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Artigos-->MUSEU ESTAÇÃO DOS SINOS DE SÃO JOÃO DEL-REI -- 10/07/2007 - 17:06 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




“Os sinos têm uma música própria: o repique ou o dobre, a música que no meio do tumulto da vida nos traz a idéia de alguma coisa superior à materialidade de todos os dias, que nos entristece, se é de finados, que nos alegra, se é festa, ou que simplesmente nos chama com um som especial, compassado, sabido de todos.”

(Machado de Assis)





Assim observou e escreveu um ilustre viajante que no século XIX passou nesta cidade: “Em São João [del Rei] ouvimos o toque de sinos de Oxford: durante todo o dia e metade da noite, escutava-se o "dobre", toque vagaroso, quando é usada a corda, e o "repique", toque ligeiro, em que o badalo é manejado com a mão. Era uma "fornalha de música", uma "sinfonia de tempestade" (Richard Burton, in Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho.).

O dramaturgo e sócio honorário do IHG de São João del-Rei, Jota Dangelo, assim escreveu em “O Aleijadinho de Vila Rica” (espetáculo de som e luz realizado na cidade de Ouro Preto, em 1978): “Os pés de hoje cobrem esses lajedos sem pensar que houve tempo em que se andava como se essas calçadas fossem brasas. Nos ovais da sineiras recortadas os sinos silenciam suas bocas. Incorporaram ao bronze das bacias anúncios que fizeram de outros dias, coroações de reis, rainhas loucas, novenas e missas de agonia.”

André Guilherme Dornelles Dangelo, confrade do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, estudioso da linguagem dos sinos, ao analisar as citações acima, afirma que “essas antigas relações antropológico-culturais ainda podem ser vislumbradas com todo o seu vigor, indiferente ao passar dos tempos, na cidade de São João del Rei, cuja tradição barroca ainda é marcante no espírito da cidade e delineadora dos seus ritos do cotidiano e por isso têm chamado a atenção de orgãos como o IPHAN e o IEPHA para a importância do registro das mais diversas manifestações intangíveis aqui preservadas, dentro da tradição do espírito religioso da comunidade sanjoanense”. André Dangelo sente que em São João del-Rei “a voz dos sinos renasce com toda a sua força, a traduzir e lembrar coisas que pareciam esquecidas na roda do tempo. É como um som constante que ecoa e caminha pelos entroncamentos tortuosos dessa antiga vila do ouro de Minas Gerais, revigorando sua alma barroca a cada badalada e se associando a um resgate diário da importânia do seu papel histórico e da sua memória sobre a forma de cultura”.

Assim, dada a enorme importância dos sinos e da linguagem deles para a memória mineira, nacional e, particularmente, para a cultura são-joanense, a presidência e os confrades do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, com a consultoria técnica do confrade-arquiteto André Guilherme Dornelles Dangelo e com o apoio especial dos sócios Adenor Luiz Simões Coelho e Jota Dangelo, acharam por bem colaborar com a tradição sineira são-joanense: idealizaram, buscaram parcerias para elaboração e apresentaram para o Ministério da Cultura um fantástico projeto: o da criação do “Museu Estação dos Sinos de São João del-Rei”.

O que pretende a equipe do IHG, enquanto provocadores do projeto, é ver o referido museu instalado em dois galpões da antiga EFOM, atualmente em desuso. A iniciativa de se criar um museu deste tipo é inédita nas Américas e traz a atualidade de sons e tradições de altos significados, num espaço interativo que honra o título de São João del-Rei como a cidade onde os sinos falam.

A proposta do “Museu Estação dos Sinos de São João del-Rei” visa oferecer oportunidades para se estudar mais detidamente a importância dos sinos como elementos de comunicação civil e religiosa nas cidades brasileiras nos séculos XVIII e XIX, principalmente. Visa também traçar a importância do sino na formação da identidade das comunidades e de seus agentes culturais. O empreendimento exporá o desenvolvimento da atividade de fundidores de sinos e o ofício de sineiros nas cidades coloniais brasileiras. A criação do sonhado espaço museológico permitirá a compreensão dos processos mecânicos de fundição dos sinos nos seus aspectos técnicos (a fundição propriamente dita) e aspectos físicos (a acústica e os harmônicos). Será também uma grande oportunidade para se inventariar o fantástico patrimônio campanológico de todo Brasil, com o auxílio de vasta iconografia.

O Museu, quando instalado, oferecerá um lastro enorme de imagens, sons, testemunhos, peças, procedimentos e sinais, distribuídos em quatro seções principais: ARTEFACTUM, MONUMENTUM, SIGNUS e CAMPANIS. A primeira seção – Artefactum – conduzirá o visitante a uma percepção cognitiva e rememorará a gênese da arte sineira e aspectos das etapas de fundição dos sinos; a segunda – Monumentum – abrigará acervo de objetos com exploração das percepções tátil e visual; a terceira – Signus – será como um portal de entrada para as celebrações religiosas e utilização dos sinos no mundo, Brasil, Minas Gerais e São João del-Rei; a quarta – Campanis – será composta por uma torre com quatro sinos onde o visitante poderá incorporar o ofício de sineiro, explorando a sua percepção sensorial. O museu explorará avançadas tecnologias virtuais e terá caráter educativo-patrimonial. Poderá, no espaço do museu, ser oferecido oficinas diversas, principalmente para a formação de uma nova geração de sineiros. No museu o visitante poderá interagir com a réplica de uma cava de fundição de sinos que explicará todo o processo, com uma oficina de Carpinteiro que explicará a montagem da “cabeça” ou “corpo” do sino, com um estúdio acústico que exibirá gravações e uma “escola” dos toques de sinos, tradicionais em São João del-Rei. Haverá espaço para a montagem de acervo de peças fundidas em todo o Brasil, com a colaboração do IPHAN e outras entidades. O museu disponibilizará um grande acervo digital e manuscrito contendo o registro e o inventário dos sinos e de toques de sinos em Minas Gerais, além de uma boa biblioteca de títulos e links especializados em campanologia.

Do projeto consta a criação de um estiloso “café”, a ser localizado entre os galpões, utilizando-se de vagões abandonados, que serão restaurados para tal finalidade. Haverá loja de souvenir e peças expostas ao ar livre, no entorno dos galpões.

O projeto foi apresentado pelo IHG em 2006, atendendo ao Edital da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo que conclamou as entidades e pessoas físicas para apresentarem suas idéias para a “Capital Brasileira da Cultura 2007”. Após ser aprovado em nível local, foi bem formatado pelo Santa Rosa Bureau Cultural para ser protocolizado no Ministério da Cultura, pelo confrade Adenor Simões. Assim, estamos aguardando a aprovação do projeto para que rapidamente procedamos ao trabalho de captação de verbas para a instalação do museu, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Pretende-se, tudo correndo dentro do cronograma previsto (o que, infelizmente, poderá ser bastante alterado se a greve dos servidores do Ministério da Cultura perdurar por mais tempo), que o MUSEU ESTAÇÃO DOS SINOS seja inaugurado ainda em dezembro deste ano, como um formidável presente de aniversário para esta cidade, como mais uma realização permanente da CBC 2007 e, também, como mais um trabalho dos confrades do Instituto Histórico Geográfico e de seus parceiros em favor da memória são-joanense, mineira e brasileira.





Fontes de consulta:

- Proposta para criação do Museu do Sino de S. Joâo del-Rei. André G. D. Dangelo, 2006.

- Projeto “Museu Estação do Sino/S. João del-Rei” – Santa Rosa Bureau Cultural, BH, 2007.

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