Andei um larguíssimo pedaço da minha vida a olhar para ele, a pensá-lo e a utilizá-lo indiferentemente sem vez alguma ter meditado sobre sua proveniência. Aprendi e apreendi a assimilá-lo apresentado ao contrário daquele que este teclado onde escrevo disponibiliza e, em vez de um, com dois tracinhos verticais: o cifrão «$».
No decurso dos anos as moedas passaram a ter uma representação gráfica genericamente constituída por duas partes: uma, sigla abreviada para designar o padrão monetário, que variou de país para país, e outra, o «cifrão», símbolo universal do dinheiro, que teve origem etimológica do árabe «cifr», que em português também deu lugar a cifra.
Conta-se que o general Táriq-ibn-Ziyád, o Conquistador (mais um dos tais amigos da paz...) e em nome dos Califas Omíadas, comandou a invasão do reino Visigodo no ano 711 da era cristã. Existem duas versões quanto ao caminho percorrido por este deliberado intruso árabe. A primeira aponta a sua partida de Tânger, da cidade de Marrocos e da qual também era governador. A segunda descreve que, para alcançar a Europa, Táriq teria partido da Arábia e passado, sucessivamente, pelo Egito, desertos do Saara e da Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos, passando pelo estreito das Colunas de Hércules para chegar enfim à almejada Península Ibérica.
Então, Táriq mandou gravar nas moedas em uso a comemoração do seu feito, uma linha sinuosa ao contrário do "S", que representava o longo e tortuoso caminho percorrido para alcançar o continente europeu. Cortando verticalmente esse caracter, colocaram-se dois tracinhos paralelos, os quais representavam as Colunas de Hércules e significavam a força, o poder e a perseverança da empreitada. O símbolo, assim gravado nas moedas, difundiu-se e passou a ser reconhecido tacitamente em todo o mundo como o símbolo do dinheiro.
Entretanto, porque deveras a vida é feita de permanente mudança (e persista viva a memória de Camões, porque também a decorrência actual há-de mudar, felizmente), o símbolo da nova moeda única é uma espécie de «E» maiúsculo atravessado por duas linhas paralelas, mas na diagonal. Inspira-se na representação da letra grega «epsilon» e invoca assim o berço da civilização europeia e a primeira letra do vocábulo "Europa". As duas linhas paralelas representam a estabilidade do euro (ah... ah... ah...) e quiçá a prova de que as duas colunas de Hércules foram abaixo.
No ensejo, com cumprimentos e saudações, Amigos, porventura não haverá por aí uma boa alma com corpo vigoroso que me empreste cem contos-de-reis em euros? Alguém fará ideia da grande cambada de ladrões-todos-honestos que se propagou e continua a propagar ao longo dos séculos?
António Torre da Guia |