Na madrugada passada, entretendo a calorenta insónia com o cérebro repartido entre o televisor e os versos-do-diabo de Salmon Rusti, a EuroNews - eficaz a cento-e-um-por-cento e a RTP não vê nem ouve como se faz - começou por expor o grave estado de saúde de Luciano Pavarotti, o maior entre todas as afamadas sombras do «bel canto».
Prosseguindo, da ribalta cinematográfica, à volta de um filme sobre a vida de um jornalista político protagonizado por Richard Gear, este cotadíssimo actor americano, interrogando-se e interrogando o busílis em que se envolvem os títeres que vão aparecendo no planeta, perguntava como foi possível que no seu país George Bush fosse eleito duas vezes.
Assim como Bush, numa circunstância, foi reeleito por causa dos terroristas, Sarkozy, numa outra situação, ascendeu ao Eliseu por se ter imposto, com evidente resultado, aos energúmenos que foguearam a França. Todavia, entre a névoa que paira sobre as inopinadas ondas de violência, falta saber-se quem deveras as encomenda e faz despoletar.
Entre os mortais estertores que persistem na Palestina, no Paquistão, no Iraque e pelo mundo fora, sob a ameaça da fraude económica que a China tenta em catadupa exportar, um político, um cérebro que preconiza a solução através da cópia, apela para que a Europa constitua um corpo de polícia idêntico ao FBI americano, como se a embrulhada policial que lhe sustenta a asneira e sobretudo o lauto tacho esteja em vias de desembrulhar-se.
Entretanto, em Modena, onde tinha nascido há 71 anos, e às primeiras horas deste novo-velho dia, confirma-se que Pavarotti se finou de facto, vitimado por um câncro no pâncreas. Quase-quase a adormecer, enquanto apago a luz, ouço a sua magnífica voz: - Ri-te palhaço, ri-te...