O partido DEM (ex-PFL) divulgou nota acusando o governo do presidente Lula de ter mobilizado agentes do aparato de inteligência do Estado brasileiro para localização, captura e rápida deportação dos dois pugilistas de Cuba, que abandonaram a delegação de seu país durante os Jogos Pan-Americanos, no Rio. “Causa espécie a utilização dos nossos serviços de inteligência como um prolongamento da Polícia Política do ditador Fidel Castro, bem como o curtíssimo espaço de tempo entre a captura e a deportação dos atletas Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, localizados e detidos na quinta-feira, dia 02 de agosto, e embarcados, já na noite do sábado, em um vôo com destino a Cuba”, afirma a nota.
Isto tudo pode ser uma pequena reprise de um velho filme do passado, quando Olga Benário Prestes foi deportada para a Alemanha nazista, sob a alegação de que ela desejava “ter o filho naquele país”. E o artífice daquela tramóia toda foi um chefe de Polícia do Rio de Janeiro de nome Filinto Müller, que o povo colocou no Senado por muitos anos. Olga se foi. Teve sua filha numa prisão. Hoje, nem mesmo a filha deseja viver no Brasil, quando o carrasco Filinto Müller tem seu nome preservado numa sala do Congresso Nacional.
É admirável o quanto nós, brasileiros, detestamos os guerreiros, os que lutam contra injustiças, as vítimas de regimes opressivos e em contrapartida enaltecemos os homens de péssima reputação. Tanto que votamos constantemente neles para observarmos suas performances e o encantamento glamouroso dentro dos poderes da República. Para a maioria não importa muito que essa República esteja apodrecendo com tanta corrupção. O que importa é a expectativa das façanhas de homens de procedência duvidosa. O resultado é o sofrimento. Uma carga tributária selvagem. A educação em frangalhos.
Guerrilha urbana de primeiro mundo. Um sistema de saúde atolado na má vontade. Desemprego. Um seguro social crudelíssimo. Salário de fome. Escravidão no campo. Escravidão sexual. Apagão aéreo e também dos portos, os quais não conseguem escoar a produção agrícola e industrial. Muitos alimentos apodrecem nos containers e os exportadores têm seus prejuízos ignorados pelo governo. Invasões de fazendas que cerceiam e torna a propriedade privada uma ilusão. Dentro dos poderes - principalmente o executivo - grassa uma forma de criar emprego das mais indignas de todas as democracias: a contratação de parentes, de amigos e chegados políticos. Não precisa dizer que isto frauda a legalidade e a vontade de quem deseja vencer pelo esforço do estudo. Nosso País não merecia essas monstruosas anomalias.
Penso nos heróis brasileiros do passado. Se eles soubessem que chegaríamos aonde chegamos, não morreriam pelo Brasil.
Lembro-me do desvario na escandalosa divulgação do bandido inglês Ronald Biggs. Enquanto a Inglaterra solicitava em rogos a extradição do mesmo, nosso País, em plena ditadura militar, parecia gargalhar com a fama do bandido. Hoje sabemos que aquela apregoada imagem do assaltante motivou a evolução do banditismo de todas as castas sociais. Houve um forte estímulo à criminalidade na forma de compensações e pela pompa nos meios de comunicação. A lei que não premiou Olga Benário em razão de seu idealismo político beneficiou, e muito, o bandido inglês. A deportação às pressas dos atletas cubanos tem um significado suspeito de traição aos direitos humanos internacionais, mas só o tempo mostrará a verdade, já que a palavra dos porta-vozes não tem muito crédito.
A prisão do poderoso chefão Juan Carlos Ramires Abadia e a divulgação de sua enorme riqueza, a vultosa quantidade de dinheiro vivo mostrada pela televisão reforça mais ainda a ambição dos jovens nas famílias desesperadas pela miséria a entrarem no tráfico de drogas. Essa propaganda insólita nada mais é do que uma forma de convocar novos recrutas para as hostes do narcotráfico, afinal o terrível padrão de vida dos jovens sem emprego, sem escola, sem uma família de retidão cristã, já que esta última fórmula salvacionista também vive seus piores dias em razão da farsa comercial, deixa espaço para o jovem calcular que não tem importância sua prisão após uma vida de riquezas abundantes, mesmo sendo efêmera como foi a do boliviano Juan Carlos.