Conforme nos ensinou o escritor Jorge Luis Borges, todos os poemas e romances escritos ao longo dos tempos não fizeram outra coisa a não ser repetir em versos infinitos os mesmos temas. Paixão e desejo são temas recorrentes ao longo da cultura e da literatura ocidentais e percorrem a MPB e o pop rock da nossa contemporaneidade. O título deste artigo remete para a letra da música “ Balada do amor inabalável”, de Samuel Rosa, do Grupo mineiro Skank.
Estão em cena, na música do grupo mineiro, a paixão, o desejo, a presença do outro e o amor no cotidiano. Ressalte-se que tais elementos apresentam-se de forma difusa, nos mostrando o pulsar da vida na nossa contemporaneidade, época em que tudo está fadado a passar como um lampejo, pelo rápido envelhecimento e exaustão, conforme podemos observar nos versos de “ Balada do amor inabalável”:
Leve essa canção de amor dançante pra você lembrar de mim,
Seu coração lembrar de mim,
Na confusão do dia a dia,
No sufoco de uma dúvida,
Na dor de qualquer coisa.
(...)
Mesmo que a gente se separe por uns tempos,
Ou quando você quiser lembrar de mim,
Toque a balada do amor inabalável,
Swing de amor nesse planeta.
(...)
Planejando pra fazer acontecer,
Ou simplesmente refinando essa amizade,
Eu vou dizendo na seqüência bem clichê:
“Eu preciso de você”.
Como se pode observar, a fragmentação e a indefinição de sentimentos e idéias nos são mostradas em “ Balada do amor inabalável” como paradigmas do comportamento do homem contemporâneo, sempre pautado pela rápido movimento.Tal comportamento é bem expresso, quer seja pelos seus conceitos acerca da vida e dos relacionamentos como também pelo modo de organizar o discurso escrito. Em tal escrita predominam as elipses, a ocultação de objetos, usos de sintagmas verbais no gerúndio, o que fornece bem a medida de uma pseudo-continuidade, como também evita o comprometimento do sujeito em um relacionamento mais profundo. Observe-se quem planeja e o quê se planeja:
Planejando pra fazer acontecer,
Ou simplesmente refinando essa amizade
Segundo Sírio Possenti, a elipse denota uma indeterminação sintática a ser resolvida por regras semânticas e discursivas, levando o receptor da mensagem a lançar um olhar sobre os enunciados que antecedem aquele em que ocorre a elipse.
Ainda como marca do traço contemporâneo, na música em tela, apontamos, ainda, o clichê. O clichê constitui uma metáfora desgastada; um chavão, que funciona como agente de expressividade em virtude de sua própria banalidade cumprindo um papel ativo na expressividade do cotidiano revelado, em “ Balada do amor inabalável”:
Eu vou dizendo na seqüência bem clichê:
“Eu preciso de você”.
A música de Samuel Rosa, ao tematizar o discurso acerca do relacionamneto amoroso de um sujeito na faixa etária dos 25-45 anos, nos mostra uma certa leveza, que é dada pelo modo como as proposições são feitas para uma possível interlocutora e pelo uso de palavras inglesas, o que denota que esse sujeito pouco quer se comprometer e a cada dia busca uma novidade, sendo que o romance já possui data de início e de fim:
Mesmo que a gente se separe por uns tempos
Ou quando você quiser lembrar,
Toque a balada
Seja antes ou depois,
Eterna love song de nós dois.
O lirismo amoroso presente na cena musical do Skank nos mostra que os sujeitos se embaralham numa espécie de lugar vazio, de forma paradoxal: vazio porque é um espaço da possibilidade do vir-a-ser. Por outro lado, esse vazio é também fonte de angústia existencial e social, que vem a ser (mal) preenchida pelo clichê e pela eterna busca de algo que o sujeito possivelmente já encontrou, mas ainda não tem consciência do fato.