"Zé" Geraldo, conhecido como "Zé" Maia lá prás bandas de Serro do Frio, Iviturui, na linguagem indígena, cidade histórica e tombada pelo Patrimônio Histórico, bem pertinho de Diamantina. Conheci ali um tropeiro, o tio "Zé", do "retiro", lugar onde mora, numa grota, na várzea, bem na chegada à cidade de Serro. Cidadão brasileiro, lúcido que sentado no "rabo" do fogão a lenha, na cozinha de chão batido do casarão da terrinha onde mora sozinho, com o olhar perdido no tempo, recorda dos velhos e idos tempos de tropeiro, profissão hoje, inexistente.
Saiu de Serro e chegou até o Estado do Paraná, em sua juventude. Depois voltou e do seu "retiro" nunca mais saiu e, no dia 21 de abril, data de um mineiro, também ilustre, Tiradentes, completa seus bem vividos 85 anos de idade.
Sua irmã, Zaíta, sentada na varanda da casa centenária, resistindo ao tempo, recorda, em voz alta, da saudosa época em que a tropa era o único meio de transporte de carga. "É como se fosse hoje uma frota de caminhões", explica. "Os tropeiros cuidavam com orgulho dos animais, como os "caminhoneiros" zelam por suas máquinas possantes.
"Zé" Geraldo, homem forte, um bravo, tropeiro, mineiro da gema, fala macio, sincero, lúcido, acompanha ativamente a vida política de nosso País, numa demonstração de que o autêntico homem do campo, pequeno proprietário rural, não está alheio ao que acontece com os desmandos políticos ocorridos em sua terra, o Brasil, e, lamenta os lances desonestos e mesquinhos daqueles que, por dever de ofício, deveriam dar exemplo de cidadania.
Esse é o perfil do tropeiro, o último dos moicanos, de uma estirpe honrosa e honrada, que cedeu o seu lugar ao progresso, mas que contribuiu para a grandeza dessas Minas Gerais, de Tiradentes, da liberdade. Parabéns, "Zé" Geraldo, herói desconhecido, exemplo de guerreiro destemido e incansável, cujo exemplo reastaura nos mais jovens o gosto pela vida e, principalmente, pela luta insana de salvaguarda dos valores morais e éticos, sustentáculos do homem de bem, em prol de uma humanidade melhor.