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Artigos-->Homenagem Póstuma ao Dr. Carlos Cesar Formiga Ramos -- 16/08/2007 - 00:51 (Ana Maria de Oliveira Ramos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ao Dr. Carlos Cesar Formiga Ramos



Morte! É duro o enfrentamento com a morte. É a certeza do destino de todos nós, porém o confronto com a realidade parece um sonho, é sofrido e é doloroso, mesmo para quem lida com ela no seu dia-a-dia.

E o sofrimento guarda dimensões proporcionais à intensidade, ao nível e ao tempo de convivência com o motivo da perda. Sofre-se por não mais se poder contar com a presença física, com os sons dos passos, com os conselhos, com a cumplicidade, com a experiência. Desespera-se por não poder escutar mais a voz, retrucar, consultar, discutir, dividir.

Dr. Carlos Cesar Formiga Ramos decidiu-se pela Patologia ainda nos bancos da Faculdade de Medicina, quando foi monitor do Departamento de Patologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, sob a chefia de Dr. Getulio de Oliveira Sales. Cursou a Residência Médica em Patologia em Recife, sob a tutela do inesquecível Professor Dr. Raimundo de Barros Coelho e do experiente oncologista Dr Adonis de Carvalho, quando deve ter sentido, com segurança, que seu real caminho era o de elaborar brilhantes diagnósticos e de repassar seus ensinamentos a quem o procurasse com dúvidas ou através de suas admiráveis aulas.

Em 1972, foi brilhantemente aprovado em primeiro lugar em dois concursos quase simultâneos para Professor em Anatomia Patológica, antes em Recife, na Universidade Federal de Pernambuco e depois, em Natal, decidindo-se em assumir a cátedra na UFRN, por motivos familiares.

Foi Coordenador Geral das Residências Médicas da UFRN por décadas e pensou nelas e no seu futuro até nos seus últimos momentos, preocupando-se com a continuidade de tantos anos de investimento na formação de jovens, nas mais diversas especialidades da medicina.

Também ajudou a criar o Serviço de Verificação de Óbitos do Rio Grande do Norte, nos tempos em que o mesmo ainda funcionava nas dependências do ITEP, nos anos de 1973, logo ao retornar a Natal. Em 1991, conseguiu transferir o SVO/RN para um novo prédio, tornando-o independente do ITEP, e que existe até os dias atuais, num anexo do Hospital Giselda Trigueiro de Doenças Infecciosas.

Foi um baluarte na luta ao combate ao câncer no Rio Grande do Norte, trabalhando diuturnamente no Laboratório da Liga Norte-rio-grandense Contra o Câncer, dispondo-se a realizar exames de congelação até aos sábados. Também se dedicou ao combate ao câncer infantil, ao colaborar com o Hospital Infantil Varela Santiago, realizando exames gratuitos para aquela entidade filantrópica.

Sua capacidade de trabalho extrapolava sua condição física, pois, desde 1986, exercia patologia no maior laboratório de patologia de Natal (Laboratório Médico de Patologia Getulio de Oliveira Sales), onde só parou de emitir laudos ao se sentir gravemente enfermo.

Pensou também na qualidade dos diagnósticos de pacientes do SUS e, há cinco anos, havia fundado um Laboratório Médico de Patologia do Seridó, situado na cidade de Caicó, o qual agora leva o seu nome e atende aos recantos mais distantes e interioranos do nosso Estado.

Foi um ser indescritível que conseguiu criar décadas de saber e anos de evolução científica, tendo sido um exemplo para a ciência do nosso Estado e que dedicou uma vida inteira ao ser humano. Na sua humildade e no seu silencioso modo de ser, recebeu justa homenagem durante o XXV Congresso Brasileiro de Patologia realizado em Natal em 2005.

De sua imagem pacata e tranqüila, muitos dos seus ex-alunos devem agora recordar após sua partida. Os que se encontram distantes e os demais que aqui permanecem devem concordar que ele sempre foi o fiel da balança e o equilíbrio nos momentos de crise da patologia norte-rio-grandense.

Agora Dr. Formiga descansa em paz, porém deve, em sonhos, ainda estar corrigindo e ensinando seus alunos e seus colegas, enviando mensagens de prudência e de coerência aos seus pares e tentando coordenar positivamente a vida daqueles que dele dependiam e que dele sentem tanta falta.

Com seu eterno silêncio, seu sorriso calmo e sua serenidade constante, ele plantou uma imagem de segurança, de solidariedade, de seriedade, de dedicação e competência a ser seguida por todos seus descendentes e por aqueles que fazem a patologia do Rio Grande do Norte.

Partir é como dizer que não há mais retorno. A morte é irrevogável. Para uma criança inocente, entretanto, resta o consolo de poder imaginar um canal livre para se comunicar com o mundo de Deus, poder conversar com a saudade e aliviar a sensação de perda.

E, certamente, como amigo, pai, avô e colega, numa condição transcendental, Dr. Formiga conseguirá a permissão divina para atender à ligação internauta da neta e do neto espanhol, o qual nem chegou a conhecer. A eles responderá que está tudo bem e em paz, que foi acolhido por Deus por ter sido um ser que realizou obras de infinita bondade e doação, salvou vidas com sua sabedoria, formou jovens para o futuro da medicina e da patologia e realizou monumentos dignos e reais, de um modo humilde e sem alardes, marcas maiores do seu perfil inesquecível!



Natal, 11 de junho de 2007

Ana Maria de Oliveira Ramos





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