Aquilo que pode servir de modelo, tudo o que pode ou deve ser imitado, facto de que se tira ensinamento ou proveito, frase de outrem que se menciona para apoiar uma opinião, confirmar uma regra ou para concretizar a verdade de um dado elemento, castigo, desilusão ou desgraça que pode servir de lição, rifão, anexim, e por aí fora, inclusive no inverso das virtudes e valores tácitos, constitui genericamente o significado do vocábulo «exemplo».
O último dos exemplos que deu à luz, concertado pelas actuais testas da nação portuguesa, foi a panteação de Aquilino Ribeiro, um terrorista que na sua juventude foi preso, evadiu-se e fugiu para França. Mais tarde, segundo deixou escrito, ajudou a assassinar o rei e o princípe-herdeiro no Terreiro do Paço. Detentor pois de uma daquelas vidas que dá romance, atirou-se à escrita e revelou-se um dos mais notáveis no domínio da língua portuguesa, algo de tão belo que de modo algum corresponde aos actos tão feios das últimas décadas.
Exemplo estúpido, daqueles que começam dentro das tascas e acabam na sargeta, aconteceu num estádio de futebol à cunha e foi mostrado ao mundo inteiro através da televisão: o seleccionador da equipa portuguesa, num inopinado desaguisado entre galos eriçados, disparou um soco no rosto de um atleta polaco e lá foram todos aos empurrões para o balneário tomar um repardor banhinho nos miolos.
As desculpas públicas, tal como o soco, de imediato atingiram o cúmulo da estupidez e depois espraiaram-se como se o acidente tivesse sido apenas uma brincadeira entre meninos mal comportados.
A UEFA, instituíção «desportiva» que dará larga história assim que a bola for robotizada, puniu Filipe Scolari (o Filipão) com quatro jogos na bancada, munido de telemóvel, e uns milhares de euros que qualquer marca de relógios já desembolsou.
A Federação Portuguesa de Futebol, representada por Gilberto Madail, que é uma personalidade à tona do exemplo e quiçá tenha lido Aquilino, considerando que o castigozinho «uefeiro» é um atentado à dignidade do soco em português dado em brasileiro - soco lusófono - anuncia o recurso sobre a punição e proclama o pugilista digno do cinturão europeu, embora o «ko» não fosse consumado.