

Essa coisa, essa trama, esse gás que nos movimenta

e nos alimenta a chama.



CONCLUINDO



Acredito, inabalavelmente, no poder miraculoso

da alegria e do prazer, que está conectado à vida

e ao crescimento espiritual, coletivamente.

Precisamos, neste aqui e neste agora, regar nossos

sonhos de educadores e corroborar a semeadura,

o cultivo e a colheita dos sonhos de nossos alunos.

Reconheço que nenhuma inovação envolvendo

pessoas ocorre repentinamente. Sei que há um

tempo a ser gasto. Mas precisamos ser mais

rápidos. Persegue-me a certeza de que ainda não

falamos suficientemente da esperança e da

utopia, por isso a vontade de não pretender

concluir.



Como nos ensinamentos de Cora Coralina que

guardo de memória (e lugar melhor não há para

guardar o que nos fascina), "feliz aquele que

compartilha o que sabe e aprende o que ensina."



As pessoas, e igualmente os momentos

inesquecíveis, que mesmo se quiséssemos não os

olvidaríamos, tiveram raízes no encontro. Não

um encontro qualquer, fortuito, mas um encontro

de urdida trama. É impossível não nos

lembrarmos na nossa trajetória como aluno ou

educador de, ao menos uma, aula “encantada”.

O que “eles” tinham que carece em nós? A resposta

projeta um salto da ponta de minha língua, e

poderá não ser a única: os envolvidos no processo

estavam contaminados da alegria do encontro e

da expectativa do aprender. Não deveríamos

estancar este assunto.



Ainda não demoveram-me da idéia de que, assim

como a vida, a educação – que também é viva – só

faz sentido quando habitada pela expectativa,

feita do desejo em compartir-se, da jornada que

tem princípio na alegria do encontro com o

conhecimento rumo ao fascínio do estar sempre

aprendendo.







BIBLIOGRAFIA



ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo a

uma sociedade aprendente. Petrópolis, Vozes,

1998.

GADOTTI, Moacir. História das idéias

Pedagógicas, São Paulo, Ática, 1993.

GATES, Bill. A estrada do futuro. São Paulo,

Companhia das Letras, 1995.

HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança

na educação: os projetos de trabalho. Porto

Alegre, ArtMed, 1998.

MIRANDA, Simão de. Essa, você aprende

brincando! (atividades recreativas para salas de

aula), Campinas, Papirus, 2ª ed., 1996.

MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa. Escola,

currículo e construção do conhecimento. São

Paulo, Cortez, 1995.

ORTEGA, Rosario. Jugar y aprender. Madrid,

España, Diada, 1990.

SACRISTÁN, Gimeno & GÓMEZ, Pérez. Compreender

e transformar o ensino. Porto Alegre, ArtMed,

1998.

SNYDERS, Georges. A alegria na escola. São Paulo,

Manole, 1988.

SNYDERS, Georges. Alunos felizes – reflexão sobre a

alegria na escola a partir de textos literários. São

Paulo, Paz e Terra, 1996.

SILVA, Edgardo da. In: Miranda, Simão de. Essa,

você aprende brincando! (atividades recreativas

para salas de aula), Campinas, Papirus, 2ª ed.,

1996.















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