Ainda lembro a profecia de um grande estadista, veiculada nos inícios dos anos sessenta. Charles de Gaulle, dizia: “O Brasil não é um país sério”. Naquele momento histórico, as reações foram imediatas por parte do governo central, e dos governos aliados.
Quase cinqüenta anos depois, a profecia continua a realizar-se, não dentro da sua totalidade, porque “O Brasil é um país sério”, levianos são alguns dos seus representantes que denigrem e vituperam aquele que “é belo, é forte, impávido colosso”.
Esta não é a hora. Chega uma hora em que a hora nunca chega, e quando se torna uma solução utópica, acolhemos anestesiados suas idéias e conceitos, para descobrimos mais tarde, na sala de recuperação deste Grande Hospital, que se trata da mesma hora de sempre. Hora de promessas que mofarão na umidade de palavras vãs e pestilentas, que passam por corações ressentidos e bolsos gananciosos, e são verbalizadas através de bocas onde o hálito mau cheiroso das falcatruas contagia o ar que respiramos, e nunca serão realizadas; hora de mentiras desavergonhadas e imbecis, revestidas da palidez e da paralisia de cérebros carcomidos por idéias e pensamentos oriundos de uma córtex disforme e inumana; hora de corruptores corrompidos se posicionarem à frente de pelotões e mais pelotões de corruptos desmedidos e impunes; hora em que a miséria humana alimenta os sonhos inescrupulosos e cheios de ambição, de uma reca impiedosa de sanguessugas ávidas da hemoglobina dos caquéticos e anêmicos do solo pátrio; hora do tapinha no ombro e do riso fácil, cínico, nojento, espúrio, ardiloso, chacálico; hora de esconder a cara-de-pau (que nem os térmitas se arriscariam a alimentar-se), nos bastidores de um movimento, e encapuzar-se sob o tema "esta é a hora". São os mesmos. Mudam apenas o palavreado, as fantasias e adereços, e a modalidade de agir. Cada vez mais sofisticados e atrevidos, invadem os nossos e-mails e o nosso país, sem pedir licença, para convidar-nos a gritar, bater panelas, buzinar carros, realizar passeata, às 17h do dia 7 de setembro.
Quero comunicá-los - griteiros, panelistas, buzineiros e passeatistas - que a esta hora as minhas cordas vocais estão quase no limite; as panelas já estão recolhidas para o seu descanso justo, até o dia seguinte; a buzina do meu carro quase não é utilizada por fazer parte da assosciação das buzinas silenciosas (ABS); quanto à passeata, fiquem com o “passe” e dêem-me a “ata”, para que eu possa registrar o primeiro round da luta entre “vampiristas” e “hienistas”, luta desalmada, covarde, interesseira, egoísta, arrogante, prepotente, auto-suficiente, entre os facínoras e seus sequazes, entre os emporcalhados e desafetos.
Em assim sendo, permito-me não participar de mais uma hora da vergonha. Ficarei cantarolando por aqui aquela musiquinha que imortalizou Miltinho: "Cara de palhaço... Boca de palhaço... Pinta de palhaço..."