Excelente a crítica de Zózimo Tavares, neste jornal, dia 9 do corrente, com o título de “Exterminador do Passado”. Copio acima, em parte, o seu título e me dirijo àqueles que pensam que sabem escrever, mas cometem os mais comezinhos erros, quer falando, quer escrevendo. Sim, porque falar é muito mais fácil do que escrever. Falar é um ato mais livre, mais irresponsável, pode-se falar errado em qualquer lugar, o necessário é que seja entendido. Escrever, não. Escrever é coisa de elite, quem escreve bem, ou veio ou está na elite, conquistando-a de uma forma ou de outra, mas principalmente através da escolaridade.
Triste é quando se ouve pessoas que se dizem elite – e nem toda a elite sabe falar e escrever bem – pronunciando palavras da língua portuguesa com acento estrangeiro. Para tanto, a TV Globo, por ser ela o meio de comunicação mais abrangente do Brasil, criou uma espécie de pronúncia comum a todos os falantes de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Mas ela também comete erros graves tais como mandar ou permitir que se pronucie o verbo féchar, em todos os tempos e pessoas, com acento aberto; correta é a pronúncia com a primeira vogar fechada, isto é, fêchada – permitam-me figuração da pronúncia. Ou então a palavra circuito como se fosse cirquito – permitam-me novamente a figuração da pronúncia.
Até então estamos no reino da pronúncia, ou seja, da linguagem falada, que também possui suas regrinhas.
Na escrita, a coisa é mais feia, justamente porque ela deixa marca. As palavras voam, mas os escritos permanecem, como diziam os romanos. No artigo do Zózimo, nada a apontar, só elogios, mas vejo uma matéria ao lado, com o título de “Estudo sobre o Gurguéia começa em 30 dias” onde se lê isto:
Edson ainda informou que o governador Wellington Dias está indo a Brasília para discutir com a bancada federal e no Senado para ver a situação do projeto de criação do projeto do Gurguéia. Ele vai na Comissão de Constituição e Justiça, na Câmara e no Senado. ( ...)
“O deputado informou que a receita do Piauí em 2004 era de R$ 2,1 bilhão para todo o Estado, com a divisão os recursos seriam mais ou menos os mesmos, com uma área menor, com menos servidores e com mais investimentos.” A tendência é duplicar a receita com a divisão do Estado. Basta ver a situação do Goiás e Tocantins”, insistiu.”
Sublinhei e coloquei em negrito os dois erros gramaticais mais graves, os quais não sei se foram cometidos pelo jornalista ou pelo deputado. Não importa, ambos são elite, devem saber falar bem e escrever melhor o português. Há mais dois sublinhados em cujas expressões os encontros das palavras são desagradáveis e bem poderiam ser evitados: com menos servidores e com mais investimentos. Seriam cacófatos? De qualquer forma, numa linguagem bem asseada, seriam inadmissíveis.
Lá do outro lado da página, num artigo também assinado, encontro artigo em que o articulista registra os tempos de criança, quando ia passar férias numa fazenda, e assim escreve: “No café era leite mugido, cuscus de milho pisado no pilão e cozinhado no prato coberto com um pano.”
Apontar outros erros gramáticas e de estilo, neste e noutros jornais daqui e de alhures, seria necessário? Sim, sei que também erro. Mas criticar é necsessário, com a crítica é que se aprende. Porém esses são suficientes, por hoje. Ao deputado e ao jornalista, digo-lhes que Comissão nenhuma é meio de transporte em que se possa andar, ir. Correto é falar: ele vai à Comissão de Constituição e Justiça... Assim como o plural de bilhão é bilhões. E ao articulista, que leite não muge nem é mugido, quem muge é a vaca, quando quer e quando precisa. Correto é: leite mungido. Corrigindo a ortografia: cuscuz se escreve com um z final e não com s.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina – PI.